PÓS-MODERNIDADE NA REDE
Por: felipetotora • 22/5/2015 • Artigo • 1.260 Palavras (6 Páginas) • 139 Visualizações
PÓS-MODERNIDADE NA REDE: A POESIA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI Virna Teixeira No início dos anos 80, Paulo Leminski espalhava graffitis pela cidade de Curitiba e justificava: “só numa esquina bem movimentada, umas quinze mil pessoas por dia podem ler um graffiti. Qual o poeta no Brasil, atualmente, que consegue tantos leitores em livros?”. Octavio Paz, em um ensaio chamado “Balanço e Prognóstico” sobre a situação da poesia no final do século XX, comentava sobre a resistência ao mercado através das pequenas editoras e revistas literárias e sobre um grande número de leitores potenciais de poesia, muito deles que também escreviam poemas e não conseguiam publicá-los. Estes leitores potenciais parecem explicar em parte o sucesso dos blogs de poesia na internet. O termo “blog” surgiu em meados dos anos 90, inicialmente da palavra de origem inglesa weblog e resulta de uma contração entre web (página na internet) e log (diário de bordo). Os blogs são páginas na internet onde os textos são digitados cronologicamente, como um diário, em formato html e chamados de “posts”. Estes textos exploram conexões para outras páginas na internet (“links”), possibilitando um grande número de interações. Em 1999, foram catalogados apenas 23 blogs na web. Por volta desta época, surgiu o primeiro servidor de blogs e o fenômeno se expandiu em todo o mundo. Os blogs começaram a se popularizar no Brasil no início do ano 2000, principalmente sob a forma de diário íntimo, virtual. Hoje há diversos servidores, pagos e gratuitos, que hospedam blogs e também diversos tipos de blogs, cujos conteúdos variam desde relatos pessoais, literários até improvisações sobre música, cinema e coberturas jornalísticas. O número de blogs de poesia no Brasil vêm crescendo principalmente nos últimos dois anos. Espaço de experimentação da escrita, como observou Marcelo Diniz, em dossiê sobre poesia contemporânea recentemente publicado pela revista Cult, a leitura de blogs vem se tornando um hábito cada vez mais freqüente entre os poetas. Por vários motivos. Há poetas de várias idades que editam blogs, desde aqueles que ainda não têm livro publicado (e pouco acesso a editoras) e que utilizam o blog para mostrar seus poemas e 150 Pós-modernidade na rede: a poesia brasileira no século XXI interagir com o público, a poetas já conhecidos e respeitados no cenário da poesia contemporânea. Boa parte da produção mais recente de poesia brasileira chega hoje diretamente aos blogs muitas vezes antes de passar pelas revistas literárias e pode ser portanto informação valiosa para o leitor de poesia atento. Poetas estreantes como Daniela Ramos do Caderno V (http:// www.cadernocinco.blogger.com.br/), Angélica Freitas do Tome uma xícara de chá (http://loop.blogspot.com/) e Bruna Beber do Chapelaria e Cutelaria (http://www.badtrip.com.br/cutelaria/) têm divulgado o seu trabalho principalmente através da internet. Paulo de Toledo (http:// paulodtoledo.blog.uol.com.br/index.html) é outro veterano na rede e um nú- mero crescente de poetas jovens, como Elisa Andrade Buzzo, do Calíope (http:/ /caliope.zip.net/) e Ana Rüsche, do Peixe de Aquário (http:// peixedeaquario.blogspot.com/) tem aderido à publicação eletrônica. Um outro motivo para leitura de blogs são as traduções: alguns poetas traduzem poesia e publicam suas versões de poemas originais na internet. Nícollas Ranieri, de O Barco bêbado, (http://obarcobebado.zip.net/) registra e resgata, do ponto de vista crítico, do poeta-leitor, o trabalho de vários tradutores. Vários blogs funcionam ainda como uma espécie de agenda on line de lançamentos de livros e leituras de poesia. Cantar a pele de lontra (http:// cantarapeledelontra.zip.net/), do poeta e tradutor Claudio Daniel é um exemplo desta diversidade de funções que pode assumir um blog de poesia. Claudio Daniel publica traduções e poemas seus e de outros poetas e tem desempenhado um papel interessante como divulgador de poesia latino-americana contemporânea e de países lusófonos no seu blog. A temática e estilo dos blogueiros é diversa. Há desde blogs com entrevistas com poetas, dicas e resenhas de livros de poesia, como o Jaguadarte http://jaguadarte.zip.net/) do poeta e artista