A Minha Vida de Menina
Por: melisce • 12/8/2018 • Abstract • 1.187 Palavras (5 Páginas) • 231 Visualizações
AULAS DOS LIVROS – UNICAMP - Professora Cláudia Melisce Martins
Proibida a reprodução
LIVRO – MINHA VIDA DE MENINA – 1942
HELENA MORLEY
- Helena Morley (1880 ~ 1970)
- Helena Morley: pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant.
- Nascimento: 28 de agosto de 1880 em Diamantina, Minas Gerais.
- Filha de imigrantes ingleses;
- Seu pai Felisberto Morley Dayrell (Alexandre), é de descendência inglesa, trabalhou na mineração e casou com Alexandrina Brandão (Carolina), de descendência mineira.
- A família adotou o catolicismo tradicional, entretanto, o avô de Alice era protestante (daí explica-se a implicância da menina com as normas do catolicismo e a exigência da família na educação ao estilo inglês)
- A menina rebelde cresceu respondendo às contradições do seu tempo.
- Encorajada por seu pai a escrever diariamente, a pequena Alice manteve um diário em que anotava observações sobre o mundo à sua volta.
- Estudou na Escola Normal e, em 1900, casou-se com Augusto Mario Caldeira Brant, com quem teve seis filhos.
- Minha Vida de Menina, o diário que Alice escreveu na juventude que cobre os anos de 1893 a 1895, foi publicado em livro pela autora em 1942.
- Faleceu: no Rio de Janeiro, em 20 de junho de 1970.
CONTEXTO HISTÓRICO
ESCRITA DO DIÁRIO: 1893 A 1895
- Decadência econômica e social de Diamantina-MG;
- Pós-abolição: Lei Áurea de 13 de maio de 1888;
- República recém-conquistada.
PUBLICAÇÂO DO DIÁRIO: 1942
- 2º Guerra Mundial
- Brasil: Estado Novo; Era Vargas
Minha vida de menina- Gênero textual
Gênero textual: diário
- narrativa fragmentada;
- notação cronológica;
- presença de um suposto testemunho dos fatos;
- pretende uma representação mais fiel da realidade, uma representação não ficcional;
- quem narra participou dos fatos narrados;
- narração predomina em relação à descrição;
- o autor, o narrador e o personagem central são a mesma pessoa.
ESTRUTURA DA OBRA e BASE TEMÁTICA
- Base temática: escrito entre 1893 e 1895 (precisamente de 5 de janeiro de 1893, quinta-feira, a 31 de dezembro de 1895, terça-feira) por sugestão do pai, a menina-moça Helena revela, por meio de um diário, aspectos de sua vida em Diamantina, Minas Gerais.
- Estrutura: episódios marcados pelo humor ou anedótico, histórias do cotidiano da cidade, da vida da família, da riqueza proveniente dos diamantes e das minas, das dificuldades vividas pelo pai de Helena – que não obtinha bons lucros nas escavações –, da vida escolar, entre outras.
- Não há uma linearidade narrativa, apenas uma cronologia, o livro pode ser lido aleatoriamente, sem que a leitura fique truncada ou prejudicada.
- O livro termina abruptamente, despertando a curiosidade do leitor que, de repente, fica órfão e pressente que existem muitas outras coisas a serem contadas e que foram propositalmente omitidas.
PERSONAGENS
.Helena: Personagem-narrador, inteligente, crítica, agitada, comunicativa, ambígua,prática e insubmissa. Estudante da Escola Normal, instituição responsável pela formação de professores. Seu respeito aos negros, aos mais velhos e à família e sua rigidez de conduta a tornam uma representação da mulher independente e forte.
•Carolina Morley: Mãe de Helena, abnegada, religiosa, de “riso solto”, casada por amor e responsável pela família, enquanto o marido vive nas minas.
•Alexandre Morley: Pai de Helena, representa valores ingleses. Passa boa parte do tempo na lavra, mas não consegue sucesso nas extrações. Tem a vida nos eixos somente quando lhe oferecem um emprego na Companhia Boa Vista.
