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Trabalho Sobre o Livro - Hotel Atlântico

Por:   •  1/4/2024  •  Trabalho acadêmico  •  2.053 Palavras (9 Páginas)  •  98 Visualizações

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Instituto Federal do Rio de Janeiro – Campus Nilópolis[pic 1]

Programa de Pós-Graduação Lato Sensu

Especialização em Estudos Linguísticos

Disciplina: Narrativa Brasileira

Profª: Drª. Viviane de Guanabara Mury

Aluno: Tadeu Augusto de Azevedo Vasconcelos Silva

Matrícula: 20201023974

Segundo Bauman, “o eixo da vida pós-moderna não é fazer a identidade deter-se, mas evitar que se fixe”. Nesse sentido, seria válido considerarmos o protagonista do romance Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll, um típico representante do sujeito pós-moderno? Discorra, sustentando sua posição com exemplos da obra nolliana.          

        Para dar conta de responder à questão levantada no enunciado acima, é necessário primeiramente ter em mente do que se trata o pós-modernismo. Nesta perspectiva, pode-se apresentar o que é exposto por Borba (2011) que afirma que tal conceito diz respeito ao “conjunto de movimentos artísticos subsequentes ao modernismo, caracterizados pelo abandono de práticas do Modernismo, mas conservação de alguns de seus princípios.” (BORBA, 2011, p.  1100). Logo, é possível perceber nessa definição o fator de continuação e ruptura com a tradição modernista. Acrescenta-se que os momentos de ruptura são demonstrados sobretudo em aspectos relacionados ao olhar crítico em relação ao passado e ao questionamento das grandes narrativas e de verdades universais, uma vez que para o pós-modernismo não existe verdade absoluta. Outro elemento característico do pós-modernismo diz respeito à fragmentação identitária que se faz presente nas obras literárias filiadas a essa corrente. Com efeito, as personagens e/ou narrador passam por um processo de crise de identidade que se mostra evidente ao longo da narrativa. No que concerne ainda o pós-modernismo é válido acrescentar que faz parte desse movimento o universo envolvendo a experiência urbana. Por certo, dentro deste aspecto há a existência da cidade moderna surgida após o advento da Revolução Industrial. Cidade essa que representa a utopia e o inferno com todas as problemáticas envolvidas; representa o caos e é retratada por um viés pessimista. De certo modo, tal cenário contribui para o advento da narrativa brutalista. Nela, há a inserção de elementos ligado ao submundo presentes de modo corriqueiro no cotidiano das grandes cidades e constantemente ignorados ou tratados com indiferença pela classe burguesa. Há lugar para as experiências chocantes e não há pudor na narração; tudo é exposto às claras.

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        Tendo em mente essas características a respeito do pós-modernismo, Schollamer (2009) comentando sobre a particularidade da obra produzida pelo autor João Gilberto Noll, afirma que o autor

cumpre uma trajetória que o identifica, inicialmente, como o intérprete mais original do sentimento pós-moderno de perda de sentido e de referência. Sua narrativa se move sem um centro, não ancorada num narrador autoconsciente; seus personagens se encontram em processo de esvaziamento de projetos e de personalidade, em crise de identidade nacional, social e sexual, mas sempre à deriva e à procura de pequenas e perversas realizações do desejo. Acontecimentos violentos, interrompem seus trajetos de modo enigmático e deixam o corpo em estado de ferida e num arriscado percurso de vulnerabilidade e exposição. Sempre em movimento, perambulando numa geografia incerta, o movimento narrativo de Noll é a viagem numa paisagem obtusa em que fronteiras são abolidas, e dimensões temporais e espaciais são questionadas por trajetos errantes que cruzam um território sem claras definições, produzindo um movimento hesitante em direção a Porto Alegre, a cidade que (...) simboliza a origem, o lar e a identidade que nunca são retomados. (SCHOLLAMER, 2009, p. 32)

Tais características gerais da obra nolliana se fazem presentes no romance Hotel Atlântico. A obra em questão, narra determinado momento da vida de um ator decadente que é constantemente tangenciado pela morte e que sai do Rio de Janeiro sem rumo pré-estabelecido, tudo sendo definido pelas circunstâncias com as quais ele se depara até chegar em Porto Alegre, passando por Florianópolis e dois lugares fictícios, a saber, Viçoso e Arraiol. Em cada lugar, o personagem principal assume uma identidade diferente, se desprendendo de quem realmente é, e sem procurar estabelecer laços muitos profundos com as pessoas com quem encontra e interage. A sua viagem, as suas várias facetas assumidas ao longo da narrativa representam a sua liberdade que é brutalmente perdida quando é amputado e passa a depender de terceiros para (sobre)viver. Nesse momento, acaba por estreitar de certo modo laços com Sebastião, o enfermeiro que se encarrega dele e, curiosamente, a morte, que apenas o tangenciava, acaba, aparentemente, por atingi-lo, quando, enfim, chega ao destino onde sua história incógnita se originou, a saber, Porto Alegre.

Quando se observa de modo mais minucioso a obra em questão, é possível se atentar a aspectos que nos fazem defender a ideia de que o protagonista do romance Hotel Atlântico pode ser sim um representante do sujeito pós-moderno. Com efeito, ele começa sua trajetória no romance vindo de algum lugar desconhecido e chegando ao Rio de Janeiro sem carregar consigo bagagem alguma, e tal “característica” o acompanha em todos os demais destinos para os quais ele vai; como se quisesse se desprender ou estivesse fugindo de algo ou alguém.

Essa característica de aparente fuga que o protagonista apresenta, pode estar, de certo modo, relacionada a um processo de crise identitária. Suas constantes viagens, suas estadias curtas nos locais por onde passa, o desconforto que sente ao passar tempo demais em um lugar atrelados ao fator de que ele sempre omite ou adultera alguma informação sobre si podem indicar que ele não queira ser identificado ou caracterizado apenas por um único “atributo”. Por isso, talvez, opte por assumir vários papéis ao longo da narrativa e não hesita em mentir quando necessário a fim de não relevar plenamente quem é ou o que sente e obter de certo modo alguma vantagem. Nesse sentido, mente sobre seu estado civil, mente sobre sua profissão, mente sobre seu estado de saúde, mente sobre o seu destino, dentre outras mentiras que conta.

Entretanto, observa-se que quando o protagonista é reconhecido de fato pela sua profissão, seja pelos homens que lhe oferecem carona, seja pelo médico-político em Arraiol, é um dos poucos momentos em que prefere de fato dizer a verdade. Ele também não omite ou falsifica informações sobre si quando conversa com a passageira estrangeira que comete suicídio no ônibus. Durante a interação entre ambos, além de dizer que realmente é ator aparenta demonstrar interesse nela e não apenas de cunho sexual como em outros momentos da narrativa.

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