multímidia Ricardo Aleixo ao bem humorado Espelunca (http://zonabranca.blog.uol.com.br/) do poeta Ademir Assunção, editor da revista Coyote, que mistura poesia, música, polí- tica e anarquia. As escolhas afectivas (http:// asescolhasafectivas.blogspot.com/), do poeta argentino Anibal Cristobo que mora em Barcelona mas mantém vários contatos no Brasil, tem outro formato: um(a) convidado(a) publica alguns poemas seus, junto com uma definição da sua poética, uma curta nota biográfica e a citação de alguns poetas com que tem afinidades. Estes poetas por sua vez são convidados a partici- 151 Cadernos de Letras da UFF nº 32 - Letras & Infovias par também, e assim sucessivamente, estabelecendo conexões afetivas dentro do próprio blog. A coletividade faz parte da pós-modernidade e da blogosfera. Blogs podem ser escritos em duos e trios, como o atualmente extinto Pesa-nervos (http://pesa-nervos.blogspot.com/) dos poetas Leonardo Gandolfi, Rodrigo de Souza Leão e Franklin Alves e o Fatal beco sem saída (http:// fatalbecosemsaida.blogspot.com/), de Pablo Araújo, Gisela Hinche e Carla Kinzo. O Pesa-nervos é um exemplo de outra versatilidade dos blogs: a de armazenamento, a capacidade de memória artificial dos computadores. Apesar de desatualizado há meses, pode-se voltar facilmente aos posts antigos através da barra lateral. Alguns blogs agregam poetas que escrevem de várias partes do Brasil, com o Algaravária (http://algaravaria.blogspot.com/). Na internet não há distância geográfica e sim afinidades. Há blogs que são escritos em todas as partes do país, por poetas que mantêm freqüentemente intensa atividade fora do local onde vivem, como por exemplo: Douglas Diegues do Portunhol Selvagem http://www.portunholselvagem.blogspot.com/) em Campo Grande, que mantém vários diálogos com outros poetas dentro da América Latina; Poesilha do Marcelo Sahea (http://poesilha.blogspot.com/) e Folhas de Girapemba da Ana Maria Ramiro (http://girapemba.blogspot.com/) em Brasília; Micropolis (http://micropolis.blogspot.com/), de Marília Kubota, em Curitiba; para citar alguns. Há também interações de blogs brasileiros com blogs portugueses, como o Nocturno com gatos (http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt/), de Soledade Santos; Linha de cabotagem (http:// linhadecabotagem.blogspot.com/) de Helena F. Monteiro, o Finisterra de Oscar Mourave (http://www.finisterra.blogger.com.br/), que escreve sob pseudônimo e mora na Tunísia, e os blogs de poesia e tradução Ao longe os barcos de flores (http://barcosflores.blogspot.com/), de Amélia Pais e Poeta salutor (http://www.poetasalutor.blogspot.com/) de J. T. Parreira. A poeta carioca Silvia Chueire, do Eugenia in the meadow (http:// eugeniainthemeadow.blogspot.com/), pela proximidade da sua escrita com a dicção portuguesa, publicou seu primeiro e único livro de poesia em Portugal, através da internet. Além de imagens que podem ser anexadas aos poemas, outros recursos de distribuir arquivos de audio e vídeo podem ser incorporados aos blogs, 152 Pós-modernidade na rede: a poesia brasileira no século XXI como os podcasts, termo que surgiu do aparelho portátil de audio Ipod. Assim, é possível por exemplo com um microfone gravar a leitura de um poema e anexar em um link ao blog, através de programas específicos e gratuitos que podem ser encontrados na internet. Estes recursos começam a ser explorados por alguns poetas e seu uso tende a se expandir. Os blogs de poesia revelaram muitos leitores “reais”: pode instalar-se ferramentas para monitorar o número de visitantes diários de um blog, como de qualquer site na internet. O número de visitantes em alguns blogs de poesia mais freqüentados às vezes ultrapassa o número de 100 visitas diá- rias. O acesso é mais fácil do que o de muitas revistas de poesia, desconhecidas para o leitor pouco especializado, porém interessado em poesia. Considere-se ainda a tiragem, em média, de boa parte dos livros de poesia publicados no país: 500 exemplares. É conveniente lembrar que os blogs não excluem o papel: muitos prosadores, por exemplo, têm despertado atenção de editores através da web. Um problema dos blogs tem sido os ataques recentes e cada vez mais freqüentes de hackers, que invadem e substituem as páginas dos blogs com vandalismos. A solução?
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