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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE LETRAS FILOLOGIA ROMÂNICA

Por:   •  24/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.685 Palavras (7 Páginas)  •  304 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE LETRAS
FILOLOGIA ROMÂNICA I

Professor: Flavio Barbosa

Trabalho de Filologia I

        1) O termo “filólogo” (significado etimológico: amigo e palavra), que originaria “filologia” e “filologar”, surge na antiguidade greco-latina. Embora usado por muitos dos pensadores da época, inclusive por Platão e Aristóteles, sua definição nunca foi concisa, apresentando diferentes usos e acepções. Partindo de seu significado etimológico, vamos de encontro aos filósofos estóicos, com a qual se afina em mesmo tom. “Amigo da palavra” seria aquele que apreende o conhecimento, a cultura, expressados pela palavra. O vocábulo, portanto, seria semanticamente próximo da ideia de sábio, aquele que busca, absorve ou detêm conhecimento. Enquanto esse conhecimento (a palavra) se limitava à oralidade, o filólogo era um falante e ouvinte.

É importante destacar que o termo nunca encontrou unanimidade de sentido entre os registros da época, apresentando leves porém importantes diferenças entre um uso e outro. Em Aristóteles e Platão, seu sentido é ainda um pouco vago. No primeiro vemos uma continuação da ideia de “amigo da palavra” ou “aquele que gosta de falar e ouvir” (p. 18). No segundo há uma especificidade no sentido de que o filólogo é um especialista (p. 19). Para Isócrates, filologia era o “gosto pelo estudo das palavras” (p. 19). Cícero, por sua vez, assimila o termo a uma certa “gratuidade” de temas abordados em algumas de suas obras (p. 19), onde o objetivo maior era pôr em prática a reflexão e a busca à cultura. Bosetto (2001) também nos apresenta muitos outros exemplos e variações do vocábulo. Dentre eles estão “amigo do estudo ou do conhecimento”, “amante da leitura” e também a ideia de que o filólogo é aquele que consegue “dissertar com erudição”. Porém, como afirma, quase sempre “o termo está relacionado a homens de letras e autores de qualquer tipo de obra escrita” (p. 20)

Com isso, podemos entender que o termo na antiguidade greco-romana se entendia quase sempre à ideia de refinamento intelectual, de amplos conhecimentos gerais ou específicos, de cultura em geral e de domínio da linguagem em particular (p. 23).

2) É notável que aos pensadores da época havia uma clara delimitação em sua relação aos termos filósofo e gramático. Sêneca, por exemplo, traça o perfil do gramático como alguém que se preocupa com questões da língua e da literatura “como expressões típicas, arcaísmos e influências literárias” (p. 22), enquanto que o filólogo apresenta análises, deduções, inter-relacionamento de fatos, conhecimento de livros de história, índices de uma cultura ampla, própria do sábio (p. 22). Isto é, como os modelos de Eratóstenes e Ateius. Dos vinte “grammatici” sobre os quais fala, em De Grammaticis et Rhetoribus, comenta que apenas Lucius Ateius se considera filólogo. Ainda segundo Suetônio, estes títulos eram qualificativos atribuídos a um autor conforme o seu grau de conhecimento: “erudito”, “literato” e “literator” para os romanos, e “gramático” e “gramatista” para os gregos. Portanto, Ateius, que por toda o período clássico foi a referência ao termo filólogo, ao lado de Eratóstenes, seria mais que um simples gramático (p. 26). O filólogo também se opõe ao termo filósofo. Plotino nos apresenta a diferença ao criticar Cassius Longinus em sua leitura de Platão. Para ele, Longinus não era filósofo por um motivo: em sua abordagem a Platão, Longinus dá preferência aos aspectos estilísticos e não às ideias do filósofo grego.

Ou seja, a ampla gama de significados dados a alguns dos termos permitem uma certa confusão ou coincidência de sentidos. Porém, suas oposições são claras. Enquanto o filósofo tem como norte a discussão de ideias, o filólogo, o “amigo das palavras”, em busca do conhecimento, se provém de todo um universo cultural da época, incluindo-se muitas vezes o campo literário, universo próprio do gramático.

