A DESCOBERTA DA INFANCIA
Por: Eloiza Bueno • 1/10/2020 • Resenha • 858 Palavras (4 Páginas) • 397 Visualizações
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro, 2006.
Em seu texto intitulado A Descoberta da Infância, Philippe Ariès delineia sobre comportamentos e atitudes do homem em relação à criança. Para ele, a infância como etapa singular no desenvolvimento do homem passou a ser reconhecida tardiamente juntamente com a sua representação nas pinturas, literatura e inscrições fúnebres.
Para Ariés até meados do Século XII a arte medieval não se preocupava em retratar a infância. Sua hipótese é de que a infância não aparecia nos registros da arte medieval porque não era reconhecida. Um exemplo de retrato de criança no Séc. XI é uma miniatura otoniana, cujo “...tema é a cena do Evangelho em que Jesus pede que se deixe vir a ele as criancinhas...” (p. 17) aqui o artista retratou em torno de Jesus oito homenzinhos, não havia neles nenhuma característica infantil. Essa forma de retratar a criança continuou pelo século XIII. “No mundo das fórmulas românicas, e até o fim do século XIII, não existem crianças caracterizados por uma expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido.” (p.18)
Para Ariès “Partimos de um mundo de representação onde a infância é desconhecida: os historiadores da literatura (Mgr. Calvé) fizeram a mesma observação da epopéia, em que crianças-prodígio se conduziam com a bravura e a força física dos guerreiros adultos.” (p. 18) Isso sem dúvida significa que os homens do século X-XI não se detinham diante da imagem da infância, que esta não tinha para eles interesse, nem mesmo realidade. A infância era um período de transição sem muita importância e logo ultrapassado.
Segundo Ariès, é por volta do século XIII que surgem representações de criança mais próximas do sentimento que temos hoje. Um retorno a forma grega e românica de retratar o homem.
Surgiu então o anjo, representado por crianças grandes. Na arte otoniana, o anjo seria a representação de um menino grande com traços graciosos. Diferente da representação de criança como adulto em escala reduzida.
Outro tipo de criança representada era o Menino Jesus, no início como adulto em miniatura, mas seguindo para uma representação mais realista na qual o menino Jesus aparece com os braços ao redor do pescoço de sua mãe. Assim, a maternidade expressa nessa representação inspirou outras tantas nas cenas familiares da época.
Um terceiro tipo de criança retratada apareceu na fase gótica, por volta do século XIV: a criança nua. Porém, em situações religiosas era retratada com cueiros ou algum tipo de tecido, e não totalmente nua.
Decorrentes dessa visão religiosa surgiram outras tantas manifestações artísticas de crianças em diversas situações, demonstrando uma nova consciência coletiva da infância: “No grupo formado por Jesus e sua mãe, o artista sublinharia os aspectos graciosos, ternos e ingênuos da primeira infância; a criança procurando o seio da mãe ou preparando-se para beijá-la ou acariciá-la; a criança brincando com os brinquedos tradicionais da infância...” (p. 20) Aos poucos, a infância religiosa deixou de se limitar a infância de Jesus passou a aparecer outras infâncias santas: a de São João, a de São Tiago e dos filhos das mulheres santas, Maria-Zebedeu e Maria Salomé. A partir de então, a criança seria representada de diversas maneiras, a criança com sua família, a criança com seus colegas, a criança na escola.
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