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A REPRESENTAÇÃO DA MORTE EM HOTEL ATLÂNTICO DE JOÃO GILBERTO NOLL

Por:   •  21/4/2019  •  Ensaio  •  3.715 Palavras (15 Páginas)  •  164 Visualizações

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A REPRESENTAÇÃO DA MORTE EM HOTEL ATLÂNTICO DE JOÃO GILBERTO NOLL

  Francisco das Chagas Pereira Galeno[1]

                                                                                     Maria Suely de Oliveira Lopes[2]

RESUMO

Este artigo busca discutir e analisar os vários vieses da morte, com embasamento no corpus da obra Hotel Atlântico (1989) de João Gilberto Noll, que possui uma literatura contemporânea caracterizada por um sujeito pós-moderno que vive em constante intinerância sem construir uma identidade, desta maneira não forma laços a um determinado grupo, portanto não constrói raízes aos quais possa fazer parte de um todo. A explanação da morte em Hotel Atlântico (1989) será abordada a partir da sua historicidade medieval, como era retratada desde aquela época até os tempos atuais, em consoante as suas várias representações, de modo que enxergar a complexidade dos sentimentos medo e angústia aos quais proporcionam temor e insegurança em relação à morte, à motivação que leva ao ato do suicídio, o seu viés metafórico observado de forma analítica através de cada passagem analisada e por fim a naturalidade ao qual a morte é acometida todos os seres sem exceção já que existe um prazo durabilidade corpórea. Objetivando mostrar a representação da morte na obra que é a matiz, fomentadora da problemática do personagem-protagonista de estar em constante intinerância e com aporte teórico de: Phillipe Airès, Jean Gheerbrant Chevalier, Sigmund Freud dentre outros.

Palavras-chaves:  Identidade. Morte.  Intinerância

1 INTRODUÇÃO

A temporalidade moderna possui uma literatura contemporânea ao qual o sujeito pós-moderno é caracterizado por um movimento de constante mudança em que o centro cede às margens e a homogeneidade as diferenças, mas não significa em mudar as posições, mas sim trazer as margens para o centro.

O homem contemporâneo está cada vez mais envolvido com o ritmo frenético que é causado pelo caos do cotidiano ao qual está presente em todas as classes sociais. O sujeito comum se desintegrou num fluxo de euforia intensa, fragmentada e desconexa, e que o pós-moderno descentrado já não possui a profundidade, a substancialidade e a coerência que eram as idéias e às vezes a realização do eu moderno como em Hotel Atlântico (1989) de João Gilberto Noll.

O autor de Hotel Atlântico (1989) inicia a carreira acadêmica no de 1967 na Escola de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, logo em 1969 abandonou o curso indo para o Rio de Janeiro, onde começa a trabalhar como jornalista na Folha da Manhã e Última Hora.

Noll retoma o curso de Letras na Faculdade Notre Dame, no Rio de Janeiro concluindo-o em 1979. Em 1980 publicou seu primeiro livro, O cego e a dançarino, e por esse trabalho recebeu o prêmio de Revelação do Ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte, Ficção do Ano, do Instituto Nacional do Livro e o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Em 1989 publica o romance Hotel Atlântico (1989) ao qual é reeditado em 1995.

 O livro Hotel Atlântico (1989) retrata a história de um sujeito pós-moderno sem identidade definida, pois não sabemos o seu nome, nem tão pouco a sua historicidade passada, mas no decorrer na obra revela-se ator. O personagem inicia uma viagem pelo Brasil ao qual vive em constante mudança, pois vários acontecimentos com morte o perseguem sendo a motivação para tal intinerância.

2 A PERSPECTIVA DA MORTE EM HOTEL ATLÂNTICO

2.1 Historicidade da morte

A morte é a instância da vida de uma certeza máxima, pois todos os seres um dia irão encontrá-la, seja abraçando de forma natural, retirada com as próprias forças ou por outras externas, sobretudo podendo até demorar algumas décadas, mas ela um dia nos abraçará, portanto, cabe-nos aprender aceitar a idéia de um fim vitalício já que será um futuro plenamente certo.

 Ao lermos e analisarmos a obra Hotel Atlântico (1989), percebemos os vários meandros que a morte pode nos tocar, remetendo a olhar para o nosso eu interior para uma reflexão profunda dos nossos medos de que ela demore a chegar, já que a morte mostra o fim absoluto de qualquer ser vivente como afirma Chevalier:

A morte designa o fim absoluto de qualquer coisa positivo: um ser humano, um animal, uma planta, uma amizade, uma aliança, a paz, uma época. Não se fala na morte de uma tempestade, mas na morte de um dia belo. (CHEVALIER, 1988, p.621)

A morte em Hotel Atlântico (1989) é a simbologia matiz de toda a obra no que fomenta os acontecimentos e as mudanças nas passagens transitórias da mesma, pois causa um impacto que devasta e persegue o personagem-protagonista, cujo nome nos é desconhecido, porquanto enquanto símbolo como ratifica Chevalier:

Enquanto símbolo, a morte é o aspecto perecível e destrutível da existência. Ela indica que desaparece na evolução irreversível das coisas: está ligada ao simbologismo da terra [...] Todas as iniciações atravessam uma fase de morte, antes de abrir o acesso a uma vida nova [...] (CHEVALIER, 1988, p.621).

A morte é força que completa um ciclo que juntamente com a vida da à transitividade para outros seres viventes poderem adentrar a esta terra que existimos já que se ela é o símbolo perecível e destrutível da existência, porquanto a mesma abre portas para que surjam novas vidas desta forma contribuindo para sempre existir uma renovação de seres.

Segundo o historiador francês Philippe Ariès (1989) à atitude do homem em relação à morte mudou muito longo da história, pois ela depende do contexto social e cultural que se insere. Na Idade Média havia uma familiarização com a morte porquanto quando ocorria era elevada a título de acontecimento público. Quando o moribundo pressentia que estava chegando a sua hora, recolhia-se no seu quarto com parentes e amigos pedia perdão por seus pecados e destinava os seus bens aos entes e esperava a morte chegar. Havia pouca dramaticidade ou gestos emocionais, segundo Ariès:

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