ENTENDIMENTO REFERENTE AO CURSO DE CULTURA HISPÂNICA
Por: Bruna G. Camargo • 18/11/2015 • Resenha • 1.122 Palavras (5 Páginas) • 585 Visualizações
ENTENDIMENTO REFERENTE AO CURSO DE CULTURA HISPÂNICA
Objetivos:
- Determinar os conceitos de cultura, crioulização, hibridismo, heterogeneidade, literatura migrante, transculturação.
- Determinar qual a importância de ter conhecimento cultural para compreender a literatura.
Bruna Mariane Gomes de Camargo[1]
Partindo do conceito de cultura, esta, como cita Coser, tem sido insistentemente associada ao fenômeno das migrações e deslocamentos desde as últimas décadas do século XX. E com essas migrações e consequentes hibridizações surgem os conflitos de identidade.
Pode-se perceber que a identidade depende da relação entre o que se deseja transmitir e o que é percebido. Entretanto, na margem e na fronteira é perceptível que, como aponta Mercer: “a identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza” (MERCER apud HALL, 2000, p.9).
Sendo que a formação do indivíduo depende de símbolos em que ele se reconhece e acaba sendo influenciado pelo dialogismo[2], expressando uma necessidade de ser reconhecido através deles – símbolos esses que são continuamente deslocados em função das várias identificações as quais formam o sujeito, gerando identidades múltiplas.
Um exemplo quanto a essas identidades múltiplas seria o processo de Crioulização, já que, como afirma Édouard Glissant: “Quando digo crioulização, não me refiro absolutamente à língua crioula, mas ao fenômeno que estruturou as línguas crioulas, o que não é a mesma coisa” (GLISSANT, 1996, p.29).
Mas qual seria o significado de Crioulização? Ao que se refere este vocábulo? Segundo Vianna (2010), no aspecto linguístico, seria:
[...] processo pelo qual um pidgin (língua de relação nascida do contato entre línguas europeias, asiáticas e africanas que permite a comunicação entre comunidades, mas, ao contrário do crioulo, não tem o estatuto de língua materna) torna-se crioulo.
Ou seja, é um processo linguístico que se desenvolve a partir do encontro entre povos – inicialmente envolvendo interesses comerciais – que tem construções culturais heterogêneas e complexas como produto, formadas por fluxos comunicativos, intercâmbios, hibridizações e sincretismos. Nesse sentido, Glissant (1990) corrobora ao dizer:
Nós não propomos o ser, nem modelos de humanidade. O que nos orienta não é somente a definição de nossas identidades, mas também sua relação com o todo possível: as mutações mútuas que esse gênero de relações cria. As crioulizações levam à Relação, mas não para universalizar; a ‘crioulidade’, em seu princípio, regressaria às negritudes, aos afrancesamentos, às latinidades (GLISSANT, 1990, p.103).
Isto é, a Crioulização, segundo Glissant, tem como base o princípio de que o ser humano não é uma entidade absoluta, mas um ser em constante movimento, produzindo identidades inclusivas e impregnando os costumes de povos diversificados com novas linguagens. Percebe-se, também, que esta ideia de constante movimento tem suas origens em Heráclito, que defende a fluidez através de sua máxima: “Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai.”
Glissant também defende que a crioulização é diferente da mestiçagem e da transculturação. A mestiçagem seria fruto do aspecto biológico ou racial, já a transculturação seria uma abordagem pelo conceito, enquanto que a crioulização seria uma abordagem pelo imaginário.
Ainda tendo como base o conflituoso conceito de identidade, pode-se incluir uma discussão relativo ao tema hibridismo. Tendo o Brasil e os países latino-americanos como locus, o conceito de híbrido remete à longa história de mestiçagem e sincretismo que caracteriza tanto os mitos e ideais nacionais, quanto suas mais profundas divisões e desigualdades, como afirma Coser.
Esse caráter híbrido pode ser contemplado, principalmente no período da escravatura, tanto no Brasil, quanto em outros países que passaram por este fenômeno, em que o conceito de raças era extremamente forte. Neste período o sujeito mulato, filho de um indivíduo branco e um negro, não possuía uma identidade, já que não conseguia pertencer a uma comunidade. Afinal, como cita o poema “Cross” de Langston Hughes (1902-1967): “I wonder where I’m gonna die, Being neither white nor black”.[3] Efeito esse que, de certa forma, ainda perdura até hoje por meio da desigualdade social e da perpetuação do poder da hegemonia branca.
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