Trabalho Afonso Romano
Por: liriodocampo • 3/5/2019 • Trabalho acadêmico • 997 Palavras (4 Páginas) • 968 Visualizações
Análise do Poema “Epitáfio para o século XX” de Affonso Romano de Sant’anna
Introduções breves sobre o autor e sua poesia Epitáfio para o século XX
O poema que será analisado é do poeta e escritor brasileiro Affonso Romano de Sant’anna. Nascido em Minas Gerais, no ano de 1937, Affonso é um marco na literatura brasileira. Publicando mais de 40 livros, já ganhou vários prêmios, inclusive o Prêmio da União Brasileira dos Escritores. Desde os anos 60, tem influenciado e participado de movimentos políticos e sociais no país. Nos tempos de ditadura militar, onde as expressões artísticas eram fortemente reprimidas pela censura, publicou audaciosas obras nos mais importantes jornais do país, em páginas de política. Muitos poemas do autor foram transformados em posters, placas e cartazes, disseminando aos milhares como forma de resistência.
Pela Global Editora tem as seguintes obras: Melhores Poemas, Melhores Crônicas, A implosão da mentira e outros poemas, Ler o mundo, A pesca, Crônicas para jovens.
Abaixo, trazemos o poema “Epitáfio para o Século XX” que é do período literário Modernismo (Terceira Fase), publicado em 1997, que é uma crítica a algumas atitudes políticas, focado em acontecimentos do século XX.
[pic 1]
Epitáfio para o século XX
1.
Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.
2.
Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.
3.
Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
-nux vômica.
4.
Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado,empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.
5.
Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.
6.
Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.
7.
Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas, sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.
8.
Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.
9.
Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
-já vai tarde.
10.
Foi duro atravessá-lo.
Muitas vezes morri, outras
quis regressar ao 18
ou 16, pular ao 21,
sair daqui
para o lugar nenhum.
11.
Tende piedade de nós, ó vós
que em outros tempos nos julgais
da confortável galáxia
em que irônico estais.
Tende piedade de nós
-modernos medievais-
tende piedade como Villon
e Brecht por minha voz
de novo imploram. Piedade
dos que viveram neste século
— per seculae seculorum.
O poema acima, do escrito Affonso Romano de Sant’Anna, foi publicado em 1997 e tem uma antologia que critica algumas atitudes políticas sobre acontecimentos do século XX.
O poeta aborda neste poema uma temática social e demonstra sua oposição ao radicalismo cultuado pela poesia concreta. Dessa forma reabilita o verso e o sentimento lírico por excelência, fazendo de tais recursos um instrumento de denúncia social.
O título do poema aborda a palavra epitáfio que significa lápides tumulares ou monumentos funerários, ou seja, algo que está morto. O poeta optou por trabalhar uma linguagem que se aproxima dos moldes cotidianos, características do modernismo. A partir da 1ª estrofe nos traz a memória fatos históricos jamais esquecidos pela humanidade, como as guerras mundiais e tantos outros acontecimentos que seguem retratados ao longo do poema. A repetição do trecho “Aqui jaz um Século” nos faz referência a algo que está enterrado, pois retrata o que se escreve nas lápides do cemitério. Na 2º estrofe diz a respeito da Ditadura Militar, pois temos a questão da direita e esquerda, retratando os partidos da época.
Ao decorrer de todo o poema o eu lírico retrata, como já foi dito anteriormente, acontecimentos e fatos que marcaram a história do país e do mundo.
Nas estrofes finais podemos perceber que o poeta desejava que este século, tão tumultuado de acontecimentos ruins, passasse logo e como foi difícil a passagem do mesmo, este desejava até mesmo voltar aos séculos anteriores ou até pular para o século seguinte. Ainda na última estrofe notamos o desespero do poeta quando este diz: “ tenha piedade de nós, ó vós que em outros tempos nos julgais...”
Bibliografia:
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/poesia-social.htm
https://programaculturaviva.wordpress.com
CENTRO UNIVERSITÁRIO FLUMINENSE
Affonso Romano de Sant’anna
Biografia e análise da poesia Epitáfio para o século XX
Sara Barroso
Flavia Mendes
Milena Azevedo
Trabalho entregue em mãos
à Professora Vilma Nunes
para obtenção de nota na disciplina de
Literatura Brasileira VI.
Campos dos Goytacazes/RJ
Junho/2018
Amar a Morte
Amar de peito aberto a morte.
Não de esguelha, de frente.
Amar a morte,
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