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A DIMENSÃO VERBO-VISUAL DO GÊNERO PROPAGANDA SOB A PERSPECTIVA DIALÓGICA DO CÍRCULO DE BAKHTIN

Por:   •  5/5/2022  •  Artigo  •  4.807 Palavras (20 Páginas)  •  125 Visualizações

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MODOS ENUNCIATIVOS: UM OLHAR SOBRE TRÊS VIESES DE ACADÊMICOS

Nazaré Toscano, Nereide Toscano, Carlos Barata

João Damascena, José Leomarques[1]

RESUMO

O artigo científico é um gênero textual destinado à divulgação de pesquisa aos pares acadêmicos. Este trabalho objetiva fazer uma análise sobre três amostras desse gênero, procurando identificar os modos utilizados por seus autores para enunciar e comunicar suas personas acadêmicas. Nosso interesse é que, por derradeiro, possamos descrever como se deu a formação de uma identidade autoral acadêmica. Para tanto, utilizaremos as noções e conceitos estudados por Jean Cervoni em A enunciação (1989), visando demonstrar que à medida que o sujeito acadêmico se pronuncia, ele também produz sua identidade dentro de uma coletividade.

Palavras chave: Produção textual acadêmica. Artigo Científico. Modalizadores

ABSTRACT

The scientific article is a textual genre concerned to the transmission of knowledge derived from researches aimed to an academic community. This work intends to make an analysis upon three samples of that genre, trying to detect the ways used by their authors to enunciate and forestall their academic personas. Our interest is that, by the end of this article, we can describe how the building of an authorial academic identity was constructed. In order to achieve that, we are going to use the notions and concepts indicated by Jean Cervoni in A enunciação/L'enónciation(1989), aiming to demonstrate that at the same time as the academic subject states something, he also produces his identity in a collectivity.

Key-words:Academic Writing. Scientific Article. Modals

1. Nosso próprio viés

        Partimos do ponto de vista que o artigo científico é um gênero textual na concepção bakhtiniana do termo, ou seja, uma "estrutura relativamente estável" (BAKHTIN, 2003), utilizada para a divulgação dos interesses científico-acadêmicos.  Vemos a academia como instituição de produção e organização de conhecimento que visa servir à sociedade, isto é, não se produz conhecimento acadêmico gratuito, este tem um fim: ser útil às necessidades da sociedade. Percebemos que há inúmeros meios de transmissão do conhecimento gerado pela academia para a sociedade, mas também percebemos que a própria instituição elege um meio de comunicação interno, próprio ˗ a comunicação científica ˗, para o diz respeito à toda análise e/ou argumentação relativa a novidade do conhecimento: não  se  noticia o que já se sabe. É nesse contexto específicodo Estado brasileiro que o artigo científico seinsere, sendoregido por normas próprias de uma instituição ˗ a academia ˗ inserida em normas próprias de outra instituição ˗ o estado. Como todo gênero relativamente estável, o artigo científico possui algumas invariáveis, tais quais, introdução, objetivos, metodologia e análise do apanhado. A norma acadêmica ainda se junta a outras, como a língua culta estabelecida pela gramática normativa do coletivo. Todavia, esse quadro grupal a macronível não excluí de si outro quadro, dessa feita a micronível, individual.

        Sendo o coletivo composto de indivíduos, reconhecemos o princípio de identidade, esta entendida como sendo um "conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma pessoa ou coisa e graças às quais é possível individualizá-la" (HOUAISS, 2001, p. 1565).  Dessa maneira, não dizemos que todos os autores científicos são iguais, mas que se diferenciam; não só pela matéria abordada, mas pelo modo que eles a abordam. É aí, pois, que surge uma problemática.

        Publicar um artigo científico significa satisfazer as necessidades de uma comunidade que demanda comunicação do novo e que, por sua vez, atende as necessidades de uma comunidade maior, a sociedade, que demanda contribuições para seu desenvolvimento. Não existe outra razão de ser para a academia, instituída com o fim de promover o desenvolvimento da sociedade.  Dentro das demandas da perspectiva de um estado laico em relação à fé e arbitrariedades políticas está a exigência de que todo produto social, a produção acadêmica, por exemplo, se estabeleça em terrenos neutros, não parciais e éticos.   O acadêmico tem consciência dessas exigências - novidade relevante como critério e imparcialidade. Por outro lado, há a questão da identidade acadêmica. O sujeito se pronuncia de um lugar, em um dado momento, em determinadas circunstâncias e de uma forma simultânea que é ao mesmo tempo consensual e própria.  Além dessa consciência, o acadêmico entende que nenhuma escolha linguística é ingênua, um desproposito. A linguagem do artigo acadêmico é alicerçada na teoria, que presume uma lei de invariantes a determinados objetos. Fazer ciência é procurar averiguar e/ou comprovar o comportamento das coisas, das pessoas, do mundo.

        Mas quando se averigua ou se comprova algo, o acadêmico precisa convencer seus pares. Quando a linguagem descritiva utilizada para apresentar o fato não convence, ou quando o fato por si mesmo não tem força convencível, apela-se para a função conativa da linguagem. É necessário convencer (ARISTÓTELES, 2001) e para convencer, argumentar é preciso. No ocidente, pensar o argumento remonta as antigas culturas greco-latinas e judaico-cristãs, continua na Idade Média e chega aos nossos dias para a esfera da Linguística chamada Análise do Discurso e para duas esferas da Filosofia chamadas Lógica e Retórica. Contudo, se é necessário convenceratravés de recursos argumentativos, o acadêmico parte de um ponto que é seu ou grupal, mas obviamente não de todos. Nossa hipótese é a de que, se desvinculado da fé e de assuntospolíticos-estatais, os artigos científicos não conseguiram se desvincular do plano ideológico, uma vez que a ideologia é arbitrária, é posicionamento de um modo de ver que se quer coletivo.

        Pensamos que é possível se esboçar um perfil autoral, por conseguinte a posição ideológica dessa identidade, através do modo que o sujeito acadêmico enuncia. Esse modo, ou modalização como Cervoni nomeia (CERVONI, 1989, p. 75) é um fenômeno geral, mas uma área específica desse fenômeno são as marcas enunciativas conhecidas como modalizadores. Dentre os estudos acerca do assunto, A enunciação (1989) do francês Jean Cervoni (19?) apresenta-se como um recurso rico à nossa análise. Destarte, faremos uso das noções e conceitos apresentados por Cervoni.

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