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MANINHA, DE MANEUL RUI: O Jogo Com Os gêneros E O Exercício Da Linguagem

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Por:   •  27/5/2014  •  1.453 Palavras (6 Páginas)  •  525 Visualizações

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Letras

Mestrado em Literatura de Língua Portuguesa

MANINHA, DE MANEUL RUI:

o jogo com os gêneros e o exercício da linguagem

Anderson de Moura Freitas

Belo Horizonte

2009

Anderson de Moura Freitas

(Bolsista Fapemig)

MANINHA, DE MANEUL RUI:

o jogo com os gêneros e o exercício da linguagem

Ensaio apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para aprovação na disciplina Literaturas Africanas de Língua Portuguesa: a língua literária em dispersão: prosa e poesia.

Profa. Dra. Maria Nazareth Soares Fonseca

Belo Horizonte

2009

Neste breve ensaio, pretende-se, num primeiro momento, destacar sucintamente algumas especificidades do livro Maninha: cartas optimistas e sentimentais, de Maneul Rui, sobretudo o jogo com os gêneros literários que o autor faz e o trabalho que ele tem com a linguagem. Em seguida, o objetivo é analisar uma das crônicas da obra, a primeira delas, “A carta”, procurando ver mais de perto as manobras da escrita do angolano Manuel Rui.

As cartas otimistas e sentimentais que compõem o livro são crônicas. São cartas-crônicas, escritas entre 1992–1994 e publicadas no Jornal de Angola. O gênero epistolar gera um ambiente de intimidade – em que a linguagem se constrói pelas relações íntimas entre as primas. Melhor: a linguagem constrói esse ambiente. Mas Manuel Rui juntou somente as cartas de Maninha, narradora-remetente que dá nome ao livro e que “carimba” todas as correspondências com uma assinatura dissimulada entre o irônico e o infantil: .

As cartas, marcadas por um tom íntimo e espontâneo da linguagem, têm títulos (são crônicas também) e todas vêm acompanhadas de uma espécie “insistente” e repetitiva de vinheta:

Que já é suficiente para o leitor sentir o veio irônico que as perpassa. E os títulos acrescentam, são bem sugestivos: “É bom, é nacional!”, “Viva o petróleo burro”, “Globalização”, “A festa da língua”.

Como crônicas, as cartas transitam entre a reportagem e a literatura, entre o factual e o imaginário. Elas não simplesmente informam sobre os acontecimentos atuais, como as notícias, mas procuram estimular uma reflexão sobre temas ou situações da época; no caso do Jornal de Angola, trazem questões referentes ao país – problemas sociopolíticos, linguísticos, de identidade nacional, da paz etc.

Então, pela peculiaridade do gênero crônica, que fala de/em um tempo específico, atual, talvez seja interessante dar uma pincelada sobre o contexto da época em que as crônicas circulavam publicadas no jornal, em plena década de 90, Angola. De forma bem sucinta:

• 1991 – Adoção da Lei sobre o Multipartidarismo.

• 1992 – Realização das eleições, ganhada por José Edouardo dos Santos e contestadas por Jonas Savimbi e UNITA, retornando assim às armas.

• 1994 – Assinatura dos Acordos de Paz em Lusaka, Zâmbia entre a UNITA e MPLA (Angola).

• 1997 – É constituído o Governo da unidade e reconciliação nacional.

• 1998 – Retomada da Guerra Civil.

• 1999 – Fim da missão das Nações Unidas em Angola.

Quem conhece, portanto, o contexto em que Angola estava imersa, sobretudo nos anos 90, vai ler “melhor” as cartas de Maninha.

Essa miscelânea de gêneros é muito caro a Manuel Rui. Poeta, ficcionista, crítico, consciente do valor da linguagem, ele joga com os gêneros: as cartas nos levam à intimidade, ao cotidiano da pseudoautora Maninha (GOMES, 2007, p. 33), e as crônicas (disfarçadas de cartas) nos chamam, sob a pena da ironia, para uma reflexão crítica da realidade. “O riso e a ironia são as armas com que esse escritor angolano disseca o cotidiano das gentes simples ou critica o modo de vida dos mais abastados.” (FONSECA; MOREIRA, [2008], p. 26)

A isso se soma o estilo, o trabalho peculiar que o autor empreende com a linguagem, uma escrita pautada na oralidade, bem aquilo que atualmente se denomina oralitura (ou oratura). O texto flui na naturalidade com que Maninha pensa, como se estivesse conversando pessoalmente com as primas, a linguagem é espontânea, carregada de gírias, coloquialismos. É um português “recheado” com termos e expressões da(s) língua(s) autóctones de Angola, formando uma verdadeira “festa da língua”.

No fluxo incessante de um único parágrafo, a crônica “A carta” pede, logo após a primeira, uma segunda leitura. Porque precisamos entrar nessa linguagem aparentemente difícil, precisamos pesquisar os termos desconhecidos, aprender a ler essa escrita-oral, em suma, se familiar com o estilo do autor. As crônicas

adotam [...] um tom íntimo, profundo, parecendo, às vezes, só ser possível o entendimento entre as primas. Pouco a pouco, passamos a “bisbilhotar” os dias de Maninha e, assim, fazendo parte de sua intimidade e amizade em relação às primas, nos sentimos também como se fôssemos parentes dela. (GOMES, 2007, p. 34).

Em “A carta”, Maninha fala de uma visita de um primo, “um parente que anda a kafunfar e estila carro descapotável”. E esse primo conta um pouco sobre seus empreendimentos: “arranjou

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