A Denúncia de desigualdade social na obra Capitães Da Areia
Por: Maria Clara Oliveira Bellotti • 25/6/2017 • Tese • 1.575 Palavras (7 Páginas) • 1.503 Visualizações
A denúncia de desigualdade social na obra Capitães Da Areia
Por: Maria Clara O. Bellotti
Edição usada: 58º
É indiscutível a grande diferença social no Brasil, a miséria de alguns e a riqueza de outros, o livro “Capitães da Areia” de Jorge Amado trata justamente desse assunto. Na narrativa, um grupo denominado de Capitães da Areia luta pela sobrevivência através do furto. Ao longo da história o autor nos conduz a questões particularmente polêmicas, formulando uma crítica e manifestando a sua opinião.
Já é apresentado no primeiro capítulo o modo de vida dos Capitães da Areia, os meninos vivem em um trapiche abandonado em uma praia de Salvador, o lugar é descrito como ambiente quase sem teto ou chão e as paredes de madeira com mais buracos e arranhões do que parede mesmo. Algumas crianças dormiam embaixo das pontes do cais, onde já não havia mais água, só areia.
Além disso, são oferecidas diversas evidências sobre a situação da baixa sociedade. Em primeiro lugar, é anunciado que os menos afortunados não tem condições de tomar uma vacina quando uma epidemia de varíola e bexiga chegou. Do mesmo modo, eles não tem opção de tratamento, assim são isolados e despejados em um campo desconhecido para morrer. Enquanto os mais ricos tomam as vacinas e não ficam doentes.
Com o fim de expor a sua opinião, Jorge Amado apresenta dois extremos em contraste; a situação de subdesenvolvimento dos Capitães da Areia e as pessoas em torno deles e no outro lado a elite baiana. Deve se considerar, que o livro foi publicado em 1937, na época, o primeiro exemplar foi apreendido e queimado em praças públicas por autoridades do governo, por envolver forte e evidente crítica ao sistema social e político do período.
De súbito, logo no início do livro, são expostas o que se denominam as Cartas a redação, essas são trechos ou reportagens inteiras que saíram no “Jornal da Tarde”. O jornal despunha uma reportagem sobre um assalto na casa do comendador, fica claro que o jornalista tinha grande parcialidade contra as crianças ladronas, são apresentadas diversas marcas de juízo de valor. Adjetivos como “desalmado”, “molecote” ou “terrível” são atribuídos aos meninos enquanto para o neto do comendador coisas como “lindo” ou “inteligente”. Os trechos abaixo foram retirados dessa notícia e demonstram tal parcialidade:
“E tem por comandante um molecote dos seus 14 anos, que é o mais terrível de todos.” (pg 10)
“A linda criança que é Raul Ferreira” (pg 12)
“Na sua inocência, Raul ria para o malvado” (pg 12)
Por fim, cartas de uma conversa entre o secretário do chefe de polícia, o doutor juiz de menores e de uma mãe costureira da classe baixa, também foram oferecidas. O primeiro afirmava que havia lido a reportagem sobre o assalto cometido e dizia que a polícia não poderia tomar uma atitude sem a permissão do Juiz de Menores. O juiz então respondeu que o que tinha sido colocado pelo secretário era falso e a ordem emitida por ele era que a polícia capturasse os delinquentes e os colocassem no reformatório. Finalmente, a mãe da 3º classe respondeu dizendo que preferia ver o seu filho assaltando uma casa do que colocar ele em lugar como o reformatório. Logo, foi publicada uma resposta pelo diretor do reformatório esse se referiu a mulher que havia criticado a sua instituição como “mulherzinha do povo”.
Fica claro na obra a parcialidade da elite em relação aos meninos, essa classe social acredita que esse grupo é composto por crianças desalmadas, ordinárias e outros. A opinião da alta sociedade fica explícita, especialmente, nesse trecho:
“ - Isso não são crianças, são ladrões. Velhacos, ladrões. Isso não são crianças. São capazes até de ser dos Capitães da Areia… Ladrões - repetiu com nojo” (pg 73)
No momento citado, o padre leva os Capitães da Areia para o carrossel japonês onde Sem-Pernas trabalha, enquanto os meninos se divertem uma senhora vem falar com José Pedro e critica-o por andar com esse tipo de criança.
Por outro lado, o ponto de vista do que se diz a baixa sociedade também é claro. O grupo narrado tem um forte desejo de vingança, o que revela como eles se sentem em relação as pessoas com melhores condições financeiras, eles julgam que todos os pertencentes dessa classe consideram aceitável a desconsideração dos menos afortunados. O personagem Sem-Pernas é um perfeita ilustração para isso, certa vez o menino foi pego por dois policiais bêbados que o humilharam o obrigando a correr em volta de uma sala enquanto levava chicotadas, por conta disso o menino criou um sentimento de ódio.
Ao longo da narrativa essa trama de ódio propõe outra consideração relevante, Jorge Amado leva os leitores a uma ponderação sobre culpa. Mais especificamente, é levantada uma polêmica, de um lado as ações dos Capitães da Areia, essas demonstram que os meninos são criminosos, porém, também é revelada a diferença e o conflito entre classes sociais previamente apresentado, o que aponta para um culpa alheia. Sobre isso, o autor do livro expressa de modo implícito que na opinião dele o que se diz a culpa pertence ao governo e suas ações consideradas esdruxulas contra os meninos como os Capitães da Areia.
Como já dito o livro julga o sistema político da Bahia, esse apresenta duas “soluções” para crianças que são condenadas por ações criminosas: A primeira é o reformatório, instituição para meninos que diz reformar os delinquentes para que esses saiam felizes e pacíficos. O segundo recurso usado é o orfanato, organização para meninas da rua que precisam de um lar.
Fica claro que essas respostas ao crime infantil não são bem aceitas por Amado, autor do livro. O pensador apresenta fortes evidências contra as soluções apresentadas. Em primeiro lugar, a trama apresenta uma descrição do reformatório através
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