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O Romance Literatura

Por:   •  8/10/2020  •  Resenha  •  2.430 Palavras (10 Páginas)  •  159 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

INSTITUTO DE LETRAS E ARTES – ILA

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS II

PROF. DR. ANTÔNIO CARLOS MOUSQUER

ANÁLISE DO ROMANCE “CARVÃO ANIMAL” DE ANA PAULA MAIA

Vanessa Chaves Bernardo[1]

        "Ir aonde ninguém quer ir": breve relato sobre a escritora do romance “Carvão Animal”

        Ana Paula Maia nasceu no município de Nova Iguaçu no estado do Rio de Janeiro. Atualmente, ela é uma escritora e roteirista brasileira. Segundo uma entrevista concedida pela Editora Record, mesmo tendo morado na cidade, no espaço urbano, a escritora gosta muito de observar uma paisagem mais rural, o que ela acaba explorando muito esse espaço em suas obras. Além disso, relatado nessa mesma entrevista, a carioca prefere construir seus romances utilizando personagens masculinos, visto que ela possui um olhar aguçado em relação ao outro, e opta, assim, manter um distanciamento do gênero. Quanto a isso, a autora relata que os personagens e os espaços a atraem, e que se mudasse esse roteiro iria ser mais difícil o momento da escrita.

        Na entrevista, Ana Paula (2017) relata sobre a escolha de seus temas, afirmando que tem atração por coisas que possivelmente não conseguiria fazer e que, ainda, a causam um certo horror. A escritora afirma que, seu ponto de partida é “alguma coisa que me faz pensar ‘eu não conseguiria fazer isso, eu não poderia fazer isso’ ”.

        Sendo assim, suas obras são repletas de profissões difíceis e árduas, e que geram até um certo estranhamento ao leitor. Os personagens, segundo a autora, refletem a si mesmos na sua ação, na sua fala: são econômicos. Logo, se constrói um cenário árido, como caracteriza a autora, com texto econômico, personagens econômicos e um cenário áspero.

        No romance que iremos analisar a seguir, “Carvão Animal”, Ana Paula, agora em outra entrevista, relata algumas particularidades no processo da escrita dessa narrativa. Em uma entrevista coordenada por Christian Grünnage (2015) para uma revista de Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, temos acesso a algumas questões importantes para a construção do romance.

        Primeiramente, a escritora relata que o livro “Carvão Animal” foi revisado por um bombeiro de verdade. Na parte de fogo, a autora destacava e mandava para ele, que sempre revisava. Segundo a autora, no momento que conheceu o rapaz, ele se sentiu extremamente honrado com um livro que relata sobre a difícil tarefa dos bombeiros. A escritora ainda acrescenta na entrevista que, nesse encontro, o rapaz afirmou a ele que ninguém lembra dos bombeiros, a não ser no momento que se precisa. Ana Paula destaca que foi “a melhor critica literária sobre o “Carvão Animal” ”, visto que a autora se sentiu privilegiada de escrever a verdade sobre um grupo de pessoas que enfrentam, todos os dias, a morte de perto para salvar a vida de alguém.

        Outro fato interessante, que é valido para se destacar, é que a autora não pode visitar um crematório, pois não deixaram ela entrar. Então, para construir esse relato bem detalhado, a escritora utilizou como base um material de pesquisa. Segundo Ana Paula (2015)

no Brasil, há crematórios modernos, outros mais simples. Então tive muito material dos próprios sites e muito material em vídeo, não do Brasil, mas da Europa e dos Estados Unidos. Assim, descobri tudo. Escolhi o meu forno, o tamanho que ele teria. Eu montei todo o meu crematório em detalhe. Foi quase um lego.

        Segundo Ana Paula (2017), no seu livro, a ideia em transformar o calor do crematório em energia elétrica não foi, puramente, advinda de sua imaginação. Houve um projeto em uma cidade muito pequena da Alemanha que iria implantar esse sistema, no entanto, a autora relata que as pessoas não quiseram, o projeto não obteve êxito. Para tanto, ela foi à frente com o projeto em seu livro.  

        Além disso, outra característica do romance “Carvão Animal”, na qual vale ressaltar, é que o narrador se apresenta distante e anônimo na escrita, o que sugere uma visão masculino do mundo. A autora, então, salienta que esse era o objetivo dela, visto que se trata de um trabalho literário, artístico. Para Ana Paula, mesmo sendo mulher, o grande desafio é ser aquilo que ela não é, ir aonde ela não pode ir e conviver com pessoas do seu próprio imaginário.

        Logo, no romance que iremos analisar, “Carvão Animal”, percebemos a intenção da autora em explorar o “estranho”, o que causa temor a maioria das pessoas. Começaremos, então, a observar como se constitui o enredo, as características dos personagens, do tempo, do espaço, do ambiente, também refletiremos sobre o posicionamento do narrador perante os fatos, e por fim iremos refletir sobre a relevância das ideias apresentadas no romance.  

“No fim tudo o que resta são os dentes"

No início do romance somos apresentados a dois personagens principais: Ernesto Wesley e Ronivon. As histórias se entrelaçam de tal modo que, de início, não é possível identificar uma ligação entre ambos, mas com o decorrer dos capítulos, os personagens se conectam.

Ao decorrer da história descobrimos que, na verdade, Ernesto Wesley e Ronivon são irmãos, e que ambos moram juntos, em uma mesma casa, com uma cadela chamada Jocasta, na qual, Ernesto Wesley costumava dizer que era “a única mulher da casa”.

Ernesto Wesley era um corajoso bombeiro que se arriscava o tempo todo. No livro, ele cortava ferragens em acidentes, salvava pessoas, nos lugares mais elevados de alguns prédios, nos incêndios, e até recolhia corpos incinerados, quando não havia mais possibilidade de resgatar essas vidas. Ernesto sabia que seu trabalho era salvar as pessoas da morte ou ter que recolher os restos humanos das vítimas da morte. Uma das frases mais impactantes que ele ressalta no romance é que, depois da morte por incêndio ou qualquer outra fatalidade em que é impossível reconhecer o corpo, o que resta apenas para a identificação é os dentes. Ernesto reconhece que, todos os dias, se encontra disposto a se lançar para a morte: para morrer ou para salvar. Para tanto, o personagem cuida bem de seus dentes, pois sabe que é através deles que, se um dia não escapar da morte, não será apenas um carvão animal qualquer, haverá algo que o defina como ele era.

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