Letra do estudo
Abstract: Letra do estudo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: bgracif • 15/4/2014 • Abstract • 556 Palavras (3 Páginas) • 303 Visualizações
18074-653 Estude Letras
Outra questão que eu acho muito grave é que os cursos de Letras rejeitam a Literatura e rejeitam aquele que faz literatura. Mais facilmente um autor sai de qualquer outro curso do que de um curso de Letras. O estudo de literatura é absolutamente culpado pela esterilização da literatura, pela incompetência do autor literário e inclusive pelo leitor e pelo mercado. A verdade é que é muito difícil um jovem interessado em literatura passar num vestibular para Letras e sair dali gostando de literatura. Isso é o que eu acho mais lastimável entre nós. Essa realmente é a nossa grande falência.
As palavras de Beatriz Rezende, crítica literária formada e ainda abrigada na universidade (é coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro), não trazem novidade para quem tem alguma vivência nesse campo, mas são marcantes pela contundência e pela clareza com que expressam um fenômeno esquisito que parece exclusivo das letras: não consta que cursos de teatro, cinema, arquitetura, artes visuais ou dança fomentem de forma sistemática o desprezo por seu objeto de estudo.
(É isso mesmo, aspirantes a letrados de todo o Brasil: na hora de escolher um curso universitário, talvez não seja má ideia ceder àquela pressão familiar por medicina ou direito, afinal.)
O tal desprezo, curiosamente, foi o pano de fundo do próprio debate sobre literatura contemporânea promovido entre Beatriz Rezende e Alcir Pécora pelo blog do Instituto Moreira Salles e pela revista “serrote”, com mediação do editor Paulo Roberto Pires (a conversa inteira, dividida em quatro vídeos, pode ser conferida aqui).
Pécora foi o responsável pelo momento mais midiático do debate ao dizer que a literatura se tornou o campo “das tias” – referindo-se ao clima de compadrio instaurado pela turma de escritores paulistanos conhecida como “Geração 90”, no vácuo deixado por uma crítica anêmica e um público leitor ausente. O que, como frase de efeito, é vagamente divertido, mas tem sabor de anteontem.
Se a literatura é uma arte esgotada, se nada de real interesse estético poderá jamais voltar a sair daí no Brasil e no mundo, como insiste Pécora, será preciso ir muito além das “provas” de decadência que ele cita: Paul Auster (!) e Bernhard Schlink (!!!!!). E também demonstrar o que há de especificamente literário numa perda generalizada de peso cultural que, tudo indica, leva todas as sete artes a se defrontarem com algum tipo de crise neste início de século.
A tarefa é monumental, mas não impossível, e talhada para o perfil de um intelectual acadêmico sério. Até lá, o niilismo literário difuso do estudioso de Hilda Hilst e Roberto Piva – “do que eu vejo no Brasil, acho tudo muito ruim, muito irrelevante” – soa apenas como desistência, nojinho ou má vontade. Exatamente aquilo cuja gênese sua colega de debate teve a coragem de situar na estufa da universidade.
O pior é saber que Pécora ainda é um dos poucos acadêmicos que se dispõem a conversar, pela imprensa, com o público situado fora da estufa. Pode-se imaginar o resto.
Frouxa e exasperante como debate intelectual, a conversa promovida pelo blog do IMS tem o mérito de confirmar que a literatura brasileira contemporânea
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