3) Nos séculos XV e XVI com o surgimento de renomados humanistas, a filologia é retomada com a pesquisa “real” dos antigos buscando uma explicação compreensiva dos textos. Júlio César Escalígero exerceu grande influência tanto pela disputa mantida com Erasmo de Roterdam, como por suas edições da obras Teofrasto e de Aristóteles, a publicação dos seus Poetices Libri VII (1561), de teoria literária, e o De Causis Linguae Latinae, considerada a primeira proposta de uma gramática latina específica.

        Como humanista, médico e poeta Júlio César era o modelo do sábio ou filósofo na acepção grega e latina. O termo filólogo volta a qualificar os expoentes intelectuais,  e a filologia ressurge com vigor.

        Nos séculos XV e XVI, as línguas nacionais se firmam e surgem gramáticas de todas elas, bem como dicionários e manuais. A grande preocupação é a origem das línguas, embora os estudos não tenham base científica nem filológica, um considerável número de autores, com influência da bíblia, considerava o hebraico como língua primitiva.

Como não se havia descoberto as famílias de língua indo-europeias e nem o próprio indo-europeu, os estudiosos formulavam teorias nem sempre lógicas e aceitáveis. Os que então se denominavam filólogos escreveram obras como Thesaurus Polyglottus ou o dicionário multilingüe (Londres, 1677), em que onze línguas se colocam lado a lado. Surgem os primeiros dicionários bilíngües.

        Durante a Idade Média, a única língua considerada nobre, digna de ser instrumento de arte era o latim, já o grego foi praticamente esquecido. No Renascimento, nasce o interesse pelas línguas regionais, depois nacionais e os horizontes se ampliam. Nesse período os que se denominam filólogos, são assim considerados por se dedicarem a questões relacionadas com a linguagem ou com línguas; fixa-se então o conteúdo semântico comumente atribuído ao filólogo: pesquisador da ciência da linguagem e da literatura a partir de textos. Não se exige mais que o filólogo tenha “conhecimentos amplos e variados”, há uma restrição do antigo significado do termo.

4) O método histórico-comparativo fez com que a filologia do séc XIX avançasse bastante. O aprofundamento dos estudos do sânscrito permitiu aos estudiosos traçar os rastros da família indo-europeia. Franz Bopp, considerado o fundador da gramática comparativa, foi um dos importantes nomes dessa época, ao lado de Alexander Hamilton, Humboldt e os irmãos Schlegel, por exemplo.

Ao interesse sobre as línguas nacionais, que despontava na Europa desde o XVII, se somou um eficiente método comparativo. Friedrich Diez aplicou-o às línguas românicas, em especial o provençal. O resultado desse estudo é apresentado em sua Gramática, onde mostra que o ponto de partida das línguas românicas era a língua falada pelos romanos, o latim vulgar, e não a escrita. Diez, portanto, é considerado o pai da Filologia Românica (p. 32). Estudos parecidos acontecem com outras famílias como a germânica e também em outros âmbitos. Na dialetologia românica, Graziadio Isaia Ascoli apresenta um estudo sobre o rético ou língua romanche (falada na Suíça), afirmando-o como uma língua de fato. Ascoli utiliza no seu estudo os princípios da Geografia Linguística. Este campo dos estudos da linguagem é muito importante pois, a partir dos trabalhos de Giulio Bertoni sobre dialetos extintos na Itália, criou-se o termo “substrato” para designar os vestígios deixados pela língua de um povo que desaparece na língua de outro que se lhe sobrepôs (p. 33). A onomasiologia também foi outra área muito importante surgida nesse período. Seu foco, segundo Vittorio Bertoldi, é estudar “como um objeto ou um conceito é expresso dentro de um domínio linguístico determinado”, englobando assim outras áreas como lexicologia, semântica e a geografia linguística. Ampliando a pesquisa léxica e acrescentando aos trabalhos de Ascoli, o autor Walter von Wartburg criou o termo “superstrato”. Marius Valkhoff também deixou sua contribuição ao termo, propondo a ideia de “adstrato” para designar as influências entre duas línguas justapostas ou superpostas (p. 33).

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