Elementos da narrativa em seriados televisivos
Por: BeatrizMeurer • 2/5/2017 • Trabalho acadêmico • 7.185 Palavras (29 Páginas) • 439 Visualizações
Elementos da narrativa em seriados: análise da primeira temporada da série televisiva Once Upon a Time
Beatriz Meurer Ribeiro Fausto[1]
Aline Bittencourt Domingos[2]
Resumo
O presente artigo configura-se em pesquisa explicativa e interpretativa, bibliográfica e de abordagem qualitativa. O objetivo deste estudo é identificar a importância dos contos de fadas por meio da série Once Upon a Time, examinando-o sob a perspectiva da narrativa e levando em consideração as modificações realizadas na representação dos contos de fadas perpassados na série. Esta pesquisa é ainda responsável por apenas uma amostra que apresenta a história do desenvolvimento e evolução dos contos de fadas, sendo que, a partir destas análises, foi possível perceber que há o resgate desses contos e a necessidade de modificá-los para atrair novos admiradores. Reforça-se a ideia de que se faz necessário, portanto, um registro do que vem sendo construído, para que a história do desenvolvimento e evolução dos contos de fadas não se perca.
Palavras-chave: Narrativa. Once Upon a Time. Contos de fadas.
1 INTRODUÇÃO
O momento certo em que surgiram os contos de fadas é incerto, há registros bastante antigos que relatam que eram histórias contadas oralmente de geração a geração nas mais diversas culturas. Entretanto, a maioria desses registros aponta para a origem céltica dos contos, a literatura não é unânime nesse aspecto, mas segundo Coelho os resquícios mais longínquos provêm de séculos antes de Cristo, e apenas a partir da Idade Média foram assimilados por textos de fonte europeia, isso tornou praticamente impossível a empreitada de resgatar a forma “pura” dos contos. (COELHO, 2000).
Os celtas e outros povos orientais possuíam uma grande bagagem intelectual, não eram povos guerreiros, logo sua principal contribuição durante seu processo migratório foi difundir sua cultura, conhecimento, rituais e valores espirituais. Eram conhecidos pelos rituais ao ar livre e é nesse âmbito que surgem as primeiras figuras femininas de mulheres sobrenaturais, as quais tinham intimidade com a natureza e os cosmos, originando-se as fadas (RADINO, 2003). Na poética céltico-bretã que há a valorização da mulher, em que ela se revela poderosa, apresentando a natureza como uma religião e constituindo a comunhão entre o ser humano e o mundo sobrenatural.
O conto de fadas é de natureza espiritual/ética/existencial. Originou-se entre os celtas, com heróis e heroínas, cujas aventuras estavam ligadas ao sobrenatural, ao mistério do além-vida e visavam à realização interior do ser humano. Daí a presença da fada, cujo nome vem do termo latim “fatum”, que significa destino (COELHO, 2000, p.173, grifo da autora).
Em sua origem, os contos não eram elaborados como histórias infantis, eis que eram narrativas abarrotadas de cenas de adultério, canibalismo, incesto, mortes hediondas e outras ações que permeavam o imaginário dos adultos da época. Os contos serviam para divertir os adultos. Para Sousa (2005) os contos retratavam o destino dos homens, suas dificuldades, seus sentimentos, suas inter-relações e suas crenças no sobrenatural. As histórias eram como legados, antepassados deixavam essa tarefa para seus sucessores, ou ainda, uma simples tradição passada de geração para geração.
Com o tempo os contos começaram a ser eternizados em livros. Atualmente, com o avanço da tecnologia as histórias são transmitidas através de mídia televisiva, cinematográfica, teatros e livros digitais.
Assim como tudo o que é muito antigo sofre alterações, os contos também sofreram, perderam um pouco da essência hedionda e foram adaptados às crianças. Amas e governantas ficaram responsáveis pela árdua tarefa de narrar as histórias e perpetuá-las. Essas adaptações deram uma nova roupagem aos protagonistas e aos seus cenários, surgiram os heróis e heroínas, os animais falantes, as bruxas, os magos, os feitiços, os reinos, as florestas e tantos outros elementos que permeiam a narrativa inverossímil. No conto de fadas, tapetes voam, galinhas põem ovos de ouro, pés de feijão crescem até o céu, enfim, traz-se à tona o inverossímil, e é essa magia que instiga a mente humana (BETTELHEIM, 1980; HISADA, 2003; RADINO, 2003).
Os contos se diferenciam de outras histórias devido ao fato de serem narrativas em que os personagens enfrentam grandes desafios para, no fim, vencerem o mal. Os contos como são conhecidos hoje surgiram na Europa, mais precisamente na França e na Alemanha, no final do século XVII e XVIII. (LUBETSKY, 1989).
Muitos precursores dos contos de fada apareceram, entre eles o francês Perrault (1628-1703), os alemães Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), mais conhecidos como os Irmãos Grimm, além do poeta e novelista dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875). Alguns anos depois, destacaram-se também as importantes contribuições do inglês Lewis Carrol. Somente no final do século XIX que os contos de fadas surgiram em Portugal e no Brasil, sob o nome de Contos da Carochinha (SCHNEIDER et al., 2009).
Há muitas adaptações dos contos originais e, atualmente, além das incontáveis adequações feitas para o público infantil, agora as narrativas estão direcionadas ao público juvenil e adultos. Os enredos são cheios de ação, romance, vingança, lutas, vaidade e outros elementos do cotidiano. Dentro das animações artísticas os contos aparecem, primordialmente, nos livros e cinemas. Em 2010, o sucesso do diretor Tim Burton, Alice no País das Maravilhas, alavancou a adaptação de tais narrativas como nova proposta e não demorou muito para que outros diretores também entrassem nessa onda. Produções como “Hardwicke” (2011); “Mirror, Mirror;” “Sleeping Beauty” (2011), “The Beauty and the Beast” (2017) invadiram as telas do cinema com tramas recheadas de referências aos contos que despertam o interesse.
Os seriados tem ganho cada vez mais destaque no entretenimento, são narrativas mais extensas que os filmes, divididas em temporadas e episódios. São transmitidas pela televisão ou por outros canais de entretenimento. As séries tem um poder “viciante”, pois o desdobramento se dá em vários episódios, os quais costumam ser semanais. Once Upon a Time é uma série de televisão norte-americana baseada em Contos de fadas, estreou em 23 de outubro de 2011, transmitida pela Rede ABC, uma das maiores emissoras de televisão dos Estados Unidos.
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