Fichamento - A Relação sujeito-predicado
Por: Danielle Siqueira • 19/12/2017 • Trabalho acadêmico • 1.791 Palavras (8 Páginas) • 637 Visualizações
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Unidade Acadêmica de Serra Talhada
Licenciatura Plena em Letras Português/Inglês
Língua Portuguesa III – Lexicologia e Semântica
Professor: Adeilson Pinheiro Sedrins
Aluna: Danielle Siqueira de Souza
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. A Relação Sujeito-Predicado. In: SEMÂNTICA. Ed. 8. São Paulo: 2006, p. 8-27.
“ [...] a oração tem sido descrita em nossas gramáticas como a união de sujeito e predicado. ” p.8
“ ‘união de sujeito e predicado’ não é uma definição perfeita de oração; muitos exemplos poderiam ser lembrados de orações em que a oposição sujeito-predicado não se aplica, como é o caso das orações construídas com verbos impessoais (1) Choveu muito. [...] e outras em que um pensamento completo se diz por meio de uma sequência de palavras a que a análise sujeito-predicado não parece aplicar-se: (3) É o fim da picada. ” p.8
“Além disso, apesar de sua aparente simplicidade, as noções de sujeito e predicado são bastante difíceis de definir: nos casos claros, o sujeito da oração reúne em si uma série de características de forma e sentido: é uma forma nominal, que precede o verbo e acarreta nele fenômenos de concordância; funciona como expressão referencial, isto é, serve para transformar em objeto de discurso uma pessoa ou objeto da realidade; identifica o assunto da oração, e nomeia quem faz a ação. Nem sempre, porém, essas características aparecem juntas em uma mesma expressão. Decidir qual seja então o sujeito torna-se um problema espinhoso [...]” p.9
“[...] ao invés de pensar a posição sujeito-predicado como uma definição de oração, convém que a pensemos como um estereótipo, um molde: esse molde corresponde de maneira satisfatória ao modo como a maioria das orações são construídas, e os casos em que sua aplicação é problemática não chegam a inutilizá-lo enquanto recurso para visualizar um dos principais processos de montagens de orações. ” p.9
“Para os estudiosos de Port-Royal, as palavras são ‘sons distintos e articulados de que os homens fizeram sinais para indicar o que se passa em seu espirito’. Não causa estranheza então que as palavras sejam classificadas, conforme correspondem a operações ou aspectos de operações mentais, em nomes, verbos, etc. Também não causa estranheza que a maior atenção seja destinada a três classes de palavras – nome, verbo e conjunção – que em última análise são tomadas como instrumento ou expressão das três operações lógicas fundamentais: conceber ideias, formular juízos e encandear juízos em raciocínios, ao passo que quase nada se diz da preposição e do advérbio, por exemplo.” p.10-11
“Port-Royal reconhece que as orações da linguagem corrente são muito diferentes entre si; há, contudo, um tipo que, por assim dizer, exibe mais claramente a estrutura dos juízos; são as orações de predicado ‘nominal’, como (8) A terra é redonda. Nessas, cada um dos termos gramaticais corresponde a um elemento distinto na estrutura abstrata do raciocínio: a terra e redonda representam duas ideias concebidas em princípio de maneira independente, e o verbo é indica que existe entre ambas uma relação de compatibilidade, ou, mais precisamente, que a ideia expressa por redonda ‘convém’ à ideia expressa por terra. ” p.11
“Todo juízo comportaria, de maneira análoga, duas ideias e uma conexão; mas essa estrutura abstrata é às vezes ocultada, na língua corrente, pelo fato de que os homens, cedendo a razões de brevidade e concisão, condensam em uma só palavra dois ingredientes do juízo, como quando dizemos (9) Pedro lê. Essa oração os autores analisariam em três partes, a saber: (9’) Pedro é leitor. ” p.11
“Port-Royal aponta o verbo como a palavra mais importante da oração, mas os verbos de ‘sentido pleno’ como chamaríamos hoje os verbos intransitivos que exprimem ação, são considerados ‘impuros’, no sentido de que incorporaram uma função de expressar ideias que não é essencial. O verbo por excelência em Port-Royal é o verbo de ligação: ele é que expressa, o fato de que a segunda ideia (predicado) convém à primeira (sujeito). ” p.12
“[...] os autores de Port-Royal formulam com absoluta clareza a distinção entra extensão e compreensão de uma ideia - extensão são todos os objetos a que uma ideia se aplica; compreensão são todas as determinações que a ideia encerra e que não podem ser-lhe retiradas sem destruí-la. ” p.12
“Conforme a extensão do nome-sujeito é considerada em sua totalidade o não, as proposições são classificadas em universais ou particulares. ” p.12
“A ideia de inclusão de classes, em Port-Royal, reduz-se inclusive a interpretação de frases construídas à base de nomes próprios (e chamadas por isso de singulares) como (13) Nero foi imperador. ” p. 13
“[...] a lógica clássica sistematiza raciocínios construídos mediante proposições de afirmam (ou negam) relações entre classes: o exemplo sempre criado a esse respeito é o famigerado raciocínio sobre a mortalidade de Sócrates:
(14) i. Sócrates é homem. (Ou seja, Todo o indivíduo que pertence à extensão de Sócrates é homem.)
ii. Todo homem é mortal.
iii. Sócrates é mortal.
Tratando-se de sistematizar raciocínios desse tipo, a análise que Port-Royal faz da relação sujeito-predicado é satisfatória [...]; isso explica por que ela conseguiu sustentar-se por tanto tempo e gerar como subproduto uma série de conceitos de que as gramáticas escolares continuam a valer-se. ” p.13-14
“O enfoque de Frege se afasta, mais do que o de Port-Royal, da estrutura gramatical das orações. [...] Em Frege, os desrespeitos à estrutura gramatical são mais frequentes e mais radicais; na realidade, mostram que para esse autor as orações têm uma estrutura semântica própria, em grande parte autônoma com respeito â estrutura gramatical. Toda Reflexão de Frege diz respeito a essa estrutura semântica, não às estruturas gramaticais tradicionais. Não admira assim que Frege chegue a uma análise de oração bastante diferente de Port-Royal, e bastante afastada das maneiras de encarar a oração. ” p.14-15
“Para explicar a interpretação de expressões como qualquer (e também todos, algum, nenhum e outras). Em suma, é indispensável imaginar que determinadas posições de uma oração são sujeitas a variação. As posições sujeitas a variação são antes de mais nada todas as posições de sintagma nominal que acompanham o verbo, sem privilégio para nenhuma delas; chega-se assim a visualizar a estrutura da oração como contendo uma expressão de caráter predicativo, mais um número especificado de posições apropriadas para serem preenchidas com nomes de pessoas ou objetos, conforme se pode visualizar nas representações (23), (24) e (25):
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