As grandes Teorias da Linguística - Capítulo IV - Ferdinand Saussure
Por: SolXavier • 15/9/2019 • Resenha • 1.362 Palavras (6 Páginas) • 754 Visualizações
Resenha crítica referente ao quarto capítulo do livro: As Grandes Teorias da Linguística: da gramática comparada à pragmática.
CAPÍTULO 4 – FERDINAND SAUSSURE: A teorização da linguística moderna.
O quarto capítulo apresenta a ruptura teórica promovida pelo pensamento de Saussure e suas concepções apresentadas na obra intitulada Curso de Linguística Geral, publicada postumamente a partir das anotações dos estudantes que tinham participado dos cursos entre 1906 a 1911.
O capítulo inicia com uma citação de Saussure apontando as contribuições sobre o estudo da língua como objeto abstrato, produzindo efeitos de desconstrução do sujeito psicológico livre e consciente que reinava na reflexão da filosofia e das ciências humanas nascentes no século XIX.
O curso de Linguística Geral (CLG) aparece como texto fundador da linguística moderna, repousando sobre o estudo da língua como sistema. Além disso, até hoje a obra possui um estatuto emblemático e constitui o fundamento do ensino da linguística. O CLG constitui o que se pode chamar de “corte epistemológico”, rompendo com a linguística comparatista de sua época.
Os conceitos propostos por Saussure foram largamente explorados pela corrente estruturalista, sendo consagrado “pai do estruturalismo”. Paveau e Sarfati exploram o texto original da edição de Bally e Séchehaye e também a versão estabelecida a partir do caderno de notas de um estudante do curso sobre o título Troisième Cours de Linguistique Générale (TCLG), além disso, os autores exploram elementos provenientes dos Écrits de Linguistique Générale (ELG).
No CLG, Saussure estabelece as tarefas da linguística argumentando que sua utilidade seria fornecer ferramentas de observação suficientemente gerais e precisas para serem utilizadas por todos aqueles que estão interessados na língua.
Os fatos da linguagem não são exteriores à experiência humana, mas fazem parte dela, porque a linguagem é uma atividade do homem e o objeto da linguística é a língua e não a linguagem. A linguagem é uma faculdade humana muito mais vasta e menos específica que a língua e segundo o TCLG, é “uma faculdade que nos vem da natureza”. O CLG define a linguagem como multiforme e heteróclita, ao mesmo tempo, física e psíquica, além disso, pertence ao domínio individual e social. A língua, ao contrário, é um “todo por si” e um princípio de classificação, sendo esse “todo por si” um “sistema de signos”.
Uma das antinomias fundamentais apresentadas pelo CLG é a distinção entre língua e fala. Segundo Saussure, a língua, distinta da fala, é um objeto que se pode estudar separadamente. A linguagem é heterogênea, enquanto a língua é homogênea e constitui-se num sistema de signos onde, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e onde as partes do signo são igualmente psíquicas.
A língua é um objeto de natureza concreta, os signos linguísticos embora sendo essencialmente psíquicos, não são abstratos. Além disso, a língua é definida por Saussure como um fato social, adquirida de maneira passiva por interiorização da parte de cada um do bem comum a todos, a língua é coletiva e detida mentalmente por cada um sob a forma de marcas de natureza psíquica, enquanto as produções da fala são marcadas pela dimensão física da fonação.
Saussure distingue a linguística da língua e a linguística da fala, sendo a da língua essencial e a da fala, secundária. Em relação à língua oral e escrita, Saussure aponta como objeto de estudo da linguística a língua em suas manifestações orais, sendo contra a predominância da representação escrita, a qual chama de “tirania da letra”.
Na primeira parte do CLG, Saussure situa a teoria do signo argumentando princípios anteriormente mencionados que revelam que a língua não é um reflexo da realidade nem do pensamento, isso acontece pelo fato de que as mesmas realidades possuem nomes diferentes em diversas línguas, sendo uma prova de não-coincidência entre a língua e o mundo.
Saussure apresenta a natureza do signo, definindo a noção de signo linguístico como algo que une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica, sendo essa imagem acústica uma impressão psíquica desse som e não o som material, puramente físico. Desse modo, o signo é definido como a combinação do conceito e da imagem acústica. Posteriormente os termos conceito e imagem acústica foram substituídos por significado e significante, respectivamente.
Segundo os princípios da imutabilidade do signo, o indivíduo não pode escolher os signos, ele os herda, na sua estabilidade, justificado pelo caráter arbitrário do signo, pela multidão de signos necessários para constituir qualquer língua, pelo caráter complexo do sistema e pela resistência da inércia coletiva a toda renovação linguística.
Ainda no CLG, Saussure desenvolve dois princípios para o estudo do signo: o arbitrário do signo e a linearidade do significante. A arbitrariedade do signo se inscreve em dois debates: filosófico, da relação entre nome e a coisa; linguístico, definido por Saussure, da relação entre significante e o significado.
Em suas definições, Saussure reforça que a arbitrariedade não deve dar a ideia de que o significado dependa da livre escolha da fala, mas sim que significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. O signo é diferente do símbolo, pois no símbolo há um rudimento de laço natural entre o significante e o significado.
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