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É DO CINEMA AMERICANO

Por:   •  4/12/2017  •  Resenha  •  1.684 Palavras (7 Páginas)  •  355 Visualizações

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LEITURA ANALÍTICO-INTERPRETATIVA

E

RELAÇÕES ENTRE ESTE TEXTO E A FORMA CONTO

É DO CINEMA AMERICANO

Autora: Maria Valéria Rezende

Livro: Modo de APANHAR PÁSSAROS À MÃO

Aluno Gustavo A. P. Oliveira N.USP 919189

Os objetivos deste trabalho são expandir o projeto de leitura analítico-interpretativa do conto escolhido, É DO CINEMA AMERICANO,  e estabelecer as  relações entre o texto e a forma conto segundo Augusto Cortázar.

ESCOLHA DO CONTO

A escolha deste conto deveu-se ao fato de trazer à tona um assunto marcante no nosso cotidiano, o cinema e a sua presença constante dos temas, personagens, atores, música e todo o aparato das produções cinematográficas,  influenciando o nosso olhar sobre o mundo e moldando traços comportamentais de nossa sociedade.

 PERCURSO DE INTERPRETAÇÃO

Esta interepretação procura investigar diversos elementos do texto tais como: enredo, narrador, personagem, espaço e tempo. Devido ao exíguo espaço disponível para esta investigação daremos  maior atenção na análise do foco narrativo  e da personagem.

ENREDO - RESUMO

Este sofísticado conto apresenta, em apenas dois parágrafos, as peripécias e pensamentos de uma narradora personagem que está tendo seu carro surpreendentemente perseguido por outro enigmático carro   após uma festa onde ela havia ingerido álcool. Ela se acidenta,  sobrevive ao capotamento mas continua esperançosa de estar vivendo ainda sob situações que envolvam um possível enredo de  filmes americanos de ação e romance.

 

INTERPRETAÇÃO NUMA PRIMEIRA LEITURA

O enredo é narrado em primeira pessoal  e em  linguagem coloquial que descreve esta perseguição, o acidente e o inconsciente da narradora personagem que, mesmo após o acidente, ainda acredita ser possível encontrar um final feliz romântico desta experência.

 O texto inicia com um título enigmático e  com vocabulário com dezenas de palavras relacionadas ao universo automobilistico,  narrando uma perseguição, entre dois carros, muito similar aos filmes  de ação americanos. Observa-se também  referências a outros tipos de filmes como de romance e drama.

 Apesar do recorte desta realidade é possível extrair o grande caráter significativo de intensidade e tensão vivida pela personagem. O texto é bem sintético, sem recheios descritivos desnecessários, magnetiza o leitor e aguça a curiosidade para a condução do fim tranquilizante quando a personagem sobrevive.  

A primeira interpretação possível é que a personagem possui idéia fixa muito forte, de que ela acredita  que  esteja vivendo uma vida com muitos acontecimentos e enredos similares aos de filmes americanos de ação e romance. Esta fixação levará a personagem a tentar escapar do perseguidor seguindo o mesmo roteiro dos filmes, acelerando em velocidade alta. Após sobreviver ao acidente heroicamente, similar a situações de filmes, ela ainda acredita  que surgirá um lindo, atlético, artista, músico da filarmônica de Berlim e policial rodoviário  que a salvará deste acidente. Este seria o que o destino misteriosamente reservou para ela viver um grande amor  neste roteiro da vida dela que é similar ao de um romântico filme de cinema americano.

Esta primeira interpretação ainda é como uma semente e nos instiga a ler o texto novamente buscando preencher algumas lacunas. Esta curiosidade e consequentemente memorização do texto leva a uma reflexão interpretativa mais ampla e abstrata.

Ampliando a interpretação desta experiência relatada, podemos considerar que este conto apontaria para a vida humana. Nós todos  passamos por muitas peripécias e  estas, muitas vezes, se  parecem com cenas de filmes de ação ou drama e romance.

PERSONAGEM  - FOCO NARRATIVO

A narradora  personagem deste conto é uma mulher de 47 anos que durante o seu relato  faz diversas referências tanto a filmes de ação e perseguição como a filmes românticos   quando utiliza termos tais como: batendo no meu  para-choque!. É louco, mocinho e bandido, curva de cinema, happy-end,  vou sair da pista e cair na pirambeira, sem ter vivido um grande amor, coisa de cinema americano,  que paixão! Coisa de cinema e  amor! Puxa! É do cinema americano.

Ela confessa que desejava que  algo acontecesse na vida dela que fosse coisa de cinema americano.

A ambientação do espaço é feita pela personagem narradora que sabemos muito pouco sobre ela. Os acontecimentos são narrados  em primeira pessoa, num fluxo de consciência intenso que irá nos aproximar da personagem, criando uma empatia e curiosidade sobre suas sensações, preocupações, anseios e sobre o desenrolar da narrativa.

O espaço onde se encontra a narradora permite uma melhor caracterização da personalidade da personagem, Ela  está  emocionalmente perturbada devido a esta estranha perseguição pelo misterioso perseguidor que a abalroa diversas vezes. Os acontecimentos se sucedem  inicialmente numa estrada estreita e perigosa e depois  seguirão em direção a uma estrada maior. Ela decide  andar em maior velocidade mas mesmo assim não consegue se desvencilhar do perseguidor que é tão rápido quanto ela. Ela se acidenta e finalmente se encontra livre do perseguidor  após sobreviver a esta situação terrível. Todas estas peripécias  se desenvolvem  num crescente quadro de situações de perigo.

 A narradora que, mesmo reconhecendo-se alcooolizada, relata seus pensamentos agitados e desesperados. O primeiro foco narrativo é a misteriosa perseguição. O segundo está mais voltado para sua saida do carro acidentado e as reflexões sobre o futuro amoroso.  No seu desespero, durante a perseguição, ela busca algum suporte espiritual de diversas divindades diferentes:  Deus, Buda, N. Sra. Aparecida, Yemanjá e mesmo a duendes.  Ela acaba fazendo promessas que provavelmente não iria cumprir por serem inverossímeis.

O tempo utilizado na narrativa é em geral de tempo presente. Durante a perseguição ela faz reflexões sobre o passado e sugere promessas sobre o futuro.  Ela confessa suas frustrações amorosas, preocupações ligadas à solidão e à decadência da meia-idade.

A estrutura do texto é muito contínua, com frases curtas, muitas  idéias encadeadas num primeiro parágrafo muito longo, sem pular linhas,  que acaba gerando uma intensidade maior do texto e com uma certa semelhança à vivida numa perseguição.  Esta intensidade do texto  gera uma sensação de interesse do leitor e curiosidade sobre esta fuga desesperada. A construção desta tensão  culmina com  o acidente automobilístico.

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