Aspectos Verbais Segundo Bagno
Por: dabrito • 22/11/2017 • Resenha • 4.124 Palavras (17 Páginas) • 376 Visualizações
RESUMO[1]
Danielly Almeida de Brito[2]
Quando se discute acerca da funcionalidade dos verbos e suas propriedades, é inevitável inicialmente retomar o conceito gramatical normativo que se aprende sobre o mesmo.
A gramática normativa diz que o verbo é a palavra que “indica” ação, estado ou processo, contudo essa conceituação limita essa classe gramatical em aspectos que não apreendem os devidos usos que o usuário da língua os atribui. Por isso, considerando como base Bagno (2011) é mais adequado definir o verbo em suas características sintáticas, semânticas e pragmáticas. Morfossintaticamente verbo é a palavra que dispõe de um radical e de sufixos próprios (raiz + vogal temática) + sufixo número-pessoal. Já a semântica a define como o termo que expressa os estados de coisas, ou seja, as ações, os estados e os eventos que precisamos dar conta quando falamos ou escrevemos. E discursivamente é a palavra que introduz participantes no texto via processo de apresentação, por exemplo, que os qualifica, via processo de predicação; que concorre para a constituição dos gêneros discursivos, via alternância de tempos e modos (BAGNO 2011 apud CASTILHO, 2010:396).
Agora que já se fez entender que o verbo assim como várias outras classes gramaticais não é um elemento simplório a ser estudado, faz-se necessário conhecer suas propriedades funcionais, ou seja, as propriedades sintático-semântico-pragmáticas. Bagno 2011, considerando outros autores afirma que o verbo cria um molde ou uma matriz que comporta espaços passiveis de serem preenchidos por sintagmas nominais, gerando sentenças completas. O número e o tipo desses espaços variam segundo o significado do verbo. O verbo também apresenta uma perspectiva, isto é, um ponto de vista a respeito de coisas enunciadas e dos participantes necessários para a efetivação de estado de coisas.
O verbo nos obriga a examinar a categoria de pessoa, pois os índices de pessoa ajudam a identificar os participantes referidos na sentença e os papeis que desempenham nela.
O verbo morfologicamente é regido por elementos como o tempo, o aspecto, o modo e voz (elementos da categoria semântica). O tempo verbal está localizado no momento da enunciação ou num momento da fala ao qual o contexto linguístico salientou. Já o aspecto indica a maneira como o falante avalia o estado de coisas descritas. E o modo expressa a “forma” que o enunciado foi proferido, isso visando atribuir ao verbo alguma intensidade maior ou menor a ação, estado, estabelecendo a intencionalidade do usuário.
A voz é um elemento que permite extrapolar a base tradicional, pois ela coloca em evidência a alternância de participantes no processo expresso pelo verbo. Ela nos faz perceber até quando há fenômenos de voz mesmo quando nas sentenças ninguém pratica uma ação ou sofre seus efeitos.
Agora, que já se foi esboçado um pouco acerca das categorias verbais, entrar-se-á de fato no estudo sistêmico de cada uma delas. O aspecto verbal informa como o falante vê a situação, o estado de coisas enunciadas, que pode ser como um evento unitário e concluído (“A cadeira caiu”) ou como um evento em processo e inconcluso (“A cadeira caía”) e também quando a ação é repetitiva (“no tempo que eu estava morando em Gramados”) e mesmo se a ação está no começo, no meio ou no fim.
A enunciação do aspecto exprime o ponto de vista do falante acerca dos eventos e/estados de coisas que ele relata, é uma apreciação que o usuário realiza sobre o momento do evento enunciativo. É importante não confundir aspecto e tempo, embora o estudo tradicional da língua nos ensine assim. O tempo são espaços “delimitados” gramaticalmente, porém o aspecto é um marcador de intencionalidade do falante/usuário, para conferir ênfase a determinado momento da proposição ou do que foi enunciado. O tempo verbal não esgota o número de expressões possíveis do aspecto, já que tempo é marcação intervalar de espaço e aspecto é uma atribuição que o falante confere a língua, que serve para realçar algum ponto que o chamou atenção do momento enunciativo ou mesmo analisar o ponto culminante (ápice, situação contida na enunciação que tem a capacidade de alterar a ação, ou fase de desenvolvimento) expresso na ação verbal.
O tempo enfatiza o caráter dêitico do tempo verbal (apontando para um momento real ou fictício) do estado das coisas referido ao longo da linha do tempo. Já aspecto é um caráter que demonstra o tempo interno da ação ou fase de desenvolvimento ou modificação da ação que se destaca sobre as demais, sem avançar nem recuar a linha do tempo.
Então, agora é interessante conhecer um pouco da tipologia do aspecto verbal. Ele é dividido em quantitativo e qualitativo, dispostos em imperfectivo, perfectivo, interativo e semelfactivo e suas devidas semi ramificações. O aspecto imperfectivo expressa uma ação parcialmente conclusa (“Eu viajava para Minas”). Já o aspecto perfectivo é a descrição de fatos acabados, concluídos, pontuais. Enquanto os imperfectivos expressão descreve situações iniciais (inceptivas), situações em andamento (cursivas) e situações perto de acabar (terminativas).
O inceptivo traduz o inicio de um evento
(116) “Foi chegando sorrateiro/ e antes que eu dissesse não/ se instalou feito um posseiro/ dentro do meu coração”. (“Teresinha”, Chico Buarque)
Cursivo traduz o prosseguimento de um evento
(117) Eu estudava num colégio que entrou em uma obra [...] (NURC/RJ/18)
Terminativos traduz a conclusão de evento
(122) levaram o dia inteiro para arrumar a canoa ... quando acabaram de arrumar... já estava na hora de vir embora...(NURC/POA/45)
Já o aspecto perfectivo, como o nome indica, é a representação da coisa pronta e acabada. Ela pode ser pontual ou resultativo.
Pontual
(135) na escola ele aprendeu rapidamente a ler... e começou a ler os livros que nós já tínhamos lido para ele, não é? (NURC/SP/360)
Resultativo
(137) Vários se tornaram juízes classistas, vários foram agraciados com benefícios, títulos, até hoje alguns, ainda restam ... (NURC/RJ/096)
Debrucemo-nos agora sobre outro elemento semântico do verbo, o modo. O modo se diferencia do aspecto precisamente por comportar um conjunto de tempos, enquanto o aspecto traduz a apreciação que o falante faz de algo que se passa num único segmento temporal. A TGP nos ensina que existem três modos verbais – indicativo, subjuntivo e imperativo – cada um deles com seus tempos. O indicativo tem presente, pretérito perfeito simples, pretérito simples, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito – além dos chamados “tempos compostos”. O subjuntivo tem presente, pretérito imperfeito e futuro, além de seus compostos. O imperativo se divide em afirmativo e negativo, são ao todo 18 tempos verbais sem incluir as forma nominais do verbo.
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