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A Literatura Fora da Estante

Por:   •  26/8/2021  •  Artigo  •  10.768 Palavras (44 Páginas)  •  109 Visualizações

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LITERATURA FORA DA ESTANTE:[pic 1]

os critérios de indicação de leitura na escola.

        Cristiane Diello Granville[1]

RESUMO: Ao analisar diversas fundamentações teóricas acerca da leitura na escola, observa-se que muito se estuda e se discute sobre a competência leitora e pouco se fala sobre o ato de ler por prazer. Percebe-se também que a maior parte dos referenciais curriculares trata, com mais ênfase, os gêneros textuais e do desenvolvimento da habilidade e da compreensão leitora. Com o objetivo de explorar esse tema e pensar o papel da leitura literária na escola, o presente estudo buscou informações sobre como os professores trabalham com a literatura em suas salas de aula. Observou-se os indícios que mostravam a falta e/ou presença de critérios na escolha da literatura indicada e a relação desses critérios com o currículo da escola. Os principais referenciais teóricos utilizados para fundamentar este trabalho foram Parreiras (2009), Colomer (2007), Soares (2011) e Lerner (2002). Para tanto, realizou-se uma pesquisa fenomenológica, focada na observação, descrição e conhecimento dos fatos e dados. De natureza básica explicativa, teve como princípio desvelar aspectos desconhecidos em relação aos cruzamentos entre a literatura e a matriz curricular de Língua Portuguesa, de uma escola particular do município de Porto Alegre, desejando encontrar o porquê das indicações literárias realizadas pelos professores dos Ensinos Fundamental e Médio aos seus estudantes e qual espaço dedicam à leitura de fruição.

Palavras-chave: Literatura, Currículo, Leitura na Escola, Literatura de Fruição.

  1. INTRODUÇÃO

No que tange a formação do leitor literário e do professor que atua nesse contexto, poucos são os estudos que realmente fazem parte do plano curricular dos cursos de graduação, principalmente da Pedagogia. Ao analisarmos a formação inicial dos professores especialistas em Língua Portuguesa e/ou Literatura, encontramos alguns elementos mais aproximados desse objetivo.

Aprofundar o tema da escolha literária com dados mais objetivos, explorando o papel da leitura de fruição, veio para corroborar com algumas observações feitas ao longo da minha atuação profissional em escolas, onde percebi que muito se estuda e se discute sobre a importância do desenvolvimento da competência leitora e pouco se fala sobre a formação do leitor para a vida. Vê-se também que a maior parte dos referenciais curriculares trata sobre o estudo dos gêneros textuais, mas não abordam a leitura para além disso.

Para embasar o estudo, buscamos em Parreiras (2009), Colomer (2007), Soares (2011) e Lerner (2002), alguns apontamentos que apoiaram as reflexões e análises realizadas a partir da coleta de dados, acerca da leitura como habilidade, como instrumento de prática social e como fruição.  Cabe, nesse momento, marcar alguns pontos fundamentais:

  • Parreiras (2009), em Confusão de Línguas na Literatura: o que o adulto escreve, a criança lê, diferencia a literatura da manifestação literária e a conceitua como arte das palavras. Traz importantes reflexões sobre nossa postura diante de questões como: o que é literatura? Para que serve? Como a identificar?    
  • Colomer (2007), em Andar entre Livros, reflete sobre a leitura literária na escola, descrevendo “a maneira em que, tanto os livros como os docentes trabalham em conjunto para elaborar um itinerário de leitura.”
  • No artigo A Escolarização da Literatura Infantil e Juvenil, Magda Soares (2011), reflete sobre como as escolas acabam por escolarizar a maior parte da literatura e defende a necessidade de repensarmos a prática pedagógica para que essa escolarização, que é inevitável, seja pelo menos adequada.
  • Por fim, em Ler e Escrever na Escola, Lerner (2002), traz considerações sobre as tensões existentes entre os objetivos escolares e sociais da leitura e da escrita. Discute o papel do conhecimento didático na formação do professor como eixo dessa reestruturação.

Esses referenciais, a concepção dos professores a respeito do tema, mais a leitura da realidade e dos documentos norteadores do currículo da escola pesquisada, nos forneceram pistas importantes para pensar a formação de leitores desejosos de ler para além da construção de conhecimentos acadêmicos. Encontramos elementos sobre o que os estudantes têm como norte de leitura nas salas de aula e quais critérios os professores utilizam ao eleger as obras que indicam.

  1. METODOLOGIA

De natureza básica explicativa, esse estudo fenomenológico teve como princípio desvelar aspectos desconhecidos em relação aos cruzamentos entre a literatura e a matriz curricular de Língua Portuguesa, de uma escola particular do município de Porto Alegre, desejando encontrar o porquê das indicações literárias realizadas pelos professores dos Ensinos Fundamental e Médio aos seus estudantes.

A abordagem qualitativa foi utilizada, dando-se preferência por observar, descrever, conhecer fatos e dados, buscando compreender o significado que os docentes dão à literatura, à matriz curricular e às relações entre elas. Por se tratar de uma pesquisa de campo, os dados foram buscados tanto através da observação assistemática participante, de questionário e de entrevista semi-estruturada, como também através de levantamento documental e de revisão bibliográfica.  

Foram aplicados questionários em um professor de cada série/ano, do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Além disso, foi submetido à entrevista semi-estruturada, um professor de cada segmento (Anos Iniciais, Anos Finais, Ensino Médio) e a bibliotecária da escola. Como complemento, ainda se analisou as listas de indicações literárias do ano letivo de 2016 e a Matriz Curricular de Língua Portuguesa e Literatura.

  1. A LEITURA LITERÁRIA

E como fica meu imaginário se uma ilha for somente um pedaço de terra cercado de água por todos os lados, se uma ilha for acidente geográfico e não símbolo? ‘Onde os oceanos se encontram, existe uma ilha pequena...’, assim começa um conto meu, mas sem ter naufragado em tantas ilhas literárias, sem ter acompanhado passo a passo a sobrevivência de tantas personagens, sem ter aprendido que uma ilha é microcosmo, metáfora da própria vida, por que eu escolheria uma ilha para ambientar uma história de amor e rivalidade entre irmãs? A frase ‘Todo homem é uma ilha’ perderia para mim metade da sua densidade. (COLASSANTI, 2012, p. 26-27).

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