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O uso de estrangeirismos em sala de aula

Por:   •  12/8/2021  •  Artigo  •  1.210 Palavras (5 Páginas)  •  224 Visualizações

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Maiara de Andrade Viegas

Tutor Externo²

  1. INTRODUÇÃO

Aprender um novo idioma é requisito básico em qualquer área da vida, seja para buscar uma nova oportunidade de trabalho, viajar ou se comunicar com um estrangeiro, assim como compreender um manual de uso de algum equipamento ou nova tecnologia. O aprendizado do inglês favorece o desenvolvimento pessoal, profissional e cultural.

Diante disso, há um ponto de muita controvérsia: o estrangeirismo. Para muitos linguistas, o estrangeirismo faz parte de um processo natural de globalização, mas para alguns conservadores o uso de estrangeirismos é uma afronta ao bom português.

Com isso, esse trabalho tem como objetivo identificar o uso de estrangeirismos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Governador Ildo Meneguetti e apontar o posicionamento dos professores a respeito da polêmica, se são favoráveis ou contra o uso de estrangeirismos em sala de aula. Os dados foram coletados através de um questionário contendo 10 (dez) perguntas objetivas e fechadas, direcionadas ao corpo docente que leciona para alunos do ensino fundamental da escola concedente.

  1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Há muita controvérsia em torno do uso de estrangeirismo no Brasil, isso porque um grupo de conservadores acredita que o uso de palavras estrangeiras impede a compreensão de quem não conhece o outro idioma, como defendem Garcez e Zilles:

...o estrangeirismo ameaça a unidade nacional porque emperra a compreensão de quem não conhece a língua estrangeira. Isso seria equivalente a afirmar que um enunciado como “Eu baixei um programa novo de computador” seria plenamente compreensível por todos os brasileiros de qualquer rincão, independentemente do nível de instrução e das peculiaridades regionais da fala e escrita (justificativa dos projetos de lei antiestrangeirismos), porque não contém estrangeirismos, mas isso não se passaria com o enunciado “Eu fiz o download de um software novo”, que seria incompreensível a qualquer brasileiro que não conhecesse inglês, em função dos estrangeirismos. (GARCEZ; ZILLES, 2001, p. 29-30)

Essa controvérsia se tornou evidente com o projeto de lei 1676/99, que dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da Língua Portuguesa, de autoria do Deputado Federal Aldo Rabelo (PCdoB-SP), o jornalista é fortemente contra o uso de estrangeirismos, que segundo ele “deformam a língua e truncam a comunicação do povo”.

Por outro lado, muitos linguistas são favoráveis ao uso de estrangeirismo e defendem a tese de uma língua livre, em constante movimento, o que torna inviável que a gramática seja seguida à risca, especialmente por conta da globalização, que de acordo com Hall (2006, p. 67): “se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de tempo espaço, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado”.

Do ponto de vista de quem é contra o uso de estrangeirismos, existe uma crença infundada que afirma que a língua materna pode ser esquecida ou erradicada, mas isso não faz sentido, uma vez que, conforme Bagno (2004, p.74), “os estrangeirismos não alteram as estruturas da língua, a sua gramática”, na verdade, como defende Fiorin (2011, p. 116), um idioma não pode ser soterrado por uma centena de empréstimos, desde que tenha a sua fonologia, morfologia e outros aspectos da gramática, devidamente estabelecidos.

Figura 1 - Estrangeirismo

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Estrangeirismo é o uso de palavras ou construções frasais que pertencem a línguas estrangeiras.

Fonte: MEU Dicionário, 2019-2021. Disponível em: < https://www.meudicionario.org/estrangeirismo >. Acesso em: 22 de mai. 2021.

