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Os Traços que identificam a feminilidade de Diadorim

Por:   •  1/3/2018  •  Trabalho acadêmico  •  6.254 Palavras (26 Páginas)  •  501 Visualizações

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 Um personagem construído através da narração.

A brilhante história do livro Grande Sertão: veredas de João Guimarães Rosa, é contada através do seu personagem principal Riobaldo que desvenda o sertão através de suas falas, e nos mostra a construção de um personagem. Essa personagem é o relator e vivenciador do romance. É através de seus testemunhos que conhecemos toda a narrativa. O romance é escrito em primeira pessoa, não havendo nenhuma interferência de outras vozes, apenas as memórias de Riobaldo e a ressonância da voz do interlocutor ao qual o velho jagunço conta sua história (percebemos que esse interlocutor interage com Riobaldo quando o narrador repete a suas perguntas)

Décio de almeida prado em sua tese sobre a Personagem no Teatro defende a ideia de que o autor utiliza-se de pelo menos três meios de externar a história: o confidente “é o desdobramento do herói, o alter ego, o empregado ou o amigo perfeito perante o qual deixamos cair nossas defesas, confessando o inconfessável”; o aparte “é onde o confidente somos nós, só o público ouve as maquinações da personagem”; e o monólogo “ a personagem encontra-se sozinha, em conversa consigo mesma” - A Personagem de Ficção, A. Rosenfeld, A. Cândido, Décio de A. Prado, Paulo Emílio S. Gomes; p 68

Partindo desse princípio, pode-se afirmar que Guimarães Rosa utilizou-se da primeira ferramenta ( o confidente) para construir não apenas a história, mas todos os personagens.

A personagem Riobaldo é construida ao longo da narrativa. É só por meio das revelações do jagunço  que conseguimos capitar a personalidade  e o caráter do narrador/personagem.

Não encontramos nenhuma definição física do jagunço no romance,não sabemos a cor da pele, dos olhos, estatura, nada que posamos usar como referência para uma análise mais voltada para o perfil  físico como encontramos em histórias como o Mulato de Aluízio de Azevedo, onde o próprio título já traz uma ideia etnológica e de onde também pode-se fazer uma análise voltada para esse fim. Tudo que temos a respeito do jagunço nos leva a fazer uma análise voltada para o perfil psicológico do “andarilho sertanejo”.

De uma forma diferente, pode-se dizer que Riobaldo é um narrador uniciente, visto que mesmo não estando presente no momento exato de certos acontecimentos,ou de conhecer os pensamentos das outras personagens, estes só serão conhecidos por nós através de suas falas, e por se tratar de acontecimentos pretéritos, Riobaldo já sabe das causas e consequências dos atos de todos.

Em A personagem de Ficção de Antônio Cândido, temos a seguinte afirmação para endossar a ideia citada acima -“ na ficção narrativa desaparece o enunciador real, constitui-se então um narrador fictício que passa a fazer parte do mundo narrado identificando-se por vezes(ou sempre) com uma ou outra das personagens ou tornando-se uniciente. O pretérito perde a sua função real(histórica) de pretérito, já que o leitor, junto com o narrador fictício, “presencia” os eventos” p 18.

 Temos também a afirmação do jagunço:

                      “ Antes conto as coisas que contaram para mim com mais pertença”. P 11

 Riobaldo tornou-se um homem nostálgico, apenas as lembranças do seu passado é que são dignos de serem contados. A sua história como jagunço era também o seu presente, visto a força dos sentimentos que sentia, as dúvidas que o perseguia e a saudade que não o abandonava.

Essa definição pode ser completada com a ideia de que, em nossa memória, o passado faz-se presente, vencendo a transitoriedade, visto que o passado não é abandonado por nós como algo supérfluo: ele se atualiza no presente, é parte de sua constituição “como natureza humana que se cria e se forma” (KOSIK, 1976, p. 134). Há, portanto, uma contínua integração crítica e

avaliatória do passado no presente. ( Grande sertão: memórias e arquivos; LEONEL,Maria Célia- Unesp- Araraquara- p 25

O relato de Riobaldo nos apresenta um homem forjado pelas intempéries da vida e das suas escolhas. Sua narração nos mostra suas fraquezas e grandezas, e através disso podemos mapear sua trajetória, suas transformações de menino da beira de rio a homem; de homem a um jagunço comum e deste mesmo vimos a sua ascensão para jagunço-chefe do seu bando.

Essa mesma mudança também acontece com seu nome. Primeiro o conhecemos como Riobaldo,  depois como Tatarana e logo mais o conhecemos como Urutú Branco. Acompanhamos todas essas transformações do jagunço. Como ele mesmo declara para o doutor que o ouve.

                                                                  “ as pessoas não estão sempre iguais, ainda não

                                                                     foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando

                                                                     Afinam ou desafinam...”

O nome é a referência máxima que temos de uma pessoa. Ao trocar de nome, Riobaldo também muda de status, a forma como ele é visto pelos outros jagunços e também por ele mesmo.

Essas mudanças não vieram por esforço de Riobaldo, foram consequência de seu amadurecimento.

                                                                    “Caminharam com os pés da idade”

                                                     

Conhecendo o  menino Riobaldo.

A função do pai na vida da criança é muito importante, visto que elas necessitam de parâmetros, de referências para sua formação como cidadão e indivíduo. As crianças tendem a transformar seus pais em heróis, é dessa figura masculina que as crianças esperam provisão, proteção, amor...

Segundo Freud, mais que necessidades fisiológicas, os filhos têm necessidades da presença e da força paterna.

“ Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto a proteção de um pai” ( no mal-estar da civilizaçao, Freud 1930 p 90)

  Além do mais o pai exerce a função simbólica de dar um nome para o filho, estabelecendo assim uma linhagem familiar.                                                                

Quando criança, Riobaldo vivia uma vida simples e pobre, não conhecia seu pai, era filho de mãe solteira, de pai desconhecido.

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