O DESEJO MIMÉTICO NA OBRA ´´A HUMILHAÇÃO`` DE PHILIP ROTH
Por: sujeito13 • 26/10/2023 • Artigo • 2.016 Palavras (9 Páginas) • 83 Visualizações
O desejo mimético na obra A humilhação de Philip Roth
Introdução:
Neste artigo trabalharemos o livro A humilhação de Philip Roth, baseado na teoria mimética de René Girard, tendo como base sua principal obra Mentira romântica e Verdade romanesca, mas também levando em consideração outro texto como Mimesis de Erich Auerbach, buscando uma reflexão sobre o desejo mimético do ser humano associando aos acontecimentos e aos personagens da obra. Utilizando de uma revisão literária para análise deste trabalho, assim como referencial os autores citados anteriormente.
Contextualização:
Primeiramente, para começarmos a análise precisamos ter uma ideia do seja a teoria mimética de René Girard. Nessa teoria, Girard vai introduzir uma reflexão sobre a condição humana, destacando o desejo humano, chamando de desejos miméticos e difere autores, do qual ele nomeia de romanescos e românticos. Girard define os escritores românticos aqueles que criam personagens que possui de um desejo independente e individual. Agora, os autores romanescos, vão quebrar esses pensamentos, ao organizar relacionamentos dependentes na sua obra, ou seja, o desejo de seus personagens vão ser influenciados por outras pessoas, essas mesmas ele chamou de mediador. O mediador ou modelo serão aqueles que nos estimularão, aqueles que tende a nos despertar o desejo em determinada coisa ou em alguém a partir desse modelo, pois para Girard o desejo é sempre mediado por alguém, seguindo um relação triangular - sujeito, mediador e objeto ( esse pode ser material, como por exemplo, uma pessoa ou imaterial, como exemplo o intelecto de alguém) - portanto o desejo humano pode-se desenvolver, crescer ou diminuir de veemência e até mesmo aniquilar, conforme a relação que o sujeito estabelece com o seu mediador ou modelo.
Assim como Axler, ator de teatro que aos 65 anos, passa por um momento difícil em que ele não se reconhece mais e se ver frustrado por não conseguir mais encenar peças, a obra até começa dizendo que ele perdeu a magia, e como um grande ator, grande estrela do palco, que sempre destacou-se em grandes papéis e nunca havia errado antes, entra em conflito consigo mesmo, por perder o seu poder e a capacidade da sua razão de ser. Uma característica em que podemos perceber é que mesmo ele se encontrando em um estado depressivo, o mesmo não deixa de lado sua vaidade e se considera superior, como Girard declara um mentiroso romântico, deixando sua vaidade falar mais alto, fazendo-o não aceitar qualquer papel e termina se depreciando ainda mais com as duras críticas que recebe, afirmando não conseguir mais fazer nenhum papel, nem de alta ou baixa qualidade. Destacamos uma passagem no texto, em que ele deixa evidente esse fato:
" Foi convidado a interpretar Próspero e Macbeth no Kennedy Center - era difícil imaginar um programa duplo mais ambicioso - e fracassou vergonhosamente em ambos os papéis, mas em particular no de Macbeth. Não conseguia mais fazer Shakespeare de baixa intensidade, não conseguia mais fazer Shakespeare de alta intensidade - ele que vinha interpretando Shakespeare a vida toda." (ROTH, 2017, p. 9)
Com isso, observamos que o problema dele é continuar errando em cima dos palcos, recebendo ainda mais críticas, o que ocasionou crises de pânico no ator e levando a gerar uma futura depressão, pois Axler, não se via mais sem atuar e muitas vezes, pensando em suicida-se.
O desejo mimético nas relações entre os personagens:
Durante o texto, podemos encontrar três detalhes insignificantes na obra e dentro desses detalhes atentemos as relações de mediação dos personagens, o desejo mimético sendo desenvolvido durante dentro do texto.
O primeiro, ocorre quando ele está internado na clínica, pois, como a sua mulher Victoria o deixou sozinho, com essa condição, o pensamento em suicídio se tornou mais frequente e para não cometer tal ato, ele mesmo decide por se internar na clínica, onde ele conhece uma mulher chamada Sybil Van Buren, se tornando-o amigo dela na clínica, em umas de suas conversas com ela, a mesma conta como foi parar na clínica, e logo fazendo um pedido à Simon:
" É uma perversidade. Eu preciso de alguém," ela sussurrou, num tom confidencial, " para matar esse homem perverso. "
"Garanto que você vai conseguir encontrar alguém disposto."
"Você?", Sybil perguntou com um fio de voz. "Eu pago."
"Se eu fosse um assassino, eu faria de graça", ele respondeu, segurando a mão que ela lhe estendeu. " As pessoas ficam contagiadas de raiva quando uma criança inocente é violada. Mas eu sou ator desempregado. Eu faria tudo errado e nós dois íamos acabar na cadeia." (ROTH, 2017, p.21)
Esse é o primeiro detalhe insignificante, pois a mediação vai acontecer, logo após um tempo que havia saído da clínica, quando ele já se encontrava em um relacionamento com a Pegeen. Axler ver um noticiário de que a Sybil tinha matado o marido que abusava da sua filha, á tiros. E esse acontecimento é o que vai fazer com que o Simon, consiga dar cabo da sua própria vida, assim acontecendo a mediação muito forte com o mediador, foi a partir desse acontecimento que o estimulou ele a fazer tamanha brutalidade com ele mesmo. Antes mesmo do Simon cometer o suicídio o narrador destaca:
" [...] Axler desafiou a si próprio a pensar na pequenina Sybil Van Buren, aquela dona de casa suburbana convencional que pesava menos de cinquenta quilos e que havia levado a cabo o que decidirá fazer, que assumira o papel sinistro de assassina e conseguira realizar seu propósito. Sim, ele pensou, se ela foi capaz de ter forças para fazer uma coisa tão terrível com o marido que se transformara num demônio para ela, então eu posso pelo menos fazer isso comigo mesmo."
E no final ainda continua:
" Sybil Van Buren se transformou numa referência de coragem. Ele repetia a si próprio a fórmula que o inspirava a agir, como se apenas uma ou duas palavras pudessem fazê-lo realizar o mais irreal dos atos: se ela foi capaz de fazer aquilo, eu posso fazer isto, se ela foi capaz de fazer aquilo... "
Justamente para mostrar o quanto aquele encontro foi bastante significativo para Axler, pois ela possuía uma mediação tão forte com ele que nem a mesma sabia, e foi a partir dessa mediação, que Sybil ascendeu em Simon a coragem para realizar o seu propósito, e quando ela mesmo realizou o que desejava, Axler sentiu-se influenciado para fazer é realizar o que á tempos queria.
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