A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Por: LilianM • 18/10/2015 • Resenha • 4.635 Palavras (19 Páginas) • 220 Visualizações
Aula 01: Conceito e Definição
Como primeira aula, um primeiro contato, seria interessante iniciarmos por meio de um diálogo que possa esclarecer alguns termos. Escolhemos os substantivos conceito e abrangência para contrapor a um outro substantivo que é definição. A palavra definir dá uma sensação de definitivo, que termina, que é final. A busca do saber e o processo educativo são dinâmicos. Defini-los seria engessá-los. Empobreceria a ideia de filosofia e de educação.
A palavra conceito parece-nos mais adequada para começarmos a dialogar. Ela é mais geral, em que pese ser abstrata. Contudo, nos possibilita agrupar e unificar alguns elementos. Sendo assim, a palavra filosofia nos dá a ideia de saber, não um saber qualquer, próprio do senso comum, mas um saber sistemático, rigoroso, reflexivo e crítico; não um saber com um único objeto de estudo, mas um saber dinâmico que procura em sua própria atividade energética demonstrar sua força e poder.
É um saber sistemático porque reúnem o conjunto de partes similares, princípios que regulam certa ordem de fenômenos; rigoroso, porquanto procede de modo exigente, minucioso; reflexivo, uma vez que é comunicativo, estabelece relações; crítico, dado que provoca a crise, a alteração, um ponto de transição decisivo.
Mas isto não nos impede de apresentarmos uma definição etimológica da palavra filosofia.
Etimologicamente a palavra filosofia vem do grego: filosofia (Philosophia), sendo filo (Philo) amigo, amor e sofia (Sophia) saber. Portanto, filosofia (Philosophia) é amor à sabedoria ou amigo do conhecimento.
O que sabemos até agora? Que a filosofia tem uma identidade: ela é grega; que a palavra filosofia significa amor à sabedoria; sabemos também o significado da palavra, mas não o que a filosofia é.
Talvez agora seja a ocasião de perguntarmos, conforme o filósofo alemão Martin Heidegger: Que é isto – a filosofia?
O que queremos saber quando, perguntamos o que é isto para as coisas? O que é isto, uma mesa, cadeira, caneta, lápis etc? Parece-nos que queremos saber o que as coisas são, isto é, queremos saber o Ser das coisas.
O Ser de uma coisa, qualquer coisa, é sua Essência. A essência é a natureza íntima das coisas; é aquilo que faz com que uma coisa seja o que é; o que faz com que esta coisa seja ela mesma e não outra. Exemplo: a essência da mesa é ser ela mesma, portanto a ideia de mesa, sua forma. Se a mesa é quadrada, redonda, retangular, de vidro, madeira, aço, pequena, grande etc., são acidentes, vale dizer, não a caracteriza como mesa, não é necessário para o seu ser, é contingente.
Então, a essência é a estrutura própria de uma coisa. É a estrutura da educação que, junto com a filosofia e juntamente com vocês pretendemos refletir juntos.
Aula 02: Preconceitos sobre a filosofia
Alguns de vocês podem objetar que a filosofia é difícil. Queremos dizer que há, em torno disso, certo preconceito. No dizer de Gramsci: Deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. Deve-se, portanto, demonstrar, preliminarmente, que todos os homens são “filósofos”, definindo os limites e as características desta “filosofia espontânea” peculiar a “todo o mundo”, isto é, da filosofia que está contida: 1) na própria linguagem, que é um conjunto de noções e de conceitos determinados e não, simplesmente, de palavras gramaticalmente vazias de conteúdos; 2) no senso comum e no bom-senso; 3) na religião popular e, conseqüentemente, em todo o sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ver e de agir que se manifestam naquilo que se conhece geralmente por “folclore”.
Após demonstrar que todos são filósofos, ainda que a seu modo, inconscientemente (porque, inclusive na mais simples manifestação de uma atividade intelectual qualquer, na “linguagem”, está contida uma determinada concepção do mundo), passemos ao segundo momento, ao momento da crítica e da consciência, ou seja, ao seguinte problema: é preferível “participar” de uma concepção do mundo “imposta” mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (e que pode ser a própria aldeia ou a província, pode se originar na paróquia e na “atividade intelectual” do vigário ou do velho patriarca, cuja “sabedoria” dita leis, na mulher que herdou a sabedoria das bruxas ou no pequeno intelectual avinagrado pela própria estupidez e pela impotência para a ação) ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho do próprio cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade? (Gramsci, 1987 p. 11-12).
Como vocês puderam observar pela leitura do texto de Gramsci, somos todos filósofos. Isto porque vocês, como eu, temos uma concepção de mundo. Todavia, quando no texto Gramsci nos pergunta o que é preferível, a escolha deve recair no segundo momento, o momento de reflexão crítica e da autonomia do pensar.
Com Gramsci vamos trilhar o caminho da reflexão filosófica ao alcance de todos e que, conforme Epicuro, (341-270 a. C.) filósofo do período helenístico, em sua Carta sobre a Felicidade (A Meneceu), ao enviar suas saudações ao mesmo diz: “Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito”. (Epicuro, 1997, p. 21) Filosofar sobre a educação é rejuvenescer o espírito.
Aula 03: Filosofia e Ciência
Será que a filosofia é uma ciência? Ou ela é um saber? Se é uma ciência, então que tipo de ciência? Se for um saber, então que espécie de saber?
Uma ciência, para ser ciência, tem que ter um objeto particular de estudo. O objeto particular de estudo de uma ciência é aquilo com que ela se ocupa, estuda, particularmente. Exemplo: o objeto de estudo da matemática, isto é, aquilo com que a matemática se ocupa são os números e suas relações; a biologia, a vida e suas relações; a física, a natureza etc. Por isso são chamadas de ciências particulares.
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