ANÁLISE DO CONTO: Felicidade clandestina de Clarice Lispector
Por: maidakaka • 5/5/2018 • Resenha • 1.518 Palavras (7 Páginas) • 2.157 Visualizações
ANALISE DO CONTO: felicidade clandestina de Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920, veio para o Brasil em março de 1922, passou a infância na cidade do Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito. A mesma estreou na literatura ainda muito jovem com o romance "Perto do Coração Selvagem". Começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. A autora foi cronista do Jornal do Brasil. Entre suas obras mais importantes estão à reunião de contos em "A Legião Estrangeira" (1964), "Laços de Família" (1972), os romances "A Paixão Segundo G.H. (1964) e "A Hora da Estrela" (1977).
O conto escolhido para a analise foi felicidade clandestina, o mesmo faz parte do livro Felicidade Clandestina, lançado em 1971, que reúne 25 contos. O ponto de partida dos contos são acontecimentos banais, cujas repercussões acionam nas personagens reflexões a respeito da existência. Este conto “felicidade clandestina” trata-se de uma narrativa na 1º pessoa do singular, o enredo se passa na infância, e tem como cenário a cidade de recife onde a narradora conta um fato que lhe marcou muito, onde aborda seu desejo arrebatador pelos livros, mesmo não tendo condições de possui-los, de forma implícita o conto faz uma referencia a infância da própria autora, onde aborda o fato do seu amor pela leitura, e a impossibilidade de possuir livros, devido seu valor aquisitivo, logo o titulo refere-se à felicidade provisória que a mesma se submetia quando conseguia realizar seu desejo.
Assim, a felicidade se associa ao estranhamento, como um sentimento com o qual não se está acostumado. Nos contos de Clarice, de uma forma geral, as personagens experimentam a felicidade, mas jamais fazem isso de maneira banal. Por isso, a felicidade existe, mas clandestinamente, fora das fronteiras da normalidade.
Logo no primeiro paragrafo a narradora expõe os aspectos físicos da outra garota como negativos. “Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme...”, já na frase “Como senão bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas” a narradora demonstra que embora a outra garota fosse feia ela tinha poder aquisitivo melhor que o seu e lhe causará inveja, no mesmo instante ela ainda expõe o fato que torna a garota ainda mais superior a ela e todas as suas amigas, “possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria”. Neste aspecto ela demostra que gostaria de ter um pai dono de livraria, pois seu adentramento no ambiente dos livros lhe daria a liberdade de possui-los. No 2° parágrafo ao dizer “em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai.” Aparecem as elucidações do sujeito desejante. Que mostra a filha do dono da livraria como uma garota malvada.
No 3° parágrafo em “Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho” A autora faz mais uma vez uma projeção do comportamento da garota, mostra sua personalidade como se fosse cruel e vingativa. No trecho: “Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres.” A narradora insinua que a garota deveria odiá-la por sua aparência, e que esta era objeto de desejo da filha do dono da livraria. A narradora ainda usa a racionalização na frase: “Comigo exerceu com calma e ferocidade o seu sadismo.” Busca motivos para ações e pensamentos inaceitáveis. A autora mostra a garota como má e vingativa, para tornar aceitável a ideia de ela ser a merecedora do livro. Isso fica ainda mais evidente na frase “Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que não lia”.
No 5° parágrafo no trecho “Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.” o quão o livro era deseja e idealizado pela narradora, mostra a fantasia que ela criara em torno deste. Embora este sempre lhe escapasse com a retomada da realidade “E completamente acima de minhas posses.”. A partir do 6º paragrafo há também um cenário de enganação por parte da outra filha do dono da livraria, esta começa uma tortura psicológica para com a narradora, expresso nas frases: “Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela emprestaria”. “Ate o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia...”. Nestas duas frases a autora demostra expectativa sobre algo que não ocorreria, fato que a perturba muito.
No 7º parágrafo ocorre a primeira decepção quando a narradora diz “Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando...” Podemos observar que ela não queria acreditar na situação real, então fantasia mais uma vez. No 8° parágrafo em “Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico.” Neste parágrafo, é possível perceber que os personagens vivem o processo chamado de “epifania”, ou seja, revelação. A narradora se descobre e vê revelada uma realidade mais profunda.
No 9° parágrafo, aparece a perda da esperança contida neste trecho: “Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não
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