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Fichamento A Paisagem Ideal

Por:   •  29/10/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.936 Palavras (8 Páginas)  •  396 Visualizações

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Universidade de Brasília.

Profª: Gislene Maria Barral Lima Felipe da Silva.

Componente Curricular: Literatura Brasileira – Barroco e Arcadismo

Aluna: Vanessa Ferreira Carneiro.            Matrícula: 14/0182373

CURTIUS, Ernst Robert. Literatura Europeia e Idade Média Latina: Cap. X: A Paisagem Ideal.

  1. Fauna e Flora Exóticas

As descrições medievais da Natureza não traduzem a realidade, fato admitido em geral no tocante à arte românica, mais sem aplicação no que se refere à literatura da mesma época. Os animais fabulosos das catedrais provêm de tecidos sassânidas. Qual a origem da fauna e flora exóticas da poesia medieval? Seria preciso antes classifica-las, e o não podemos fazer aqui. Apresentamos apenas alguns exemplos mais expressivos.

Que diremos nós, porém, se um poeta de Liège, ao renunciar o advento da primavera, declara que já rebrotaram oliveiras, videiras, palmeiras e cedros? Na Idade Média nórdica pululavam as oliveiras. Aparecem na poesia latina amorosa dos séculos XII e XIII, e, a fartar, na antiga épica francesa. De onde procedem? Dos exercícios retóricos do fim da Antiguidade. Mas, na Europa medieval, não faltam os leões. Uma epístola poética de Pedro de Pisa descreve o ambiente do Sul.

  1. Poesia Grega

Com Homero, começa a transfiguração ocidental do mundo, da terra e do homem. Tudo é governado por forças divinas. Os deuses “levam uma vida fácil”. Podem altercar, enganar e ridicularizar-se mutuamente, (como fez Hefesto com Ares e Afrodite). Para o homem heroico essa discórdia é, todavia, proveitosa: Ulisses vê-se perseguido pelo rancor de Posidônio e protegido por Atena. Só uma carregada sombra paira sobre esse mundo alegre: a fatalidade da morte. Não conhece o princípio etônico, ou pelo menos, não há demonstrações de conhecê-lo; nem o “demoníaco” com as suas terríveis ciladas, “nas quais os próprios deuses cooperam, novelo de horrores produzindo novos horrores, situações em que o irmão tem de matar o irmão, o filho tem de matar a mãe”. Homero rejeita o trágico, como aspecto fundamental da existência, tal como se manifesta na tragédia ática. Ele reflete a visão existencial de uma classe dominante de cavaleiros. O ideal do herói não é compreendido em sentido trágico; os heróis não escondem sua inquietação, a exemplo de Heitor, e a guerra é considerada um mal. A Idade Média cristã-germânica rejeitará tudo isso.

Da paisagem de Homero adotaram os pósteros alguns motivos, sólidos remanescentes de uma vasta cadeia tradicional: o sítio ideal da primavera eterna, como teatro da vida bem-aventurada depois da morte, amável nesga da Natureza, reunindo árvores, fontes e relvas; a floresta com diferentes espécies de árvores; o tapete das flores. Nos hinos aos deuses, atribuídos a Homero, encontramos esses motivos acrescidos de variantes. A campina de flores do hino a Deméter apresenta rosas, violetas, íris, açafrão, jacintos e narcisos. Mosco, em seu “epyllion” Europa (cerca de 150), ainda emprega as mesmas flores “homéricas”. Serve-se igualmente de árvores a Ilíada, para as cenas épicas.

  1. Virgílio

A poesia pastoril só se tornou sólido remanescente da tradição ocidental porque Virgílio soube adotá-la de Teócrito e desde logo transformá-la. A Sieília, desde há muito província romana, já não era uma terra de sonhos. Virgilío substituiu-a, em quase todas as suas éclogas, pela romântica e distante Aecádia, que não chegou a conhecer. Já Teócrito ocasionalmente denominara de pastores a si mesmo e a poetas amigos (Idílio VII), e Virgílio incluiu no seu mundo pastoril o próprio destino, a figura de Otaviano, a estrela de César e também a história de Roma; e, além disso, as ideias religiosas do Salvador e da época de transição. Assim em seu trabalho de estreia, preludia a sua obra principal. Quem só conhece a Eneida, não conhece Virgílio. A influencia das éclogas sobre a posteridade é pouco menos importante do que a da epopeia. Desde o primeiro século da época imperial até ao tempo de Goethe, a educação latina começou com a leitura da primeira écloga. Não é exagerada a afirmação de que falta uma chave da tradição literária da Europa a quem não saiba de cor essa pequena poesia.

Os quadros da Natureza, nas Geórgicas, pediram uma análise, a que teremos de renunciar. Da Eneida destacamos apenas duas paisagens ideais. Numa floresta “antiquíssima” e “imensurável”, são abatidos pinheiros bravos, azinheiros, freixos e olmos, para a incineração de Miseno (VI, 179 e segs.). É um dever de piedade para Enéias e uma condição de sua entrada no Tártaro. Outra condição: quebrará o ramo dourado, da árvore santa, no meio de um denso bosque, cercado por umbroso vale. A derrubada das árvores lembra-lhe isso, e abre caminho para o maravilhoso ramo. Virgílio enche a floresta de horror numinoso: lugar de passagem para o além-túmulo, como em Dante, a sua floresta selvagem é também um vale (Inf. 1, 14). Como é notório, para sir James George Frazer (1854-1941) o ramo dourado de Virgílio foi a chave da magia primitiva.

Se, agora, lançarmos um olhar retrospectivo sobre Homero, Teócrito e Virgílio e perguntarmos quais os tipos de paisagem ideal que o fim da Antiguidade e a Idade Média teriam recebido desses poetas, podem indicar-se a floresta mista e o locus amenus (com campinas de flores adlibitum). Essa herança foi esquematizada conceptualmente duas vezes: na retórica do fim da Antiguidade e na dialética do século XII. Ambos os processos operaram no mesmo sentido: no dia da intelectualização. Forma-se uma série de topoi da Natureza, claramente distintos.

Uma análise completa esclareceria essa evolução. Podemos indicar apenas algumas linhas principais.

  1. Motivos Retóricos para a Descrição da Natureza

Em seu livro Virgils epische technik (1903), Richard Heinze nega a influência de retórica sobre a Eneida. Eduard Norden, ao contrário, em sua explicação do sexto livro, publicado naquele mesmo ano de 1903, observou que no verso 638 (Devenere locos laetos...), desse livro Virgílio “descreve o bosque elísio com todos os meios artísticos dos graciosos. Para tudo o mais é, pois, importante esclarecer em que passagens e em que parte do sistema retórico podiam ocorrer indicações para a descrição de paisagens. Encontramos em primeiro lugar o discurso forense. Desde Aristóteles, a teoria das provas distingue entre provas “inartificiais” (isto é, as que o orador já encontra disponíveis, bastando emprega-las) e as “artificiais”. Estas últimas são criadas pelo próprio orador, que deverá descobri-las. Repousam na reflexão; em linguagem aristotélica, no silogismo. O silogismo retórico chama-se enthynema, em latim argumentum ( Quintiliano, V, 10, 1). Para o descobrimento dessas provas, a retórica oferece categorias gerias ou “lugares de achar”.

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