A TRABALHO FINAL TEMA: INTERTEXTUALIDADE
Por: Raquel14091981 • 21/1/2021 • Ensaio • 2.226 Palavras (9 Páginas) • 552 Visualizações
UNIVERSIDADE DE ÉVORA
Curso: Línguas e Literaturas
Cadeira: Estudos Literários II (Professora Doutora Maria Cristina Firmino)
Aluna: Raquel Osório de Oliveira G. Mourato (nº 33825)
ENSAIO – TRABALHO FINAL
TEMA: INTERTEXTUALIDADE
TÓPICOS: Sobre a Intertextualidade e a sua influência na obra literária / Considerações sobre a poética de Luiza Neto Jorge e Daniel Faria / Análise intertextual entre os poemas de Luiza Neto Jorge “ A Magnólia” e Daniel Faria “Magoa ver a Magnólia Cair acredita”
SOBRE A INTERTEXTUALIDADE E A SUA INFLUÊNCIA NA OBRA LITERÁRIA
A escrita brota através da leitura. Uma obra surge como uma manta de retalhos, uma miríade de cores e matizes da pluralidade dos mundos que nos permeiam.
A escrita de cada um é única, singular e tem cambiantes próprias, mas nunca deixa de estar entrelaçada com os universos literários que indelevelmente nos marcam e transformam. As vozes sussurradas e outras vezes gritantes dos autores que habitam em nós une-se à nossa própria voz e inevitavelmente quando escrevemos transpomos uma interioridade expressiva em uníssono, e é essa conexão que nos amplia enquanto seres humanos perante os outros e perante o mundo. A linguagem dos inúmeros autores do passado e do presente estabelece uma ponte invisível entre as margens do “eu” singular e do “eu” colectivo e é este diálogo que aflora nos interstícios da palavra, das imagens, dos símbolos e da mensagem que subliminarmente perpassa e se concretiza na obra.
“A produção de um texto sempre implica a retomada de muitos outros e depende do olhar do leitor para que se criem e recriem significações, já que este último é corresponsável por sua construção. A intertextualidade se dá, pois, tanto na produção como na recepção da grande rede cultural, de que todos participam. Escrita e leitura são faces da mesma moeda. O leitor também participa dessa ampla rede dialógica ao trazer para o texto que está lendo sua bagagem de leituras de outros textos, de variadas linguagens e diferentes gêneros.” (http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/intertextualidade)
O processo criativo engloba uma multiplicidade de factores, internos e externos, impulsivos e reflexivos, de uma visão particular (do autor) e de visões sobrepostas, mescladas e embutidas, que por entre as brumas do inconsciente assomam e ressurgem tal espectros desfocados (a multiplicidade de autores que connosco dialogam). Apesar de uma obra poética embarcar uma componente histórica e da sociedade onde se insere, ela também estabelece um diálogo que vai para além das fronteiras de identidade nacional, geográfica e cultural e assim o autor/leitor vai-se metamorfoseando, rasgando as amarras que o prendem e lançando-se num vertiginoso voo em direcção a outros firmamentos, abarcando outras perspectivas, polifonias e imagéticas.
“Qualquer texto se constrói como um mosaico de citações e é absorção e transformação de outro texto” (Kristeva, Poética nº27, p.45-53).
“Como se pode notar na constituição da própria palavra, intertextualidade significa relação entre textos. Considerando-se texto, num sentido lato, como um recorte significativo feito no processo ininterrupto de semiose cultural, isto é, na ampla rede de significações dos bens culturais, pode-se afirmar que a intertextualidade é inerente à produção humana. O homem sempre lança mão do que já foi feito em seu processo de produção simbólica.” http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/intertextualidade/)
Pode-se associar essas concepções ao estudo de Bakhtin sobre a inerente polifonia da linguagem, na medida em que todo discurso é composto de outros discursos, toda fala é habitada por vozes diversas.
http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/intertextualidade/
Proponho estabelecer tal ponte, ou as relações intertextuais entre os poemas de Daniel Faria e Luiza Neto Jorge, mas primeiramente gostaria de perscrutar os seus universos, as suas identidades na poesia, contextualizando-os de forma a compreender a sua escrita e os seus estados de espírito.
LUIZA NETO JORGE
Luiza Neto Jorge (Lisboa, 10 de Maio de 1939 — Lisboa, 23 de Fevereiro de 1989), poetiza e tradutora, escreveu grande parte da sua obra literária nas décadas de 60 e 70, marcada pelo surrealismo ( recusando o neo-realismo), sendo a sua poética um acto revolucionário, um gesto de audácia, um grito insurrecto de revolta e insubordinação, e a erotização patente e latejante que ocupa lugar na sua escrita, que surge como um corpo verbal, irrompe como denúncia num contexto de um regime castrador e mudo, o Estado Novo, desponta como participação activa também na luta feminista e vira às avessas a hipocrisia vigente da sua sociedade amordaçada através da palavra, atribuindo novas significações ou concepções a símbolos e conceitos esgotados, recriando novos significantes e significados, desnudando pudores.
Toda a escrita de Luiza Neto Jorge se constrói sobre um jogo de velocidades intensivas que inscreve o corpo na linguagem.
https://poemargens.blogspot.com/2009/04/no-jornal-do-brasil-de-23.html
Da sua escrita desprende-se imagens de intensidade feroz e por vezes violentas, evolam-se hinos de beleza e morte, versos harmoniosamente irregulares, com uma musicalidade viva e acentuada, penetrante, entrecortados por elipses, aliterações, assim como a fragmentação da sintaxe como forma de romper com a pura discursividade poética. Uma chama ardente parece crepitar na sua poética, e o sarcasmo e ironia também estão presentes no seu discurso expressivo. Impera um resgate do sujeito ou mesmo uma nova construção da consciência do indivíduo (individualização) e uma desconstrução de tradições mas em franca conexão com o mundo e com a natureza.
Atenta ao real como poucos poetas, Luiza Neto Jorge convoca todo o funcionamento dos dispositivos formais da poesia, recorrendo a todos os recursos poéticos como o virtuosismo rítmico, a rima, a aliteração, a paronímia, a anáfora, para os conjugar num único objectivo: a transgressão das abordagens convencionais poéticas da realidade. É, por isso, a intensidade do seu universo, a vários níveis, que pode caracterizá-lo: das sensações, dos vocábulos, dos ritmos, das imagens.
https://medium.com/pasmas/luiza-neto-jorge-ou-o-corpo-inenarr%C3%A1vel-faeb714e65e3
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