ASPECTOS SIMBOLÓGICOS DO CONTO “SEQUÊNCIA”
Por: kakaufontenele • 21/10/2019 • Ensaio • 4.108 Palavras (17 Páginas) • 140 Visualizações
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ASPECTOS SIMBOLÓGICOS DO CONTO “SEQUÊNCIA”
CAMOCIM – CE
2019
Eliza Kauana de Oliveira Fontenele
Francisco Evair Silva das Chagas
Marina da Silva Lopes
ASPECTOS SIMBOLÓGICOS DO CONTO “SEQUÊNCIA”
Ensaio apresentado à disciplina de Literatura Brasileira IV do curso de Letras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus Camocim, como pré-requisito para a obtenção da N2 da matéria citada.
Professor Regente: Dr. Márcio Fonseca
CAMOCIM – CE
2019
ASPECTOS SIMBOLÓGICOS DO CONTO “SEQUÊNCIA”
Eliza Kauana de Oliveira Fontenele[1]
Francisco Evair Silva das Chagas[2]
Marina da Silva Lopes [3]
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal analisar os aspectos simbológicos do conto Sequência, de Guimarães Rosa, que integra o livro Primeiras Estórias (1962). A trama do conto é aparentemente simples, porém, quando lida com mais atenção ela revela uma carga mítica e simbológica que agrega a narrativa uma polissemia de interpretações. A análise foi realizada a partir da leitura de Sequência e dos pressupostos teóricos de Faleiros (2011), Motta (1999) Nunes (1969), Rónai (2011) e outros. No final, concluímos que a simbologia empregada no em Sequência nos remete a um tema que é próprio da condição humana, que é o da busca pelo amor e também que o belíssimo e árduo trabalho com as palavras, consegue imprimir na narrativa plurissignificações ligadas a metafísica e a linguagem.
Palavras-Chave: Simbologia. Conto. Sequência. Guimarães Rosa
1 INTRODUÇÃO
Composto por 21 contos, o livro, Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa foi publicado originalmente em 1962. Sobre a obra, Bosi (2013, p. 461) pontua que há “patente o fascínio do alógico: são contos povoados de crianças, loucos e seres rústicos que cedem ao encanto de uma iluminação junto à qual os conflitos perdem todo relevo e todo sentido”.
Os contos trabalhados na obra são apresentados de maneira cíclica, pois na primeira narrativa, “As margens da alegria”, Guimarães apresenta um menino no seu processo de amadurecimento que se vê às voltas com suas descobertas e perdas. Uma realidade até então desconhecida – a visão de um peru – é descoberta e perdida em instantes simultâneos. Já em “Os cismos”, ele retoma elementos da primeira estória e apresenta o mesmo menino do primeiro texto, mas de forma mais amadurecida e experiente. Demais, Primeiras Estórias é rodeada de temas ligados à transcendência, à purificação e a elevação do espírito sobre a matéria, o que faz de sua leitura um processo de experiência. Isso é particularmente importante se destacarmos que Guimarães sofria de problemas cardiovasculares que o impediam de manter o mesmo ritmo de trabalho desde 1956 e, portanto, não podia mais se lançar a projetos tão arrojados como Grande Sertão: Veredas (MOTTA, 2011). Isso provavelmente contribuiu para a crise existencial que o fez se debruçar sobre temas metafísicos. Sobre isso, Rosa expressa em correspondência ao tradutor francês J. J. Vilard:
Muito mais que uma coleção de estórias rústicas, Primeiras Estórias, é ou pretende ser, um manual de metafísica, e uma série de poemas modernos. Quase cada palavra nele assume pluralidade de direções e sentidos. Tem de ser tomado de um ângulo poético, antiracionalista e anti-realista. Só aparentemente e enganosamente é que ele finge de simples e livrinho
singelo. (FACÓ, 1982, p.27 apud OLIVEIRA E FALEIROS, 2011, p. 86 grifo nosso)
Como não poderia deixar de ser, o jogo de linguagem se faz presente nas entrelinhas dos contos, engendrando aspectos simbológicos que os conduz a plurissignificação, isso ocorre principalmente porque os “espaços desertos são povoados pelos devaneios da imaginação” (RÓNAI, 2011, p. 27). Levando em consideração todos os fatos supracitados, o principal objetivo deste trabalho é analisar os aspectos simbológicos de Sequência, décimo conto do livro Primeiras Estórias. Ressalva-se que focamos em três aspectos: A simbologia da vaca vermelha, a simbologia do tempo e do espaço e a simbologia da travessia do Senhor-moço.
2 “SEQUÊNCIA”: ENRENDO E CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O décimo conto do livro Primeiras Estórias, expõe a partir de um narrador onisciente a estória de uma rês fuja que foi vendida para um fazendeiro, seu Rigério, dono da fazenda Pedra, mas que abandona a propriedade para retornar à sua antiga morada, a fazenda Pãodolhão: “a vaquinha se fugira, da Pedra, madrugadamente — entre o primeiro canto dos melros e o terceiro dos galos [...]. Fazia parte de um gado, transportado, de boiadeiros, gado de coração ativo. Viera do Pãodolhão — sua querência” (ROSA, 2001, p. 90). Durante a viagem, tanto a vaca quanto o jovem enfrentam caminhos tortuosos, rios, cercas, e outras dificuldades.
Seo Rigério, ao saber da fuga interpela os filhos a fim de resgatar a vaquinha, mas somente um deles se dispõe a tal empreitada, o Senhor-moço, que pondo-se a cavalo sai em busca do animal: “Só um dos filhos, rapaz, senhor-moço, quis-se, de repente, para aquilo: levar em brio e tomar em conta. Atou o laço na garupa [...] Pôs-se a cavalo” (ibid, 2001, p. 90). Perseguindo-a, o jovem filho de Seu Rigério traspõe todos os obstáculos que encontra até que, induzido pelos caminhos que a vaca o levou a trilhar, chega à Pãodolhão, onde conhece a filha de Major Quitério, por quem se apaixona e é correspondido.
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