Simbolismo - Vida e Obra do Dante Negro
Por: malugontijo • 5/11/2019 • Trabalho acadêmico • 1.741 Palavras (7 Páginas) • 201 Visualizações
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Universidade Federal de Uberlândia – UFU
Instituto de Letras e Linguística – ILEEL
Cruz e Sousa
Vida e Obra do Dante Negro
Uberlândia
2018
Augusto Moreira Aguiar
Paola Gonçalves Mendes
Lucas Caixeta Machado
Maria Luiza Gontijo F. de Lima
Cruz e Sousa
Vida e Obra do Dante Negro
Trabalho apresentado à disciplina de Literatura Brasileira II - Poesia
Professora orientadora: Elzimar Fernanda Nunes
Uberlândia
2018
O Simbolismo
O simbolismo foi um movimento poético que teve a sua origem no final do século XIX, na França, com grandes nomes como Verlaine, Malarmé e Rimbaud, considerados os autores que deram origem ao movimento. No Brasil, o simbolismo começa com as obras Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa.
Marcado por ideais anticlassicistas (se opunham à busca por modelos clássicos, e ideais platônicos e de beleza), surgiu como uma reação ao parnasianismo (movimento literário anterior: uma era de mudanças com o fim da escravidão, tensões entre Brasil rural e urbano e também a fundação da ABL).
Podemos citar como características gerais do movimento: uso de figuras de linguagem; a presença da musicalidade; a valorização das manifestações espirituais e metafísicas; busca pela essência do ser humano e o subjetivismo; além da mulher, tema recorrente das obras simbolistas: ao mesmo tempo musa e deusa, cisne e serpente.
Biografia
João da Cruz e Sousa
João da Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861 e faleceu em 19 de março de 1898 com apenas 36 anos de idade e três obras publicadas, de poemas e poesias, além de seis obras póstumas. O escritor ficou conhecido como “Cisne Negro”, por ser filho de escravos alforriados. Também chamado de “Dante Negro” em referência ao escritor humanista italiano Dante Alighieri.
Desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa - de quem adotou o nome de família, Sousa. A esposa de Guilherme Xavier de Sousa, Dona Clarinda Fagundes Xavier de Sousa, não tinha filhos, e passou a proteger e cuidar da educação de João. Aprendeu francês, latim e grego.
Em 1881 dirigiu o jornal Tribuna Popular e lutou pelo fim da escravidão e do preconceito racial. Anos mais tarde escreveu seu primeiro livro, Tropos e Fantasias. Em 1893 publicou Missal (prosa) e Broquéis (poesia) e se casou, tendo 4 filhos que morreram de tuberculose.
Em 1898 veio à óbito, em Minas Gerais, também por tuberculose.
Obras
Nas obras de Cruz e Sousa percebemos a forte presença do branco. Esse fascínio pode ser interpretado pelo preconceito sofrido pelo autor durante toda vida. Depois de dirigir um jornal abolicionista, foi impedido de deixar sua terra natal por motivos de preconceito racial. Algum tempo depois é nomeado promotor público, porém, é impedido de assumir o cargo, novamente por causa do preconceito.
A recorrência do branco em suas obras marca a ideia de que o branco seria a perfeição e o negro seria a maldição, uma vez que todos seus filhos morreram prematuramente de tuberculose e sua mulher perdeu a sanidade mental ao ser submetida a tantas perdas.
O autor abordou fielmente o grotesco e o sublime em suas obras. Como disse Fabiano Santos em “Êxtase enfermiço: transcendência poética e volúpia da precipitação no decadentismo brasileiro – um exemplo em Cruz e Sousa”: “ Poeta idealista por um lado, mas sensualista por outro, Cruz e Sousa retrata em sua obra, de maneira agônica, o conflito entre o físico e o etéreo, que muitas vezes expressa a convivência problemática entre grotesco e sublime.” (p.54) O grotesco seria a configuração de fenômenos contraditórios e ambíguos: dor e riso; atração e repulsa; horror e beleza. O sublime transporta o homem diretamente à instância das ideias.
Análise do poema Dança do Ventre
A poética de Cruz e Sousa, sempre regida pelas tentações, também vê semelhanças entre o arrebatamento da sensibilidade e os ardores da febre. O simbolismo presente em seus poemas é a construção por meio de um discurso sugestivo, a qual dota os silêncios e as entrelinhas de significação tão expressiva quanto a das palavras. Além disso, há característica do Decadentismo, implicitamente indicando que há dor no prazer. O poema “Dança do Ventre” é sobre o erotismo que o ser feminino carrega, com tendências descritivas, provocando delírios, mas ao mesmo tempo, aversão. Ademais, há uma preocupação estética. É um soneto de dois quartetos e dois tercetos, decassílabos, com rimas alternando entre ABBA, ABBA, CCD, EED.
O erotismo de Cruz e Sousa não se expressa de forma equilibrada ou resolvida, mas consiste em uma forma de sensualismo tenso. Os aspectos do demoníaco também estão associados à matéria erótica desenvolvida pelo poeta. O grotesco, em muitos momentos, parece ineficiente para manifestar por si próprio a profundidade dos abismos da perdição erótica. É nesse momento que o sublime mescla expressando nessa conjunção um terror nascido do contato da sensibilidade do eu lírico com as forças diluidoras do objeto contemplado, como figura feminina maldita. O desejo, na voz poética, manifesta-se como animais repulsivos e demônios. É isso que se observa no poema “Dança do Ventre”.
Torva, febril, torcicolosamente,
numa espiral de elétricos volteios,
na cabeça, nos olhos e nos seios
fluíam-lhe os venenos da serpente.
Ah! que agonia tenebrosa e ardente!
que convulsões, que lúbricos anseios,
quanta volúpia e quantos bamboleios,
que brusco e horrível sensualismo quente.
O ventre, em pinchos, empinava todo
como réptil abjecto sobre o lodo,
espolinhando e retorcido em fúria.
Era a dança macabra e multiforme
de um verme estranho, colossal, enorme,
do demônio sangrento da luxúria!
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