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A Paráfrase O Albatroz

Por:   •  28/10/2021  •  Ensaio  •  1.604 Palavras (7 Páginas)  •  106 Visualizações

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Ana Clara Inácio dos Santos – 12687812

A IRONIA DE DRUMMOND

Nesse trabalho, objetiva-se analisar a obra “Elegia 1938” de Carlos Drummond de Andrade, apresentando também, alguns aspectos de sua biografia, e do contexto histórico em que tal poema se passa.

SOBRE O POETA

Carlos Drummond de Andrade é considerado, por muitos críticos literários, um dos maiores e principais escritores do Modernismo no Brasil. Foi também, um grande poeta, contista e cronista, representando assim, a Literatura Brasileira do século XX.

Em suas poesias, Drummond gostava de escrever sobre conflito social, família, amigos, existência humana, lembranças de sua terra natal e uma visão sarcástica do mundo. Suas obras possuem uma grande parte de pessimismo e ironia quando ele fala sobre a vida, e também possuem ligação com o meio político. Embora Drummond seja poeta, sua prosa também é muito valorizada, e ela existe em diversos gêneros: a novela, o conto, a crônica, o diário, e o ensaio. Suas obras até mesmo excederam algumas áreas específicas da literatura, e chegaram a criar fórmulas coletivizadas para questões existenciais e amorosas. Mário Faustino escreveu em 1950, quando o mineiro já era reconhecido como um grande poeta brasileiro do século XX:

“A poesia de Carlos Drummond é documento crítico de um país e de uma época (no futuro, quem quiser conhecer o ‘Geist’ brasileiro, pelo menos de entre 1930 e 1945, terá que recorrer muito mais a Drummond do que a certos historiadores, sociólogos, antropólogos e ‘filósofos’ nossos...) e um documento apologético do homem.”

O poeta se manteve ativo até sua morte (1987), com quase sessenta anos de trabalho literário. Ele presenciou duas guerras mundiais e vários outros conflitos e transformações na sociedade. Foi a partir de 1930 que suas obras começaram a penetrar o cenário brasileiro, e em 1940, com o lançamento de “Sentimento do Mundo”, Drummond traz novas abordagens principalmente sobre a sua visão social, com um grande poder de síntese já que imediatamente propõe a relação entre a subjetividade e a objetividade, o privado e o público, o afeto e a racionalidade, investigando assim, o sentimento de Drummond em relação ao mundo.

Dessa maneira, a seguir será feita uma análise do poema “Elegia 1938” do livro “Sentimento do Mundo” de Carlos Drummond de Andrade.

OS SIGNIFICADOS DA ELEGIA

Na literatura, “Elegia” significa uma poesia triste e melancólica, e assim é a poesia Elegia 1938 de Drummond. Ela descreve a rotina de uma pessoa que vive e cumpre seus deveres de maneira mecânica, ou seja, age apenas com o intuito de satisfazer as necessidades básicas, e por não poder fazer nada, aceita o mundo como é, sentindo-se pequeno. Vale ressaltar também, que 1938 é um ano antes do começo da Segunda Guerra Mundial, e um ano depois do início do Estado Novo no Brasil: a ditadura de Getúlio Vargas.

Drummond usa neste poema a segunda pessoa do singular, “tu”, como se estivesse falando consigo mesmo, muitas vezes de maneira irônica, a fim de analisar a realidade que parece completamente errada. Apesar de se tratar de uma elegia, o poema não segue a métrica grega arcaica, e sim versos livres e longos que expressam a melancolia, não possuindo rimas. É possível notar no poema, consoantes oclusivas (t e d, p e b, k e g) articuladas como se não houvesse plosão, ocupando o mesmo espaço das consoantes fricativas (f e v, s e z, ç, x e j) articuladas como se não houvesse continuidade. Sendo o poema melancólico, ele possui um tom lamentoso, saindo de uma crescente para uma decrescente de maneira que o ritmo vai “caindo”, e a sonoridade se arrasta de maneira mais lenta ao final do verso. As sílabas tônicas existentes no final dos versos são mais fracas que as do começo.

“Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,

onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.

Praticas laboriosamente os gestos universais,

sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.”

        

Pode-se observar, nessa primeira estrofe, que o eu lírico se sente perdido e inadaptado a realidade, fazendo o que deve fazer puramente por obrigação, mesmo que não se sinta encaixado no que é imposto, e estando constantemente em conflito com a realidade do mundo em que vive. “Mundo caduco” seria, aqui, uma personificação de mundo mecanizado, onde todos vivem no automático, sem ter um sentido. Apesar do fato do mundo não oferecer nenhum exemplo, nada que realmente valha a pena, o homem sendo o maior construtor do mundo, para o qual ele mesmo trabalha, sente calor, frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual, ocupando-se com trabalhos que nada lhe oferecem e que lhe privam de viver. Assim, o poema levanta questões que espantam: por que trabalhar para um sistema que se importa mais com o capital?; por que se conformar com o que todos fazem (gestos universais) se mesmo “cegamente dedicado” não se ganha nada em troca?

“Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,

e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.

À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze

ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.”

Os “heróis”, de maneira irônica, fazem apologia à virtude (apesar de inventarem guerras e matarem), à renúncia (apesar de serem vaidosos), ao sangue-frio (apesar de pregarem o ódio) e à concepção. É pregado uma coisa aos cegos trabalhadores, mas os “heróis”, fazem outra totalmente oposta já que possuem direitos e poderes que os outros não possuem, como se abrissem guarda-chuvas de bronze ou se recolhessem a sinistras bibliotecas quando à noite, se neblina. Eles nunca aceitariam ser destituídos de seus privilégios em prol do outro e impõem um discurso que tem como objetivo cegar e alienar o ser humano o máximo possível, para que seja mais fácil de enganar. São sempre os “bonzinhos” da história e idolatrados por suas virtudes, porém, são na verdade os que cometem crueldades e são na realidade covardes. Aqui, encontramos um paradoxo entre os heróis e as atrocidades cometidas por eles que se opõem da figura de um verdadeiro herói.

“Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra

e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina

e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.”

Na terceira estrofe, a impotência é explícita quando se fala sobre a única maneira de fugir da realidade. Compara-se o sono com a morte, pois dormindo, “os problemas te dispensam de morrer”. Porém, a válvula de escape é efêmera, já que, ao despertar, tudo se reinicia e volta a ser como era antes, e o ser humano, pequeno e insignificante, é posto diante de uma Grande Máquina, que seria aqui, um sistema grandioso de produção: o capitalismo. As “indecifráveis palmeiras” apenas reforçam a insignificância do homem, pois elas são distantes, indecifráveis, o que as tornam misteriosas.

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