INCLUSÃO E EXCLUSÃO: O RETORNO E A PERMANÊNCIA DOS ALUNOS NA EJA
Por: Anahzelia • 23/4/2015 • Trabalho acadêmico • 11.519 Palavras (47 Páginas) • 561 Visualizações
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INCLUSÃO E EXCLUSÃO: O RETORNO E A PERMANÊNCIA DOS ALUNOS NA EJA
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RESUMO
Neste trabalho, discutiram-se os motivos que levaram os alunos, jovens e adultos a voltar a estudar no Colégio Estadual Dr. Chafic Cury – Ensino Fundamental, Médio e Normal. Buscou-se evidenciar o que os educadores, pedagogos e gestores pensam sobre esse retorno.
Foi feita uma discussão na perspectiva da necessidade da garantia do direito à educação, dialogando com Arroyo (2003, 2007), Paiva (2007), entre outros. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e informal, apresentando um estudo de caso.
Os dados foram coletados por meio de questionários e entrevistas aplicados aos alunos, ao corpo docente e ao gestor. Observa-se que os alunos apresentam histórias parecidas , possuem famílias numerosas e devido a diversos fatores abandonaram ou foram obrigados a abandonar a escola, mas agora viram a necessidade de retornar. Enxergam a escola como uma possibilidade de ascensão social, de qualificação para alcançarem um bom emprego. Outro ponto a destacar é a necessidade de formação e valorização dos professores para lidar com esse público específico, tanto na perspectiva de formação inicial quanto na formação continuada. Os professores se veem como pessoas capazes de influenciar, se não no retorno, na permanência do aluno na escola.
INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a modalidade de Educação sobre a qual muito se tem
discutido nos últimos tempos por diversos educadores e pesquisadores. Destes, destaca-se Arroyo
(2000), que afirma que a modalidade ainda traz em sua história diversas marcas da negação.
A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional – LDB no 9394 de 1996, que configura a EJA
como uma modalidade da Educação Básica nas etapas do ensino fundamental e médio, ainda não foi
o suficiente para assegurar aos jovens e adultos uma educação atendendo às suas especificidades.
Encontramos respaldo em Arroyo quando este considera ser característica marcante do momento
vivido pela EJA “a diversidade de tentativas de configurar sua especificidade” (2007, p.19).
Desse modo, estudos são feitos com o intuito de reconhecer quem são esses jovens e adultos que
frequentam as salas da EJA em busca de formação e quais são as expectativas que esses alunos
trazem ao retornarem a escola. Foi a partir desses questionamentos que nasceu o desejo de
desenvolver essa pesquisa, para conhecer quais os motivos que determinam o retorno dos alunos à
escola. Em especial, ao grupo de alunos da EJA da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Bom
Sucesso”, município de São Mateus-ES.
Nos estudos realizados por Cosme (2009) em educação Matemática na EJA no município de São
Mateus, constatou-se que as pesquisas realizadas sobre a modalidade são de várias regiões do Brasil,
1
Aluno da Especialização em Educação Profissional Técnica Integrada na Modalidade Educação de Jovens e Adultos (PROEJA - Ifes Campus
São Mateus).
2
Doutora em Educação. Coordenadora e Professora do PROEJA, Ifes Campus Vitória. Membro do Grupo de Pesquisa PROEJA/CAPES/SETEC-
ES.
Debates em Educação Científica e Tecnológica, ISSN 2179- 6955, v. 02, no. 2, p. 61 a 76, 2012
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mas nada especificamente no município, logo essa investigação também se faz importante para
suprir essa lacuna.
Em contato por um bom tempo com os alunos da Escola municipal de ensino fundamental “Bom
Sucesso”, verificou-se que os alunos do noturno apresentavam um perfil diversificado: eram alunos
jovens e adultos, com idades variadas dos 15 aos 70 anos; alguns trabalhadores que exerciam
diferentes funções, outros tantos desempregados. Mas todos com um objetivo em comum: retornar
aos estudos.
Que para alguns foram interrompidos quando criança, para outros no semestre anterior, pois haviam
desistido meses antes do término do mesmo e para outros ainda, era devido a um convite do gestor,
que enxergou a EJA como possibilidade de melhoras para aquele aluno que não cumpria com as
exigências da escolaridade “regular” diurna.
Desse grupo que retornou à escola, duas situações me chamaram a atenção: aqueles que
frequentaram a escola quando crianças e agora depois de adultos retornavam e aqueles que, a cada
semestre, efetivavam a matrícula com o intuito de estudar, mas bastavam poucos dias ou meses de
frequência e eles desistiam.
Essas duas situações, de retorno e de continuidade e de retorno e de desistência, cada vez mais
inquietavam e assim, outros questionamentos imbricavam-se à primeira situação: Quais são os
fatores que influenciam na decisão do retorno à escola? Tem a escola um papel importante na vida
dos alunos, na concepção dos mesmos?
A ideia de que a educação é o caminho para superação dos problemas, e que através dela é possível
obter sucesso na vida, garantir o futuro, talvez seja uma das motivações de muitos alunos ao
retornarem à escola. Nesse contexto, a escola adquire um espaço significativo, com a função
reparadora da EJA, que de acordo com o Parecer CEB 11/2000:
[...] no limite que significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela
restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas
também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser
humano (BRASIL, 2000, p.7).
As expectativas dos jovens e adultos, ao chegarem à escola, são muitas. E o fato de não
permanecerem despertam questionamentos que nos levam a refletir sobre nosso papel como
educador. Será que nós professores acabamos por frustrar as expectativas dos alunos no retorno à
escola?
Paiva (2007) discute a falta de formação dos professores para essa modalidade de ensino. Segundo
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