Especificidade do ensino da língua portuguesa
Abstract: Especificidade do ensino da língua portuguesa. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: 251592012 • 28/2/2014 • Abstract • 3.986 Palavras (16 Páginas) • 808 Visualizações
Resumo
Apresenta-se uma reflexão sobre dados que contribuem para a compreensão das “dificuldades
dos alunos em língua materna”, problematizando o sucesso das Metas de Aprendizagem no âmbito
das competências associadas à linguagem, em diferentes disciplinas. Destaca-se a importância do
português no processo de ensino/aprendizagem, sublinhando-se a especificidade das várias literacias
e retóricas disciplinares. As diferenças, e suas implicações, entre os usos da língua na escola e no
quotidiano, assim como as relações entre pensamento e linguagem, permitem uma tomada de
consciência crucial pois, apesar da importância atribuída ao português, constata-se que a intervenção
dos docentes é superficial e parcelar. Há pouca sensibilidade à diversidade sociolinguística dos
alunos, e os dados indiciam a desvalorização do português na construção e comunicação dos
saberes, e o desconhecimento da sua influência no desenvolvimento cognitivo. Preconizam-se, para
a operacionalização da transversalidade do português, novas atitudes e métodos de trabalho
colaborativo interdisciplinar.
Palavras-chave: Literacias; linguagem e pensamento; transversalidade do português
Abstract
We present some critical thoughts about data that contribute to the understanding of the
"difficulties” of the students in their mother tongue, questioning the success of the Learning Goals
within the competencies associated with language in different disciplines. We emphasize the
importance of Portuguese in the process of teaching and learning, underlining the specificity of the
various disciplinary literacies and rhetorics. The differences and their implications, between the uses
of language in school and in everyday life, as well as the relations between thought and language,
enable a conscious realization for, despite the importance attributed to Portuguese, it appears that
assistance from the teachers is superficial and fragmentary. There is little sensibility to sociolinguistic
diversity of students, and the data suggest the devaluation of language in the construction and
communication of knowledge; it also seems that teachers aren´t aware of the language skills influence
on cognitive development. Therefore we recommend new attitudes and methods of interdisciplinary
collaborative work for the proficient use of language across the curriculum.
Keywords: Literacies, language and thought; transverse of Portuguese
Introdução
As evidências e os argumentos que cruzam o discurso pedagógico oficial, assim como a perceção
empírica e impressionista, expressa pelos docentes, sobre a relevância da linguagem no processo de
ensino-aprendizagem, sustentam a ideia de que todos os professores podem (devem) ser
corresponsáveis pelo desenvolvimento das competências linguística e comunicativa dos alunos.
Pelas razões apontadas, é legítimo pressupor que o seu ensino devesse constituir uma preocupação
constante em todas as disciplinas. Contudo, o ensino de determinadas competências, exteriores à
esfera restrita dos conteúdos disciplinares específicos, parece não ter grande recetividade por parte
dos docentes, ou porque estes recusam essa incumbência, ou porque não se sentem competentes
para o fazer. A título meramente ilustrativo, é paradigmática a reação relatada por Hill (1991), sobre a
escrita de resumos: “Escrever resumos? Não, eu não ensino os meus alunos a escrevê-los. Eles já os
devem saber fazer quando chegam às minhas aulas” (Hill, 1991, cit. in Veiga Simão, 2004, p. 100). Português: Investigação e Ensino
Número temático - dezembro 2012
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No entanto, citando Castro (1995), “(...) todos os professores são de facto professores de
português (...)” (p. 100). Por isso, de acordo com o mesmo autor, todos os professores são
professores de língua portuguesa, ao constituírem-se como norma de determinados usos linguísticos,
através da sua própria atividade verbal e pela instauração de determinadas práticas comunicativas.
Portanto, o seu estatuto de docentes, hierarquicamente diferenciado e superior em vários âmbitos,
confere à linguagem produzida e aos seus usos um valor de referência, instituindo práticas legítimas.
Perante esta inevitabilidade, cremos que a assunção de uma postura reflexiva, diante de uma
realidade afinal incontornável, será a atitude desejável a ter por parte dos professores.
Neste contexto particular, como em outros, transversais a todo o ato de ensinar, a prática reflexiva
afigura-se fundamental para que os docentes tomem consciência dos seus hábitos e preconceitos, os
questionem e os possam transformar. Nesta linha de pensamento, Veiga Simão (2004) diz o seguinte
sobre as características de um professor reflexivo:
(...) um professor que pense em, sobre e para a acção. Isto é, um professor que reveja a
sua
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