Black Mirror - Nosedive
Por: Iuri Campos • 5/5/2017 • Resenha • 800 Palavras (4 Páginas) • 1.633 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE LETRAS / DEPARTAMENTO DE LETRAS VÉRNACLUAS / SEMESTRE 2016.2 / BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES
COMPONETE CURRICULAR: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA (LETE45)
DOCENTE: PAULO HENRIQUE LOPES
DISCENTE: IURI VASCONCELOS CAMPOS SANTOS
O fenômeno da Netflix “Black Mirror”, que já está na sua terceira temporada, é uma mistura de terror contemporâneo e um pesadelo distópico. Em cada um dos seus episódios, sempre procura apresentar uma problemática numa espécie de sarcasmo exagerado ao mostrar a interação entre tecnologias e relações humanas. Essa variedade traz uma riqueza inédita e mostra como Charlie Brooker, o criador da série, ainda pode nos surpreender por muito tempo com seu olhar niilista.
Dirigido por Joe Wright, "Nosedive" é o primeiro episódio da terceira temporada da série de ficção-científica antológica britânica "Black Mirror". Ele foi escrito por Charlie Brooker, Rashida Jones e Mike Schur, e é estrelado por Bryce Dallas Howard, Alice Eve, James Norton e Cherry Jones. Nele vemos a história de Lacie (Howard), uma mulher que vive num mundo não muito distante da nossa realidade, em que o mais importante não é a felicidade, mas sim o status quo, as amizades e os “likes”.
O episódio tem um clima utópico e faz com que tudo pareça ter saído de um sonho, com suas cores suaves e combinações harmoniosas, perfeitamente organizadas em casas e mesas de trabalho. Só que tudo é perfeito demais, padronizado demais, robótico demais, um verdadeiro exagero da nossa realidade, da felicidade que só é real no Instagram, da atenção que damos a curtidas e influenciadores. O que há de diferente é que estas curtidas têm muito mais peso do que no nosso mundo, elas se assimilam com o dinheiro, e determinam, literalmente, lugares que você pode frequentar, empregos que você pode ter e pessoas com as quais você pode se relacionar. Cada uma das suas interações recebe um feedback imediato logo em seguida, então uma reação esperada pode se tornar totalmente inesperada.
Lacie, tem uma nota estável de 4.2, e vive com seu irmão Ryan (Norton). As pessoas neste mundo utilizam de lentes de contato especiais e do celular, para darem notas umas para as outras, de 1 a 5 estrelas, e quanto maior sua nota mais vantagens você terá. O que será a principal problemática dentro do episódio, isto porque o desenrolar do drama se inicia quando ela quer se mudar, e após encontrar a casa dos sonhos percebe que o aluguel é exorbitante, Lacie descobre que clientes com pontuação acima de 4,5 recebem 20% de desconto por serem influenciadores Premium. A partir daí começa a sua busca pela aprovação e boa avaliação social, buscando até ajuda profissional. Ela então, consegue contatar uma antiga amiga, a Naomie (Eve), através de foto de um boneco antigo que ela havia publicado. Namoie por sua vez, revela que irá se casar, e convida Lacie para ser sua dama de honra. Pessoas que têm notas altas estarão no casamento, o que leva Lacie a escrever um discurso capaz de emocionar os convidados, com o intuito de os persuadir a dar-lhe 5 estrelas. Mas no momento que ela sai de casa para ir ao aeroporto, tudo começa a dar errado.
A temática do episódio não poderia ser mais pertinente, causando um verdadeiro terror, mas não porque haja sustos ou monstros, e sim porque nos reconhecemos nele. É muito presente. Do mesmo modo que a protagonista do episódio finge viver uma vida cheia de riquezas, passando por cima de valores e morais ensinados desde a infância, tudo em razão do status, a nossa sociedade segue no mesmo ritmo e tudo que move essa realidade tão similar à do episódio é a indústria do consumo ligada ao falso moralismo que as redes sociais implantam, que andam atrelados e de mãos dadas, nos fazendo como marionetes e tampando nossos olhos para o senso crítico. A abordagem à esta cultura da constante exposição, faz com que o episódio escancare a fragilidade das relações e a necessidade de aprovação social. Se não fosse uma dose de exagero, “Nosedive” deixaria de ser ficção e poderia entrar na categoria documentário.
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