Artigo Ensaio sobre a cegueira
Por: Thalia Borges • 13/4/2024 • Artigo • 1.019 Palavras (5 Páginas) • 109 Visualizações
RESUMO: O artigo explora as profundezas da obra “Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago, destacando tal cegueira como uma metáfora para inúmeros tipos de isolamentos na sociedade contemporânea. É realizado uma análise sobre a construção de um cenário epidêmico na história e as características e recursos literários que enriquecem a experiência literária.
PALAVRAS CHAVES: Individualismo; Cegueira; População; José Saramago; Sociedade
Moderna; Epidemia.
Introdução
Em “Ensaio Sobre a Cegueira”, José Saramago, por meio da epidemia de cegueira, alude à dificuldade das pessoas em adotar uma postura empática, bem como, à fragilidade dos laços afetivos na sociedade moderna.
O autor propõe uma leitura dificultosa, contribuindo para causar a sensação de sofrimento no leitor, semelhante ao sofrimento dos cegos. Essa atmosfera é fortalecida por diversos recursos literários, tais como a perda da noção de tempo e espaço, a falta de identificação nos diálogos, os parágrafos longos e o fluxo de pensamento. Dessa forma,
Saramago fortalece a mensagem e constrói uma simbologia robusta.
Desenvolvimento
O filósofo Zygmunt Bauman aponta que a modernidade baseada no consumismo e no individualismo produz indivíduos com laços afetivos fragmentados e, portanto, incapazes de se colocarem no lugar do próximo. Tal ideia se reflete em toda a sociedade e permeia a obra de Saramago, principalmente na forma como as autoridades lidam com a epidemia, isolando todos os “infectados”, em vez de proporcionar-lhes um tratamento, também, no completo individualismo e consequente desordem que imperam no manicômio.
“O Governo lamenta ter sido forçado a exercer energicamente o que considera ser seu direito e seu dever, proteger por todos os meios as populações na crise que estamos a atravessar, quando parece verificar-se algo de semelhante a um surto epidêmico de cegueira, provisoriamente designado mal-branco, e desejaria poder contar com o civismo e a colaboração de todos os cidadãos para estancar a propagação do contágio (...). A decisão de reunir num mesmo local as pessoas infectadas, e, em local mais próximo, mas separado, as que com elas tiveram algum tipo de contacto, não foi tomada sem séria ponderação.”
(Saramago, 2008, p.49-50).
Posteriormente, o Governo se mostrou completamente negligente em relação aos cegos, como foi mostrado no episódio da morte do cego ladrão, o qual foi morto pelas autoridades. No entanto, a desordem não decorria somente das autoridades. Disputas de poder, roubos de comida, desorganização, desrespeito, brigas e até estupro ocorreram lá dentro. Tal caos resultou no incêndio do manicômio.
À luz de Bauman, as situações supracitadas são decorrentes da ausência da empatia, na medida em que o individualismo gera uma competição generalizada e antecede o caos social. No contexto da obra, os cegos simbolizam a indiferença ao próximo, contrastando com a mulher do médico, que, observava tudo, tentava organizar as pessoas, auxiliava àqueles que precisavam de ajuda, mas sem impor nada, afinal, acreditava que não podia sobrepor a eles, uma vez que todos estavam cegos, exceto ela. Por meio dela, Saramago insere um elemento redentor na narrativa.
Em certos contextos da atualidade, observa-se um paradoxo acerca da individualidade, ou seja, os sujeitos ficam absortos em si e valorizam isto, ao passo que buscam se relacionar com o outro, a fim de suprir certas necessidades, por vezes momentâneas. No livro, o próprio autor não nomeia o local em que ocorre e nem mesmo os personagens, trazendo a ideia de que, relacionada ao egoísmo e falta de empatia das pessoas, isso pode acontecer em qualquer lugar e com qualquer sujeito, se referindo assim a uma população que já está cega de qualquer forma, enxergando somente aquilo que é do seu interesse.
“Cegueira
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