•Teodora: Avó de Helena, viúva, rica, tinha negros escravizados e, com a Abolição, decide mantê-los, agora libertos, em sua chácara. Seu filho Geraldo é quem tomava conta de sua fortuna e não deixava margem para gastos "extras", como, por exemplo, auxiliar a filha, Carolina. Religiosa e defensora dos valores da Igreja, tem um carinho especial por Helena.
•Tia Madge: Inglesa, irmã de Alexandre, procura educar Helena, ensinando-lhe economia e etiqueta. Espera fazer da moça sua sucessora, para que Helena tenha independência.
•Outros personagens: Renato, irmão mais velho; Luisinha, mais nova que Helena; Nhonhô, mais novo e pouco presente na obra. São frequentes as citações a tios, parentes, vizinhos, primos e agregados.
ESPAÇO E TEMPO
- TEMPO HISTÓRICO: UM RETRATO DA VIDA PRIVADA E PÚBLICA DE DIAMANTINA (1893 A 1895)
- ENTRELAÇAMENTO DE TEMPOS: NETAS DE HELENA LEEM O DIÁRIO DA VÓ (1942); NO DIÁRIO (1893), HELENA CONVERSA COM A AVÓ, QUE RELEMBRA O PASSADO
- O TEMPO EM MINHA VIDA DE MENINA É LENTO, PREGUIÇOSO, DEMORA A PASSAR: TAL LENTIDÃO REFLETE, DE CERTA FORMA, A DECADÊNCIA DAS RIQUEZAS DA CIDADE DE DIAMANTINA
ESTILO E POSSÍVEL MOVIMENTO LITERÁRIO:
- Aproximação da linguagem escrita à fala do povo, reivindicando também uma gramática brasileira = MODERNISMO BRASILEIRO (1ª fase);
- Uso de variante linguística regional popular: Diamantina – MG
- Estilo leve e solto como deve ser o escrito de uma menina-moça.
- A narradora utiliza uma linguagem clara, precisa, sem meandros, simples e informal, com muitas passagens próximas do coloquial.
- Helena Morley ambienta seu livro no interior de Minas Gerais e registra com fidelidade a vida de Diamantina no final do século XIX, sempre usando a espontaneidade como forma de se referir a si mesma, a suas dúvidas e anseios.
- IMPORTÂNCIA DA OBRA - Diário
- Registro único, raro, de uma garota à frente de seu tempo, questionadora e crítica, mostrando-nos uma nova versão da mulher do século XIX, uma mulher que tinha consciência do seu papel na sociedade brasileira: a mulher sai dos bastidores e vira protagonista.
- Grande confessor de Helena: o diário se torna uma forma de viver o que a sociedade não permitia a mulher, viver; Helena xinga, briga, extravasa tudo o que estava sentindo, sem precisar fazer isso na realidade; é um dos caminhos percorridos pelas mulheres para chegar ao autoconhecimento;
- É um retrato da vida privada, como poucos, repleto de tipos que vão desde os escravos, os pobres, os loucos, até ao padre fofoqueiro
TEMAS:
- Consequências da abolição dos escravos na estrutura social e econômica de Minas Gerais
- Decadência econômica e social de Diamantina;
- A política voltada para interesses próprios e para os problemas do povo;
- República: troca de favores, coronelismo; voto de cabresto;
- O espaço doméstico e público da cidade de Diamantina: suas ruas, suas festas, seus costumes, sua população e sua natureza.
- A felicidade em meio à vida simples;
- As decepções, os aprendizados, as tristezas, as alegrias, as aventuras de uma adolescente no interior de Minas do final do séc. XIX;
- O papel da escola na vida de uma adolescente;
- O universo feminino ;
- O registro da mulher brasileira, constantemente em busca de identidade e de liberdade em relação aos padrões impostos pela sociedade patriarcal burguesa.
Texto com o qual se podem estabelecer relações temáticas :
Com licença poética - Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
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