O estrangeirismo, de acordo com Faraco (2004, p.9), são as palavras e expressões de outras línguas que são adotadas pela maioria e inseridas continuamente ao nosso cotidiano, porém, o mesmo autor (2006, p. 46) também afirma que, como toda mudança linguística, essa aquisição ocorre de forma lenta e gradual, o que significa que o estrangeirismo não surge da noite para o dia, é necessário um processo de reconhecimento e aquisição e isso ocorre de forma natural, porque o homem em contato com civilizações diferentes sente a necessidade de conhecer e compreender o universo nomeado por outro homem, como aborda Barros (2004, p. 28).

Não é de bom tom desconsiderar os estrangeirismos, uma vez que, como afirma Bagno (2004, p. 67), “a língua simplesmente muda...[...]. Muda para atender às necessidades [...]”, em outras palavras, o estrangeirismo é um processo comum em todas as línguas, em que o falante nativo que está em contato constante com outras línguas acaba por perceber que a língua nativa já não permite a compreensão de fatores externos.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na coleta e análise das respostas fornecidas pelos professores que lecionam para os estudantes do ensino fundamental na E.M.E.F. Gov. Ildo Meneguetti, foi constatado que todos os professores, sem exceção, utilizam o estrangeirismo em sala de aula, tanto para aumentar a familiaridade do uso da língua inglesa com os assuntos que os alunos têm mais afinidade no cotidiano, quanto para permitir um entrosamento mais duradouro durante as aulas, inclusive, é de consenso que não há como limitar o uso de estrangeirismos em sala de aula nos dias atuais, especialmente por conta das novas tecnologias mais acessíveis e o avanço da globalização.

No entanto, os docentes, com exceção de um professor que leciona Inglês, concordam que é obrigação da escola instruir corretamente sobre a língua materna e incentivar o uso de equivalentes no idioma nativo, sem descaracterizar o significado da palavra estrangeira, assim como permitir e favorecer o aprendizado de outras línguas para agregar conhecimento e fornecer meios para a   compreensão de outras culturas.

Quanto ao professor de inglês que não concorda por inteiro com a afirmação acima, ele defende que o uso de equivalentes não é recomendado e que “a comunicação deve ser respeitada e mantida em seu estado mais puro de tentativa e falha, pois é justamente isso o que significa a globalização, é desta forma que nos comunicamos e pertencemos à uma cultura, pela vivência, pelo erro e acerto”, referenciando a célebre frase do filósofo e gramático brasileiro Ernani Terra (1997, p. 78), “A língua é o que é, e não o que poderia ou ‘deveria’ ser: ela é como a fizeram e fazem os que a falam”.

Considero que o presente trabalho foi gratificante e me permitiu experienciar vieses até então desconhecidos, através desta pesquisa e contato com professores, descobri que o estrangeirismo carrega o dom de permitir a comunicação entre diferentes culturas, ao mesmo passo em que provoca receios nos mais conservadores que temem a erradicação, mesmo que infundada, da língua nativa.

  1. REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Cassandra, fênix e outros mitos... In: FARACO, Carlos A. (Org.). Estrangeirismos: guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2004.

FARACO, Carlos. Estrangeirismos – Guerras em Torno da Língua. São Paulo: Parábola Editorial, 3ª ed., 2004.

__________. Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

FIORIN, José. Luiz. Considerações em torno do projeto de Lei n 1676/99. In: Estrangeirismos: guerra em torno da língua. 2. ed. 4ª reimpressão. São Paulo: Parábola, 2011.

HALL, Stuart. Da Diáspora: identidade e modificações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

MEU Dicionário, 2019-2021. Disponível em: < https://www.meudicionario.org/estrangeirismo >. Acesso em: 22 de mai. 2021.

REBELO, Aldo. A globalização da língua. Linguagem - Cultura e transformação, 2001. Disponível em: < http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling09.htm >. Acesso em 18 de mai. 2021.

TERRA, E. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.

ZILLES, A. M. S; GARCEZ, P. M. Estrangeirismos – desejos e ameaças. In: Faraco, C. A. (Org.) Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola Editorial, 2001.

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