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A Ausência da Sororidade

Por:   •  13/9/2019  •  Artigo  •  522 Palavras (3 Páginas)  •  224 Visualizações

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Universidade do Estado da Bahia

Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas

Literatura brasileira do século XX

Docente: Juliana Pacheco Oliveira Neves

Discente: 12

A ausência da Sororidade

BARRETO, Lima. Clara dos anjos. Disponível em:

Em Clara dos Anjos, de Lima Barreto, observou-se a ausência de sororidade[1] na relação entre as mulheres da trama. Em uma primeira instância, sendo ela a que mais se destaca nesse aspecto, está a mãe de Cassi Jones, Dona Salustiana, que pouco se comove com a situação das inúmeras mulheres com quem seu filho se envolve. A personagem, independentemente de saber que Cassi Jones se envolve em falcatruas e costuma enganar moças, até mesmo mulheres casadas, defende-o como se suas atitudes imorais, para a época, não afetassem ou mesmo destruíssem a vida  dessas mulheres, tratando, muitas delas, com desdém. Pode-se observar a afirmação no trecho: “A mãe veio descobrir-lhe a falta, que se denunciava pelo estado do seu ventre. Correu ao senhor Manuel, que não estava. Falou a Dona Salustiana e esta, empertigando-se toda, disse secamente: -Minha senhora, eu não posso fazer nada. Meu filho é maior.” (p. 26).

 Além das inúmeras faltas, a mãe de Cassi Jones reforça, agora com a protagonista da trama, Clara dos Anjos, o julgamento dela para com outras mulheres: “Chegou Dona Salustiana e cumprimentou-as com grandes mostras de si mesma. Dona Margarida, sem hesitação, contou o que havia. A mãe de Cassi, depois de ouvi-la, pensou um pouco e disse com ar um tanto irônico: -Que é a senhora quer que eu faça? – (...) -Ora, vejam vocês só! É possível admitir-se meu filho casado com esta...” (p. 130-131), as atitudes da personagem apenas fortalecem a sociedade machista, recorrente da época, em que a mulher, até por elas mesmas, eram sempre acusadas por serem ludibriadas pelos homens que faziam a linha Cassi. “- Engraçado essas sujeitas! Queixam-se de que abusaram delas... É sempre a mesma cantiga... Por acaso, meu filho as amarra, as amordaça, as ameaça com faca e revólver? Não. A culpa é delas, só delas...” ( p. 132).

Em segundo plano, a irmã de Cassi Jones, Catarina, professora gratuita de uma das presas de Cassi Jones, ainda que de forma menos intensa, pouco se preocupava com as condições das mulheres vítimas de seu irmão, colocando “panos quentes” para que a situação fosse abafada e logo esquecida, o que aconteceu quando soube que a mãe de Nair (sua aluna) havia se suicidado: “-Olhe papai, me sinto em alguma coisa culpada, porque trouxe Nair para aqui, a fim de estudar música comigo. – Depois de uma pausa acrescentou: -Que se há de fazer? É a fatalidade.” (p. 28).

Diante de toda essa observação, pode-se dizer que no livro “Clara dos Anjos”, do autor Lima Barreto, existe uma relação de distanciamento entre as mulheres, o pré-julgamento entre elas e não há o sentimento de acolhimento entre algumas personagens. Essa ausência de sororidade reafirma a hegemonia do machismo, também entre as mulheres, que era presente na sociedade da época, além de se agravar quando se tratava de mulheres negras.


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