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Como a Analise do Discurso Atravessa a Linguistica

Por:   •  14/12/2016  •  Resenha  •  1.729 Palavras (7 Páginas)  •  325 Visualizações

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Guilherme de Moraes Martins Gomes

RA 149197

Professora Suzy Lagazzi

Como a analise de discurso atravessa a linguística?

        Para responder essa pergunta, como a analise do discurso atravessa (transpassa) a linguística, vamos começar a pensar primeiramente em como a linguística se estabelece como ciência. Esse reconhecimento da linguística como ciência se deve graças a abordagem estruturalista a partir do curso de linguística geral ministrado por Ferdinand de Saussure e publicado postumamente por seus alunos. Os estudos linguísticos até então tinham como objetivo realizar uma descrição de todas as línguas possíveis traçando uma historicidade das línguas e procurando chegar às ditas línguas-mães (protolínguas) que originaram as línguas de hoje. Assim, Saussure procura pesquisar as forças (exteriores e interiores) que agem nas línguas, deduzir leis gerais que possam referir aos fenômenos da linguagem e, ainda delimitar-se e definir-se a si própria (língua). Saussure então parece se preocupar em fazer uma descrição estruturalista que se opõem as gramaticas normativas que vinham sendo realizadas desde a Grécia Antiga, das línguas para fins históricos e tentar deduzir os processos de mudança que fizeram as protolínguas se transformarem nas línguas faladas hoje.

        Para isso Saussure passa a definir os termos na linguística, começando pela famosa dicotomia língua (Lingue) x fala(Parole). Ele conclui que a língua é um produto que o individuo registra passivamente e não é uma função do falante, enquanto a fala é um ato individual de vontade de inteligência onde se distingue as combinações que o falante utiliza para realizar o código de uma língua (no intuito de exprimir seu pensamento pessoal) e o mecanismo que lhe permite exteriorizar essas combinações. Ele coloca então a língua como um sistema fechado, como fator social, dependente de uma comunidade linguística e a fala como um fator individual inato a cada falante, histórica e ocasional. Os sistemas que Saussure categoriza como pertencentes à fala são considerados demasiadamente fluidos o que dificultaria a criação de um método padrão de estudos.

Assim diz Saussure:

        Vemos na própria definição de língua e fala que a “significação” estaria no domínio da fala, e no domínio da língua estaria o conceito de “valor” e “significado” (aquilo que designa sem ter sentido(s) determinado(s)). Assim o falante e a própria significação estariam na instancia da fala. A língua, nessa perspectiva, embora possamos considera-la como produto (linguístico) do falante e do sentido, exclui o sentido e o falante.

E ainda:

É esta possibilidade de fixar as coisas relativas à língua que faz com que um dicionário e uma gramatica possam representa-la fielmente sendo ela (a língua), o deposito das imagens acústicas, e a escrita a forma tangível dessas imagens.

        Gosto particularmente de uma passagem de Benveniste para definirmos a linguagem humana, em “comunicação animal e linguagem humana” onde ele a define diferenciando-a de um sistema comunicacional de abelhas. A questão por ele levantada no texto era se as abelhas por conseguirem transmitir algumas mensagens de onde localizar pólen através de danças tinham também uma linguagem própria ou (como é o caso) se tinham apenas um sistema de comunicação. Ele classifica então esse sistema das abelhas como tendo uma “fixidez do conteúdo, invariabilidade da mensagem, referencia a uma única situação, natureza indecomponível do enunciado e sua transmissão unilateral”. Em contrapartida da linguagem humana que se caracteriza na possibilidade de construção a partir de um grupo fechado de fonemas e regras definidas uma infinidade de enunciados e consegue a capacidade de dizer tudo.

        Trouxe essas reflexões sobre língua, fala e linguagem para pensarmos nelas como uma constituinte da outra mas não excludente. A linguagem humana é rica por conseguir criar através da língua e da fala enunciados de qualquer natureza a partir de qualquer posição sócio histórica. A análise do discurso então vai entrar na linguística tentando repensar as relações dicotômicas de língua e fala postas pelo estruturalismo de Saussure. Essa dicotomia fazia-se impossível analisar a fala que se apresentava como assistemática e desorganizada. A dicotomia proposta pela Analise do Discurso e entre língua e discurso, e ao realizar esse deslocamento, nas palavras de Eni Orlandi “o discurso desta vez é sujeito de analise de seu funcionamento, contanto que atentemos para a relação do que e linguístico com a exterioridade que o determina. No discurso temos o social e o histórico indissociados”.  Pêcheux vai classificar o discurso como efeito de sentidos entre locutores, não apenas então uma simples troca/ transmissão de informações. Com isso ele quer repensar no circuito da comunicação, não como uma coisa linear e fechada, mas como algo que é composto por todos os sujeitos do discurso ao mesmo tempo, não mais de um enunciador para um destinatário.

        A partir deste pensamento do discurso, devemos pensar nos fatores que regem esses discursos, como por exemplo as condições de produção. Essas condições são os fatores externos e sociais que colocam o sujeito numa circunstância discursiva, de enunciação,  especifica, essa situação “compreende o contexto sócio histórico, ideológico” Eni (2010). Temos então relações da linguagem com a ideologia. As palavras não podem ser tomadas como tendo um único sentido, elas não são embalagens a serem rotuladas e assim tomadas por um significado fixo porque elas não têm um sentido colado a si. Mas como Megid e Capellani (2007) dizem, o que temos é “uma sensação de evidencia dos sentidos de uma palavra”. E o que nos gera essa sensação é a própria ideologia que carregamos. O trabalho que a ideologia faz para termos essa sensação é da memoria e do esquecimento, “Da memória porque todo dizer deve estar ligado a algo que foi dito antes para fazer sentido. Do esquecimento porque o efeito de evidencia do sentido precisa se dar para que o dizer se torne possível” (idem).  Isso significa que o processo ideológico ira apagar os processos de constituições dos sentidos, construindo novas evidências para a criação dos efeitos de sentido.

        Citando Foucault em “A ordem do discurso” (1996):

Tudo se passa como se interdições, supressões, fronteiras e limites tivessem sido dispostos de modo a dominar, ao menos em parte, a grande proliferação do discurso [...] E se quisermos, não digo apagar esse temor, mas analisa-lo em suas condições, seu jogo e seus efeitos, e preciso, creio, optar por três decisões [...] que correspondem aos três grupos de funções que acabo de evocar: questionar nossa vontade de verdade; restituir ao discurso seu caráter de acontecimento; suspender, enfim, a soberania do significante.”

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