A Iracema Peça Teatral
Por: Mathews Fernandes • 11/3/2023 • Monografia • 1.664 Palavras (7 Páginas) • 394 Visualizações
Roteiro da peça Iracema, de José de Alencar
Narrador: Além daquela serra que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema, a virgem dos lábios de mel.
Martim: (perdido na mata)
Iracema: (se depara com Martim na mata e surpresa atira nele uma flecha. Depois, arrependida do ato, vai até Martim e quebra a flecha que o feriu)
Martim: Quebras comigo a flecha da paz?
Iracema: Quem te ensinou a linguagem de meus irmãos? De onde vens guerreiro branco?
Martim: Venho de longe, filha das florestas.
Iracema: Seja bem vindo estrangeiro, à terra tabajara.
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Narrador: A virgem Iracema leva com ela, até a tribo de seu pai, o guerreiro branco que atingiu.
Iracema: Ele veio. (aponta para Martim)
Araquém: Tupã é quem traz o hospede a cabana de Araquém.
Iracema: (sai)
Araquém e Martim: (entram na cabana, sentam-se)
Araquém: O estrangeiro é senhor na cabana de Araquém, terá guerreiros para lhe proteger, e mulheres para lhe servir.
Martim: Eu lhe agradeço o agasalho que me deste, mas pela manhã, partirei de teus campos.
Araquém: Tupã te trouxe, e ele o levará. (Araquém sai da cabana.)
Iracema: (entra na cabana, e entrega comida a Martim, e vai saindo.)
Martim: Tu me deixas?
Iracema: Estrangeiro, tens para ti as mulheres mais bonitas de minha tribo. Iracema não pode ser tua serva, é ela quem guarda o segredo da jurema e o mistério do sonho. (Iracema sai da cabana)
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Martim: (sai da cabana e aproveitando a escuridão foge)
Iracema: (percebe Martim saindo e o segue). Quem fez mal ao estrangeiro para fugir assim?
Martim: Ninguém, só o desejo de ver meus amigos. Levarei comigo a lembrança de Iracema.
Iracema: Espere o amanhã. Caubi, irmão de Iracema o guiará pela mata até o rio.
Martim: Teu hóspede espera. (Volta para cabana/sai)
Narrador: Iracema passou entre as arvores, silenciosa como uma sombra. Ela escutava o silêncio profundo da noite e aspirava as auras sutis que aflavam. Ela para. Uma sombra resvalava entre as ramas; e nas folhas crepitava o passo ligeiro. Irapuã surge das sombras.
Irapuã: (entra/vai até Iracema) Iracema!
Iracema: Anhanga turbou sem duvida o sono de Irapuã, que o trouxe perdido ao bosque da jurema, onde nenhum guerreiro penetra contra a vontade de Araquém.
Irapuã: Não foi Anhanga, mas a lembrança de Iracema, que turbou o sono do primeiro guerreiro tabajara. Irapuã desceu do seu ninho de águia para seguir na várzea a garça do rio. Chegou, e Iracema fugiu de seus olhos. As vozes da taba contaram ao ouvido do chefe que um estrangeiro era vindo a cabana de Araquém.
O coração de Irapuã, ficou tigre. Pulou de raiva. O estrangeiro estava no bosque e Iracema o acompanhava. Quero beber-lhe o sangue todo: quando o sangue correr nas veias do chefe tabajara, talvez o ame a filha de Araquém.
Iracema: Nunca Iracema daria seu seio ao guerreiro mais vil dos tabajaras. O guerreiro branco é hospede de Araquém, quem ofender o estrangeiro, ofenderá o Pajé.
Irapuã: A raiva de Irapuã só ouve agora o grito de vingança. O estrangeiro vai morrer!
