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O POEMA EM PROSA NA FICÇÃO BRASILEIRA. O ROMANCE CÍCLICO VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS

Por:   •  18/6/2022  •  Dissertação  •  2.742 Palavras (11 Páginas)  •  119 Visualizações

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O poema em prosa na ficção brasileira

O romance cíclico Vidas Secas, de Graciliano Ramos

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por                    
    Beatriz Guarany de Souza Pereira – 109064557

                                       

Trabalho a ser apresentado à Professora Maria Lúcia Guimarães na disciplina de Literatura Brasileira II.             

Faculdade de Letras - UFRJ

1º Semestre de 2012

I. Poema em prosa

Considerada como um gênero lírico, a poesia tem como característica o uso da língua com fins estéticos, destinado a evocar sensações, emoções e impressões através da composição dos versos que são estruturados de forma harmoniosa, ou seja, por meio da união de sons, harmonia, ritmos. Sempre esteve ligada à música e, portanto, à noção de ritmo.

Em contrapartida, a prosa tem como principal característica a expressão natural da linguagem; não há preocupação com estilo e é uma espécie de “revolução” contra as formalidades da poesia, carregando em seu conteúdo a possibilidade de criação de uma linguagem própria e livre das “amarras” da métrica, rima ou ritmo. É escrita em parágrafos como, por exemplo, novelas, contos, romances e crônicas.

Considerado por muitos críticos como um primeiro exemplo da poesia moderna, o poema em prosa surgiu no século XIX. Nascido de uma espécie de luta contra as convenções da métrica e da linguagem, põe em discussão a própria noção de poesia, pois esta não residiria de fato, em nenhuma forma genuína a princípio. Embora a poesia sempre tenha sido ligada à musicalidade, o ritmo das frases em uma composição e seu conteúdo sonoro e de sentido se apresentam de forma independente à forma dos versos.

O poema em prosa abriga em si um princípio anárquico e destrutivo. Buscando transcender a linguagem, mas se servindo da mesma, o poema em prosa surge do intuito de romper com a formalidade, porém criando sua forma original, já que a poesia por si exige a criação de uma forma. Alguns poetas se revoltam contra a obrigatoriedade de um código de escrita e as formalidades da poesia, o verso livre e o verso romântico, propondo, então, uma fusão entre gêneros já existentes, ou um novo gênero. Houve uma busca da liberdade de uma linguagem própria. Essa era a sua primeira vocação e a mais constante: a de lutar contra qualquer estatismo ou estabelecimento de regras, a de contestar, de romper com a formalidade e com as classificações rígidas sem deixar de criar a sua forma original.

Surgido da interação entre o criador e a “criatura narrativa”, o poema em prosa se difere da prosa poética, pelo fato de esta se caracterizar simplesmente como uma prosa imagética, por vezes musical que vai do romance ao ensaio, enquanto que a primeira é caracterizada como um universo fechado de relações, um bloco, onde o todo domina a organização das partes quando se trata de uma articulação interna, isto é, o todo possui uma maior relevância e importância em relação às partes.

        O poema em prosa carrega em si a junção e a valorização de dois substantivos importantes para sua criação. A prosa, por ser livre, apresenta desdém pelos moldes e convenções, dando origem ao desarmônico, ao instável, a um vocábulo próprio e característico desse gênero. Em contrapartida, o poema leva consigo suas próprias leis, além de objetivar o uso das mesmas, sem que haja outro recurso para sua composição.

Atuam no poema em prosa duas forças: uma de princípio destrutivo, que nega a formalidade existente, a convenção; e outra de princípio orgânico, que tem como foco a construção do todo narrativo. Em meio a esse tipo de construção narrativa, de pólos contrários, a essência de um poema em prosa, caracterizado, ao mesmo tempo, pela ruptura do convencional e a criação de um “novo mundo” narrativo é a representação de atitudes como a criação de um gênero novo e a busca para encontrar uma língua.

Um elemento imprescindível na criação de um poema em prosa é o criador, o poeta. Há o poeta do acordo e da ordem nova e o da revolta e da ruptura anárquica, que influenciam e muito na realização do poema em prosa, pois este carrega a índole de seu criador e sua relação com o tempo.

No romance de Graciliano Ramos, temos um criador que faz de sua prosa, um grande poema cíclico ou formal, pois em Vidas Secas o tempo parece ser “domado” e preciso, com um ritmo e formas rítmicas regulares, através da divisão dos textos em coplas e as repetições.        

As coplas recortam o texto em porções regulares separadas por brancos ou silêncios. São esses “brancos” que criam o ritmo e revelam a intelectualidade do poema, ou seja, revelam a intenção do texto para com o leitor. Essa divisão em coplas vem geralmente acompanhada de um ciclo, ou seja, uma organização rítmica fundada sobre o retorno, representado através de refrões, repetições de sons vocálicos ou consonantais, etc, assim como ocorre na música.

Em suma, o poema cíclico ou formal busca disciplinar o tempo, instalando-se e instalando uma estrutura musical e racional, objetivando sempre alcançar a perfeição de essência estática.

Outro modo de realização do poema em prosa é o poema-iluminação, que almeja negar o tempo – não apenas o tempo da obra-, reduzido a um mínimo, e se apresenta como um todo compacto, que produz um efeito de choque. Além disso, esse tipo de poema deixa de ser percebido como linear ou circular e passa a ser resumido como um ponto luminoso, o instante desmorona numa catástrofe cósmica.

A lógica do sonho desconcerta muito o leitor tanto porque nele o tempo e o espaço não vigoram mais. O poeta da iluminação se coloca sob o signo do irracional a fim de desestabilizar o leitor, desestabilizar os seus centros perceptivos, libertá-lo do tempo e da lógica, impondo um pressentimento de outro universo, onde o homem reine sobre a matéria.

Do poema formal ao poema de iluminação, não se trata de opor a forma ao informe, a arte à negação da arte. Trata-se de duas maneiras diferentes de se conceber a criação poética.

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