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A Analise do Poema "Reversibilidade"

Por:   •  18/9/2023  •  Trabalho acadêmico  •  3.581 Palavras (15 Páginas)  •  102 Visualizações

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Réversibilité

Charles Baudelaire

Ange plein de gaieté, connaissez-vous l'angoisse,

La honte, les remords, les sanglots, les ennuis,

Et les vagues terreurs de ces affreuses nuits

Qui compriment le coeur comme un papier qu'on froisse?

Ange plein de gaieté, connaissez-vous l'angoisse?

Ange plein de bonté, connaissez-vous la haine,

Les poings crispés dans l'ombre et les larmes de fiel,

Quand la Vengeance bat son infernal rappel,

Et de nos facultés se fait le capitaine?

Ange plein de bonté connaissez-vous la haine?

Ange plein de santé, connaissez-vous les Fièvres,

Qui, le long des grands murs de l'hospice blafard,

Comme des exilés, s'en vont d'un pied traînard,

Cherchant le soleil rare et remuant les lèvres?

Ange plein de santé, connaissez-vous les Fièvres?

Ange plein de beauté, connaissez-vous les rides,

Et la peur de vieillir, et ce hideux tourment

De lire la secrète horreur du dévouement

Dans des yeux où longtemps burent nos yeux avide!

Ange plein de beauté, connaissez-vous les rides?

Ange plein de bonheur, de joie et de lumières,

David mourant aurait demandé la santé

Aux émanations de ton corps enchanté;

Mais de toi je n'implore, ange, que tes prières,

Ange plein de bonheur, de joie et de lumières!

BAUDELAIRE, C. Réversibilité. In: ___. Les Fleurs du Mal. Paris: Éditions de La Table Ronde, 1997. s/p.

Reversibilidade

Charles Baudelaire

Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça,

Os soluços, o tédio, o remorso, as vergonhas,

E o difuso terror dessas noites medonhas

Que o peito oprimem como um papel que se amassa?

Ó Anjo de alegria, já viste a desgraça?

Ó Anjo de bondade, já viste o rancor,

As mãos em gesto aflito e as lágrimas de fel,

Quando brande a Vingança o seu apelo cruel

E de nossas virtudes torna-se senhor?

Ó Anjo da bondade, já viste o rancor?

Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios,

Que, ao longo das paredes do asilo alvadio,

Como exilados vão em passo tardio,

Movendo os lábios e buscando a luz dos círios?

Ó Anjo de saúde, já viste os Delírios?

Ó Anjo de beleza, as rugas já não viste,

Não viste o medo da velhice e este suplício

De ler esfíngico pavor do sacrifício

No olhar que outrora nos saciou a gula triste?

Ó Anjo de beleza, as rugas já não viste?

Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões,

Davi da morte se teria levantado

Sob os eflúvios de teu corpo enfeitiçado;

Mas a ti só imploro as tuas orações,

Ó Anjo de ventura e júbilo e clarões!

BAUDELAIRE, C. Reversibilidade. In: ___. As flores do Mal. Trad. Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. s/p.

ESPERANÇA ANGELICAL: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO POEMA “REVERSIBILIDADE”, DE CHARLES BAUDELAIRE

Renan Gonçalves Rocco

        Nesta dissertação, vamos analisar e interpretar o poema “Reversibilidade”, do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867). O poema que será analisado faz parte do livro As Flores do Mal (original: Les Fleurs du Mal), publicado em 25 de junho de 1857, sendo esse o único livro do autor, considerado um marco da poesia moderna e simbolista. Na segunda metade do séc. XIX, Baudelaire vivenciou a transformação de Paris numa grande capital moderna, a qual foi marcada pela ideia de progresso técnico e tecnológico. Nesse sentido, a obra poética de Baudelaire dialoga com todas as mudanças da sociedade parisiense, mas a relação estabelecida com essas transformações é tensa e conflituosa, retratando os aspectos negativos da vida na modernidade. A lírica moderna de Baudelaire trabalha com uma ideia de despersonalização do poeta, uma ruptura do “eu” biográfico do artista com o “eu” criado na poesia, que permite uma exploração temática do que não fazia parte da arte, ou seja, uma exploração de temas carregados de negatividade envoltos por uma composição racional, como a angústia, o sombrio e o obscuro. Além dos aspectos negativos, como afirma Joana Âreas em sua tese, o próprio título da obra As Flores do Mal justapõe a imagem do que é ideal (Flores) com o que é angustiante (Mal), que Baudelaire define como spleen (ÂREAS, 2009). A relação paradoxal entre o ideal e o spleen oscila ao longo de toda a obra e, também, se faz presente no poema “Reversibilidade”. Posto isso, passamos para a análise e interpretação do poema, partindo de uma consideração sobre o texto poético, tanto no tocante ao plano do metro quanto ao plano das rimas, que será seguida pela análise interpretativa das estrofes para, ao final, estabelecermos uma relação com aspectos da lírica baudelairiana.

        “Reversibilidade” é um poema que possui regularidade em sua forma, caracterizando-se como uma variação da forma fixa francesa rondó (rondeau), mais especificamente uma variação da forma rondó dobrado, ou rondeau redoublé. A forma em questão é caracterizada por ter cinco estrofes de quatro versos e uma de cinco versos, totalizando 25 versos; a variação de Baudelaire se difere apenas na distribuição dos versos no poema, pois mantém a mesma quantidade (25). Além disso, vale destacar que o rondeau redoublé apresenta a repetição individual dos primeiros versos de cada estrofe, aspecto formal que também aparece neste poema de Baudelaire. Trata-se, portanto, de um poema composto por 25 versos distribuídos em 5 quintilhas (tipo de estrofe formada por 5 versos). No plano da metrificação, a maioria das estrofes tem versos de 12 sílabas sonoras, portanto, são estrofes simples e, predominantemente, dodecassílabas. Há, nesta variação de rondó dobrado, variação do esquema rítmico devido ao acento regular entre os versos alexandrinos (acentos regulares nas 6ª e 12ª sílabas) e os versos com acentos regulares nas 4ª, 8ª e 12ª sílabas. Portanto, o esquema rítmico varia, majoritariamente, entre E. R. 12 (6, 12) e E. R. 12 (4, 8, 12). Além disso, aparecem no poema alguns versos com 11 sílabas poéticas, os quais variam o acento regular entre as 6ª e 11ª sílabas. Os outros versos hendecassílabos não possuem a mesma regularidade nas sílabas sonoras acentuadas. Vejamos como ocorre a distribuição métrica no poema:

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