A ATUALIDADE DO CONTO: A IGREJA DO DIABO” EM RELAÇÃO AO SURGIMENTO DAS IGREJAS NEOPENTECOSTAIS
Por: Marcos Vinícius • 6/5/2018 • Ensaio • 1.471 Palavras (6 Páginas) • 775 Visualizações
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
DO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS VITÓRIA
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS
Maxwell dos Santos
A ATUALIDADE DO CONTO “A IGREJA DO DIABO” EM RELAÇÃO AO SURGIMENTO DAS IGREJAS NEOPENTECOSTAIS
VITÓRIA - ES
2017
Maxwell dos Santos
A ATUALIDADE DO CONTO “A IGREJA DO DIABO” EM RELAÇÃO AO SURGIMENTO DAS IGREJAS NEOPENTECOSTAIS
Trabalho apresentado à Profa.Dra. Andréia Penha Delmaschio, como requisito para aprovação na disciplina Pesquisa e Prática IV
VITÓRIA - ES
2017
A ATUALIDADE DO CONTO “A IGREJA DO DIABO” EM RELAÇÃO AO SURGIMENTO DAS IGREJAS NEOPENTECOSTAIS
1. Introdução
Uma das características da narrativa machadiana é a ambiguidade das personagens, impossibilitando-nos saber se elas estão inclinadas para o bem ou para o mal. Segundo Silva (2013, p.33), “a essência dos contos de Machado, se assim podemos chamar, reside, em grande parte, na análise da densidade psicológica de seus personagens e suas motivações, não necessariamente no efeito obtido através da descrição impactante do evento em si”.
Além disso, as críticas à vida burguesa, às relações sociais pautadas pela dissimulação e busca pelo dinheiro e sucesso a todo o custo, e à Igreja Católica são uma constante nos textos do Bruxo do Cosme Velho, com pitadas de ironia e pessimismo.
Bosi (2013, p.193) observa acerca do pessimismo machadiano: “Menos do que ‘pessimismo’ sistemático, melhor seria ver como suma da filosofia machadiana um sentido agudo do relativo: nada valendo como absoluto, nada merece o empenho do ódio ou do amor. Para a antimetafísica do ceticismo, a moral da indiferença”.
Este ensaio tem o objetivo analisar o conto A Igreja do Diabo e mostrar a atualidade do mesmo face ao crescimento das igrejas neopentecostais, cuja doutrina é mais flexível do que outras igrejas pentecostais clássicas e seus líderes têm um discurso que agrada e arrasta as multidões, sedentas pela resolução dos seus problemas cotidianos.
2. Sobre o conto A Igreja do Diabo
Foi publicado no ano de 1884 no livro Histórias sem data, da Editora Garnier. Naquela época, o Império estava em seus estertores, o ideário positivista ganhava adeptos, exaltando os valores republicanos e criticava a Igreja Católica, um dos esteios da Monarquia. O conto, escrito em terceira pessoa, narrador onisciente e onipresente, é dividido em quatro capítulos:
• Capítulo I – De uma ideia mirífica
• Capítulo II – Entre Deus e o Diabo
• Capítulo III – A boa nova aos homens
• Capítulo IV – Franjas e franjas.
No capítulo primeiro, fica evidente que o Diabo sente inveja, um dos sete pecados capitais cometidos pelos homens, ao querer decide fundar sua própria igreja. Ele diz:
- Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. (MACHADO DE ASSIS, 2017)
O príncipe das trevas aponta a fragilidade (ou falta de coesão) das religiões, pelas suas divisões:
E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo. (MACHADO DE ASSIS, 2017)
No capítulo segundo, o anjo caído se encontra com o Senhor e conversa com Ele acerca de seu plano, mostrando toda sua soberba. Satanás faz um deboche com o Criador, a respeito do preço que um cristão deve pagar para chegar ao céu, que é viver uma vida santa.
Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. (MACHADO DE ASSIS, 2017)
No terceiro capítulo, o Diabo desce à terra e funda sua igreja, onde tudo que Deus abomina é permitido e a anatematizar o princípio do amor ao próximo:
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada.
(…)
Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis ; não se devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regímen: “Leve a breca o próximo! Não há próximo!” A única hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra coisa mais do que o amor do indivíduo a si mesmo. (MACHADO DE ASSIS, 2017)
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