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A Poesia de Fernando Pessoa

Por:   •  16/5/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.738 Palavras (7 Páginas)  •  203 Visualizações

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A poesia de Fernando Pessoa

A poesia é uma forma muito particular de expressar a realidade. Representá-la é algo impossível, nenhuma imagem, nenhuma palavra transmitiria ao leitor o sentido ideal que o poeta concebe, mesmo que ele, o poeta, se valha de todos os recursos de que o discurso poético dispõe: ritmo, sonoridade, imagem etc. Nunca emergirá o signo ideal.

O poema “Autopsicografia” é certamente uma alusão à intencionalidade poética de Fernando Pessoa que quis nos dizer que a matéria deste poema era, no fim de contas, uma escrita que brotava de uma psique que a si própria descobria e revelava.

Segundo Massaud Moisés¹ (1999:240), Fernando Antonio Nogueira Pessoa (1888-1935), nasceu em Lisboa, partindo, após o falecimento do pai e o segundo casamento da mãe, para África do Sul. Regressa a Portugal em 1905 fixando-se em Lisboa, onde inicia uma intensa atividade literária. Com Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e outros, esforçam-se por renovar a literatura portuguesa através da criação da revista Orfheu, veículo de novas idéias e novas estéticas.

Devido à sua capacidade de “outro - ser”, cria vários heterônimos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares, etc.), assinando suas obras de acordo com a personalidade de cada um. Colabora em várias revistas, publica em livro os seus poemas escritos em inglês e, em 1934, ganha o segundo lugar no concurso literário promovido pela Secretaria de Propaganda Nacional, com a obra Mensagem, que publica no mesmo ano. Faleceu prematuramente em 1935, deixando grande parte da sua obra ainda inédita.

A produção poética de Pessoa é marcada pelo fenômeno da heteronímia, que consiste numa estratégia autoral para abordar a questão da modernidade e da identidade do sujeito em poesia², projetando a de outros poetas, multiplicando-se em outros “eus”. A cada um de seus heterônimos, o poeta português deu vida, identidade e obra próprias.

Além dos heterônimos, Pessoa também é responsável pela criação de algumas estéticas para configurar a poesia moderna: o Paulismo, o Interseccionismo e o Sensacionismo. De acordo com Lind3, “essas estéticas e os poemas ligados a elas refletem o desejo de Pessoa em “formar escola”, como Teixeira Pascoaes tinha feito com a estética do Saudosismo.

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Tendo-se denominado como um “Super-Camões”4, e sendo considerado por alguns críticos modernos como o maior poeta de língua portuguesa, Fernando Pessoa compôs obras, tanto em prosa quanto em poesia, que assumem um caráter complexo para atribuição de sentido.

Antes de qualquer tentativa de análise da poesia de Fernando Pessoa, é interessante considerar a síntese feita por Massaud Moisés5 (1971:290) em A Literatura Portuguesa sobre a criação pessoana.

Fernando Pessoa parte sempre de preposições apenas aparentemente axiomáticas, e aparentemente porque, primeiro resultam dum longo e acurado trabalho de reflexão analítica em torno daquilo que é motivo de seus poemas; e segundo, porque contém sempre uma profunda tensão dialética que lhes destrói facilmente a fina crosta de verdade dogmática. Dentre elas algumas das quais tornadas clichês de largo uso, indispensáveis sempre que se trata de assuntos poéticos, podemos salientar as seguintes: “O Nada que é tudo”, “O que em mim sente ´sta pensando”, e uma estrofe de complexo e rico sentido como doutrina poética ou expressão da complexidade inerente à criação literária: “O Poeta é um fingidor. / Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.”.

Dentre suas criações, existem certos poemas e heterônimos que são mais conhecidos e estudados. Entre elas, da se destaque ao poema “Autopsicografia”, uma produção de Fernando Pessoa ortônimo (próprio nome). Suas primeiras criações em língua portuguesa são consideradas líricas, saudosistas, nostálgicas e nacionalistas, resultado da crise que Portugal enfrentava nesse período.

Deste modo, em se tratando do poema “Autopsicografia” devemos dar ênfase à poesia lírica, a qual está reunida em Cancioneiro (denominação dada às coletâneas de cantigas medievais) e Quadras ao gosto popular, revela-nos um poeta que retoma alguns temas, ritmos e formas tradicionais e populares do lirismo português. Em Cancioneiro encontramos desde poesias que apresentam uma reflexão sobre a própria arte poética e sobre o papel desempenhado pelo artista (“o poeta é um fingidor”).

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AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração6

O poema é datado de primeiro de abril de 1931 e, coincidência ou não, o dia primeiro de abril, que é o dia da composição, leva-nos de alguma maneira a pensar se o Poeta escondeu alguma intenção ao publicar esses versos com a data de 1 de abril, dia dos enganos. Não é proibido nem para o leitor nem para o crítico especular sobre a relação entre a data de composição e a matéria veiculada pelo próprio poema, que é centrada sobre ficção. O título de “Autopsicografia” é certamente uma alusão à intencionalidade poética de Fernando Pessoa que quis nos dizer que a matéria deste poema era, no fim de contas, uma escrita que brotava de uma psique que a si própria descobria e revelava.

A versificação é tradicional e regular. O poema está dividido em três estrofes, cada estrofe possui quatro versos escritos em redondilha maior, com rima fixa em “abab/cdcd/efef” rimas cruzadas.

Em relação à rima, nota-se que cada uma das estrofes do poema contém duas rimas diferentes, uma das quais unifica as cláusulas dos dois versos ímpares, com rima consoante, as dos dois versos pares, com rima toante. Essa característica formal contribui para a simplicidade do poema, simplicidade percebida também no plano

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