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Gêneros Emergentes da Esfera Digital e o Ensino de Língua Portuguesa

Por:   •  22/6/2021  •  Artigo  •  2.760 Palavras (12 Páginas)  •  154 Visualizações

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Gêneros emergentes da esfera digital e o ensino de Língua Portuguesa

Ariane de Oliveira Lima Gomes[1] 

Úrsula Cunha Anecleto[2]

INTRODUÇÃO

O ensino de Língua Portuguesa (LP) transformou-se em objeto de reflexão por teóricos e professores por estar vivendo um momento de transição de prática pedagógica. Uma das principais mudanças vivenciadas nas salas de aula diz respeito ao trabalho com a leitura e a escrita que, agora, também são abordadas de maneira reflexiva e crítica, possibilitando ao aluno conhecer as diversas linguagens que o rodeiam.

Nesse sentido, os alunos passaram a ter contato com um maior número de textos que circulam em sociedade e, assim, podem potencializar formas de se comunicar e de interagir com outras pessoas, através de múltiplas formas de linguagem e modalidades textuais. Devido a isso, o ensino de LP, que durante anos centrou-se em aspectos metalinguísticos, agora tem como base o texto e suas potencialidades interativas, através do trabalho com gêneros textuais e discursivos, entre eles os que circulam na esfera digital.

Desse modo, o ensino de Língua Portuguesa com os gêneros que emergem desse contexto virtual possibilita que o discente, já familiarizado com esses textos, exerça sua capacidade comunicativa, além de propiciar um maior contato com práticas de leitura, de oralidade e de escrita que fazem parte da era atual.

No entanto, para que gêneros da esfera digital possam fazer parte dos planos de ensino escolares, promovendo um webcurrículo, torna-se necessário que professores compreendam as características e as funcionalidades presentes nesses artefatos textuais e suas potencialidades para o ensino da língua. Contudo, entende-se que o trabalho com esses gêneros textuais e discursivos é um desafio para muitos docentes; porém, na atualidade, não se vê mais o aluno como um mero receptor de conhecimentos, mas um ser com novas habilidades, inclusive as relacionadas às tecnologias digitais.

A escola, então, tem um grande papel em promover essa integração das práticas textuais que fazem parte da vida cotidiana de seus alunos em suas ações de ensino. À vista disso, a proposta deste trabalho tem como enfoque discutir sobre o uso dos gêneros emergentes da esfera digital, como meio metodológica no incentivo à produção textual dos alunos. Parte-se de um estudo empírico-reflexivo, com o objetivo de perceber como ocorre o trabalho com textos da esfera digital nas aulas de Língua Portuguesa.

Como locus da investigação, escolheu-se uma escola pública do interior da Bahia, onde foram aplicados questionários com sessenta alunos do Ensino Médio, nos turnos matutino e vespertino, com a finalidade de conhecer quais práticas de leitura com textos da esfera digital são realizadas por esses alunos, tanto no contexto escolar quanto escolar. Espera-se, com este estudo, contribuir para a reflexão de professores sobre práticas de ensino de Língua Portuguesa na era atual, a partir do mapeamento de dados que os ajudem na tomada de decisões pedagógicas.

GÊNEROS EMERGENTES DA ESFERA DIGITAL E ENSINO: NOVOS CAMINHOS A TRILHAR

Gêneros textuais e discursivos são fenômenos históricos ligados à vida cultural e social dos sujeitos, os quais contribuem para organizar atividades comunicativas do dia-a-dia. Segundo Bakhtin (2003), a comunicação entre as pessoas sempre acontece através de algum gênero. Esse conceito não pode ser associado a uma noção somente textual ou pragmática, pois ele “depende muito mais do contexto comunicativo e da cultura do que da própria palavra” (MACHADO 2005, p. 158).

Além disso, definir o gênero apenas como um conjunto de traços textuais exclui o papel dos indivíduos na construção dos sentidos (BAZERMAN, 2005). Nesse sentido, os gêneros textuais e discursivos não podem ser entendidos como artefatos estagnados, pois estão sujeito a modificações que resultam das transformações vividas pela sociedade.

No processo de ensino e de aprendizagem de Língua Portuguesa, essas entidades sócio-discursivas

Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócioculturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita (MARCUSCHI, 2005, p. 19)..

Sua criação se dá a partir de diferentes esferas da sociedade em que o indivíduo circula. Eles são produtos sociais bastante heterogêneos, o que possibilita infinitas construções durante a comunicação. Erickson (2000 apud MARCUSCHI, 2005, p. 21) ressalta que

Um gênero é um padrão de comunicação criado pela combinação de forças individuais, sociais e técnicas implícitas numa situação comunicativa recorrente. Um gênero estrutura a comunicação ao criar expectativas partilhadas acerca da forma e do conteúdo da interação, atenuando assim a pressão da produção e interpretação.

Entende-se, então, que gêneros textuais e discursivos servem como meio essencial na socialização do aluno. Por isso, seu ensino nas escolas é de suma importância na formação do leitor e do escritor, que desempenha seu papel com autonomia. Sendo assim, hoje, na era da cultura digital, principalmente com o uso frequente do computador e smartphones conectados à internet nas relações interacionais, verifica-se o surgimento de diversos novos gêneros, tanto na oralidade quanto na escrita, que se constituem nos gêneros emergentes digitais.

Conforme Marcuschi (2007, p. 20), “Nos últimos dois séculos foram às novas tecnologias, em especial as ligadas à área da comunicação, que proporcionaram o surgimento de novos gêneros textuais”. Pode-se perceber que, com a ampliação de acesso à internet, surgiram novas possibilidades de interação a partir desses gêneros. Erickson (1997, p. 4 apud MARCUSCHI 2005, p.17), ao analisar esse potencial textual da atualidade, ressalta que “a interação online tem o potencial de acelerar enormemente a evolução dos gêneros.

A escola, no entanto, não deve ignorar esses artefatos textuais que fazem parte da vida dos alunos, tendo em vista que o trabalho com gêneros textuais e discursivos em sala de aula propicia maiores oportunidades de interação, o que pode promover uma maior participação dos alunos, uma vez que o discente tem a possibilidade de publicar seus textos, apresentando-se enquanto sujeitos autores.

Cabe, então, à instituição escolar, bem como aos educadores, buscarem a inserção desses gêneros textuais e discursivos em práticas pedagógicas rotineiras e no planejamento de ensino. Sair do papel e ir para uma página digital modifica a forma de navegar no texto (COSCARELLI, 2006). Uma dessas formas se constitui no hipertexto.

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