Iracema: Não irá! Irapuã será punido pela mão de Iracema. Seu primeiro passo é o passo da morte. (Iracema da um golpe em Irapuã, que tenta defender, porém, falha miseravelmente. O golpe perfura Irapuã)
Irapuã: A sombra de Iracema não esconderá o estrangeiro para sempre. (Irapuã some dentre as arvores/sai)
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Martim: Iracema, está é a ultima noite que teu hospede dorme na cabana de Araquem, onde nunca viera, para teu bem. Faze que teu sono seja alegre e feliz.
Iracema: Manda; Iracema te obedece. Que pode ela para tua alegria?
Martim: A virgem de Tupã guarda os sonhos da jurema que são doce e saborosos!
Iracema: (sorri tristemente) O estrangeiro viverá para sempre à cintura da virgem branca; nunca mais seus olhos virão a filha de Araquém, e ele já quer que o sono feche suas pálpebras.
Martim: O sono é o descanso do guerreiro; e o sonho a alegria d’alma. Vai, e torna com o vinho de Tupã.
Iracema: (sai e volta com o vaso)
Martim: (bebe do vaso)
Narrador: Iracema sai, e volta com o vaso que continha o licor que fazia adormecer quem o bebesse.
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Narrador: O dia clareia. Martim acorda com Iracema ao seu lado. Iracema estava inquieta, afastou-se rapidamente, e partiu.
Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras.
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Narrador: Com a ajuda de Poti, Iracema e Martim fogem do campo dos tabajaras durante uma cerimônia dos indígenas. Quando chegam ao limite do território tabajara, começa uma discussão:
Martim: Teu hóspede já não pisa os campos dos tabajaras. É o instante de separar-te dele.
Iracema: Iracema já deixou os campos de seus pais, agora pode falar.
Martim: Que segredos guardas em teu seio, virgem formosa do sertão?
Iracema: Iracema não pode mais separar-se do estrangeiro.
Martim: Assim é preciso, filha de Araquém. Torna a cabana de teu velho pai que te espera.
Iracema: Araquém já não tem filha. Iracema te acompanhará, guerreiro branco, pois ela já é tua esposa.
Os maus espíritos da noite turbaram o espirito de Iracema. O guerreiro branco sonhava quando Tupã abandonou sua virgem.
Martim: Deus!...
Narrador: O faro da vingança guiou Caubi a sua irmã. A vista dela assanha a raiva em seu corpo. O guerreiro Caubi assalta com furor o inimigo. Iracema unida ao flanco de seu guerreiro e esposo, viu de longe Caubi e disse:
Iracema: Senhor de Iracema, ouve o rogo de sua escrava; não derrama o sangue do filho de Araquém. Se o guerreiro Caubi tem que morrer, será por esta mão e não pela sua.
Martim: Iracema matará seu irmão?
Iracema: Iracema quer que o sangue de seu irmão tinja sua mão que a tua; porque os olhos de Iracema veem a ti, e a ela não.
Caubi: (entra)
Iracema: (atira em Caubi)
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Narrador: Os franceses se aliaram aos tabajaras para combater os portugueses e os pitiguaras. Martim e Poti decidiram ir batalhar pelo bem de seu povo e suas terras. Iracema entristeceu com a partida de seu esposo. Dias depois, os dois guerreiros retornam vitoriosos à cabana de Jacaúna e enchem o coração de Iracema com a alegria que já não o possuía a dias.
O cristão começa a sentir uma imensa saudade de sua terra natal. Sabia que não podia voltar pois Iracema o acompanharia a cada passo, ele também já não podia mais deixa-la, pois ela não tinha o ninho de seu coração para abrigar-se, era uma porção da vida que lhe roubava.
Iracema sofre com a tristeza de seu marido. Seus olhos que antes se enchiam de alegria quando viam seu esposo, agora destilam lagrimas em fio.
Uma vez que o cristão ouviu dentro de sua alma o soluço de Iracema, seus olhos buscaram em torno e não a viram. Ela estava entre as moitas verdes de ubaia.
