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A representação da figura do diabo no Auto da Compadecida

Por:   •  30/1/2017  •  Artigo  •  2.161 Palavras (9 Páginas)  •  1.506 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR – DEPARTAMENTO DE
LETRAS

RELIGIOSIDADE E A REPRESENTAÇÃO DO MAL:
GIL VICENTE E ARIANO SUASSUNA

Por


Janine Gomes Miranda

Artigo apresentado como requisito para aprovação
na disciplina de Literatura Portuguesa I

Docente: Fernanda Felisberto

NOVA IGUAÇU

2015.2


RELIGIOSIDADE E A REPRESENTAÇÃO DO MAL: GIL VICENTE E ARIANO SUASSUNA

Janine Gomes Miranda

Não há progresso sem Contrários. Atração sem repulsão, Razão e Energia, Amor e Ódio são necessários à existência Humana. (BLAKE,2000,p. 17)

Resumo: Este artigo tem como finalidade analisar as características e a representação do bem e do mal, da religiosidade,  mas principalmente da figura do diabo que está presente nas duas obras, tanto de Gil Vicente em o Auto da Feira quanto na obra de Ariano Suassuna Auto da Compadecida, cada autor vai incorporar o diabo em sua obra de maneira semelhante, mas que possui certa distinção. A pesquisa será fundamentada em Nogueira.

Palavra-chave: Auto. Religião. Representação do mal. Diabo. Igreja. Dualismo.

  1. INTRODUÇÃO

Não há como passar despercebida a semelhança entre as duas obra uma vez que a religiosidade está presente em ambas, cada um dos autores abordam a sua maneira as figuras religiosas, o dualismo, servindo-se do cristianismo como alegoria para fazer uma critica social, das injustiças e o sofrimento dos menos favorecidos no cenário sertão no caso da obra de Ariano Suassuna e em Gil vicente relacionado com a moral religiosa da época.A intenção deste artigo é focar na religiosidade, se aprofundando um pouco mais na representação do mal na literatura e como isso é abordado nos dois Auto, visto que as produções aconteceram em diferentes épocas e em diferentes cenários.

  1. A IGREJA A INTRODUÇÃO DO MAL NA CONSCIÊNCIA COLETIVA.

     O homem se encontra em meio a dois planos que regem a concepção do mundo, O Reino Divino e o Reino das Trevas. A ideia de Satã provem do cristianismo com  intenção de aquietar as consciências para garantir uma hegemonia e poder sobre o povo levando-os a sujeitar-se aos discursos eclesiásticos. Segundo Nogueira (2002) “O demônio representa a oposição fundamental dialeticamente relacionada com o ethos dominante, ao qual se opõe virtualmente, frequentemente como força de rebeldia.”

     A morte de Jesus e a não confirmação de seu retorno a terra, reconfigurou toda uma visão de que se tinha sobre a sua vitória contra o mal. Por causa disso a igreja temia o mal e começou a enxerga-lo em todos os lugares já que a visão de um Deus todo poderoso havia enfraquecido. Nogueira (2002, p 41):

O Diabo está solto... embora acreditando que Jesus havia vindo ao mundo para salvar o homem do poder do Diabo, a Igreja deixou de sustentar que ele estava totalmente vencido. Aos olhos dos Cristãos, surgia aterrorizante certeza da existência de uma conspiração sobrenatural contra o triunfo do salvador

  1. A REPRESENTAÇÃO DA FIGURA DO DIABO EM ARIANO SUASSUNA.

     A história do Auto da Compadecida se passa em universo eminentemente popular, em um contexto onde a pobreza e a injustiça prevalecem. O mal ao que parece não se encontra nas pessoas mais humildes, mas naqueles que são detentores do poder, que por meio da manipulação cometem injustiças e crueldades com os menos favorecidos.

      Ao ler o Auto da compadecida é possível perceber que o Diabo toma várias faces dentro da história, diferentes daquelas ideias encontradas na bibiblia e até mesmo no antigo imaginário popular que vão se desconstruindo e assumindo características mais próximas do sertão. O diabo segundo a religião é um ser que possui poderes limitados, suas ações dependem da aprovação do divino e só podem ser aplicadas como castigos a quem desobedece às leis de Deus.

    O cristianismo invade a obra no momento em que os mortos de Taperuá estão prestes a serem levados direto para o inferno e antes disso acabam passando por um julgamento onde estão presentes: A Compadecida (Nossa senhora), Manuel (Jesus Cristo) o Demônio e o Diabo que recebe o nome de Encourado, como uma figura que remete as características do homem sertanejo.

      Ao longo da história o Diabo vai perdendo aquela imagem de um ser poderoso e que provoca medo, assim como ele é apresentado pelo demônio:

Silêncio! Chegou a hora do silêncio para vocês e do comando para mim. E calem-se todos. Vem chegando agora quem pode mais do que eu e do que vocês. Deitem-se! Deitem-se!Ouçam o que estou dizendo, senão será pior! (p. 139)

    No momento em que Manuel se faz presente no cenário de julgamento, toda essa ferocidade, essa figura amedrontadora do Encourado vai se dissipando, e a presença de Manuel o causa certo desconforto, e isso podemos notar neste trecho da fala do Encourado:

ENCOURADO: Grande coisa esse chamego que ela [a Compadecida] faz para salvar todo mundo! Termina desmoralizando tudo. (p. 172).

    Antes mesmo da presença da Compadecida e de Manuel, João Grilo já havia rebatido uma de suas decisões, que foi levar os mortos direto paro o inferno sem que houvesse um julgamento, tendo a sua coragem testada sobre a ameaça e desconforto que a presença de Jesus Cristo provoca a sua imagem.

João Grilo: Ah! pancadinhas benditas! Oi, está tremendo? Que vergonha, tão corajoso antes, tão covardeagora! Que agitação é essa?

Encourado: Quem está agitado? É somente uma questão de inimizade. Tenho o direito de me sentir mal com aquilo que me desagrada (p. 143)

     Alguns dos argumentos usados pelo Encourado remetem a política terrena do contexto em que a obra foi escrita, principalmente no momento em que ele dá o julgamento ao Padre.

Encourado: É o que você pensa, minha safra hoje está garantida. Tudo o que eu disse do bispo pode se aplicar ao padre. Simonia, no enterro do cachorro, velhacaria, política mundana, arrogância com os pequenos, subserviência com os grandes.(p. 152)

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