Martim: (vai até Iracema) O que a faz chorar Iracema?
Iracema: Iracema perdeu a felicidade depois que te separaste dela.
Martim: Não estou eu junto de ti?
Iracema: Teu corpo está aqui; mas a tua alma voa a terra de seus pais e busca a virgem branca que te espera.
Martim: O guerreiro branco é teu esposo; ele te pertence.
Narrador: Iracema insiste que ela é fonte do furor que enche o coração de Martim. Apesar de Martim tentar convence-la do contrario, Iracema continua a clamar que está certa e enfim diz:
Iracema: Quando teu filho deixar o seio de Iracema, ela morrerá. Então o guerreiro branco não terá mais quem o prenda na terra estrangeira.
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Narrador: Poti avista um barco inimigo chegando a terra dos pitiguaras. Todos os guerreiros da tribo se juntam e vão a batalha. Ficaram três dias fora da aldeia, estavam se preparando para a batalha. Eles saem vitoriosos de mais uma batalha, e celebram a vitória.
Guerreiros: (encenam a guerra)
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Narrador: Iracema sentindo que a sua bolsa estourou, se preparou para ter o bebê sozinha. Teve-o sozinha, na haste da palmeira. Sentiu uma dor lacerante que pouco durou pois logo pode ouvir o choro infantil.
E ao voltar para sua cabana encontra Caubi a esperando, e imediatamente saltou avante para proteger o filho. Caubi levantou-se e olhando para Iracema disse com uma voz mais triste ainda:
Iracema: (vai até Caubi, segurando o filho)
Caubi: Não foi a vingança que arrancou o guerreiro Caubi aos campos dos tabajaras; ela já perdoou. Foi a vontade de ver Iracema que aqui o trouxe.
Iracema: Então seja bem-vindo o guerreiro Caubi.
Caubi: O nascido de teu seio dorme; os olhos de Caubi gostariam de vê-lo.
Iracema: (conssente)
Caubi: (pega o filho de Iracema)
Iracema: Ainda vive Araquém sobre a terra?
Caubi: Depois que tu o deixaste, ele ficou deprimido.
Iracema: Tu lhe dirás que Iracema já morreu, para que ele se console.
Narrador: Iracema prepara uma refeição para o guerreiro, e armou uma rede para que ele se recuperasse da fadiga da viagem. Quando estava descansado Caubi partiu a pedido de sua irmã, porém, prometeu visita-la todo ano.
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Narrador: Quando voltam a aldeia, Poti e Martim encontram Iracema com o filho. Era aparente que Iracema estava com um péssimo estado de saúde, já que estava alimentando seu filho com o com leite que se formou de seu sangue. Seu filho era agora duas vezes filho de sua dor, nascido dela e tambem nutrido.
Martim e Poti: (vão até Iracema)
Iracema: (fala a Martim) Recebe o filho de teu sangue. Era tempo, meus seios já não tinham alimento para dar-lhe! (entrega a criança para Martim)
Narrador: Pousando a criança nos braços paternos, a desventurada mãe faleceu.
Poti: Enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que tu amavas. Quando o vento do mar soprar nas folhas, Iracema pensará que é tua voz que fala entre seus cabelos.
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Narrador: Martim enterra a esposa ao pé do coqueiro que amava. E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio.
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Narrador: Já havia se passado o tempo do cajueiro florescer quatro vezes desde a partida de Martim com o filho para Portugal. Agora eles retornavam à terra de tão saudosas lembranças. Martim trouxe consigo muitos outros brancos, e entre eles, inclusive um sacerdote de sua religião “para plantar a cruz na terra selvagem”. Poti foi o primeiro a receber o batismo e depois “germinou a palavra do Deus verdadeiro na terra selvagem”. “ A Jandaia cantava no olho do coqueiro; mas já não repetia o mavioso nome de Iracema. Tudo passa sobre a terra”.
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