A Metamorfose Resenha Critica

Resenha do livro: KAFKA, Franz. A Metamorfose. Tradução de Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 104 p .

Responsável pela resenha:

Ana Julia Silva Soares

Universidade Federal de Uberlândia

ACEITEM A TRANSFORMAÇÃO!

Já se imaginou vivendo dentro de um pesadelo? É assim que você se sente quando lê a obra A metamorfose, uma novela escrita por Franz Kafka, publicada pela primeira vez em 1915. Kafka foi um escritor de língua alemã, autor de romances e contos, considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX. Se formou em direito, após completar sua educação foi trabalhar em uma companhia de seguros, trabalho este que lhe tomou muito tempo e o impossibilitou de dedicar-se como almejava a sua escrita.                                                        A obra literária é dividida em três partes onde é desenvolvido o enredo que têm como protagonista Gregor Samsa, um caixeiro viajante. Apresenta foco narrativo com discurso direto e indireto, tendo o escritor onisciente, que narra os fatos de acordo com a visão do protagonista.                                                                                Na primeira parte do livro é contado que numa certa manhã Gregor Samsa acorda de sonhos intranquilos e se depara com o fato de estar metamorfoseado fisicamente em um grande inseto. Ele inicialmente se sente incomodado ao lidar com sua nova aparência ao tentar sair da cama, logo conclui que não se trata de um sonho e entra em uma reflexão do quanto seu trabalho de caixeiro viajante é cansativo, mas que deve se submeter às tarefas do trabalho, pois é o provedor da casa e se agarra a esperança de que quando saldar as dívidas da família poderá se libertar do árduo trabalho. Em seguida se da conta que perdeu o primeiro trem e está atrasado para o trabalho, mas mal consegue sair da cama por conta das limitações de ser um grande inseto. Sua mãe, seu pai e sua irmã ao ver que Gregor não saiu de casa e ainda está trancado em seu quarto começam a bater na porta e indagar o porquê que ele ainda não foi trabalhar. A seguir seu patrão chega em sua casa a fim de saber o motivo dele  não ter pego o primeiro trem, e todos se esforçam para que Gregor responda as indagações e saia de seu quarto. Quando Gregor responde eles notam que sua voz está com certo ruído incomum como fundo sonoro, e decidem chamar o serralheiro para serrar a porta e o médico para ver se ele está doente. Gregor consegue com esforço abrir sozinho a porta e quando seus pais o veem ficam em estado de choque. O chefe de escritório que esta em sua casa fica aterrorizado, mas Gregor tenta contornar a situação e persuadi-lo que ainda consegue realizar com  eficiência seu trabalho, mas não obtém êxito e o chefe vai embora. Seu pai que estava ate esse momento calmo, vê o quanto a aparência de Gregor dá medo a quem o vê, então decide fazer com que Gregor volte ao seu quarto a força, é nesse contexto que ele se machuca e sangra solitariamente em seu quarto.                  Na segunda parte é contado como que a família do protagonista se reestrutura ao ver Gregor que era o provedor, o filho querido, o irmão amado, que de repente se transformou em um inseto grande e horrível. Em relação ao sustento da casa seu pai tinha uma pequena quantia guardada e volta trabalhar. É narrado que os pais de início não querem vê-lo e sua irmã fica com a tarefa de o alimentar duas vezes por dia, quando a irmã entra em seu quarto Gregor sempre se esconde debaixo do sofá para que ela não se assuste. Depois de certo tempo da metamorfose, espera que a sua irmã que o visita todos os dias já tenha se acostumado  um pouco com sua aparência física, porém um dia ela chega em seu quarto e o vê, em seguida o repulsa batendo a porta de seu quarto e saindo do local.  No decorrer do enredo é contado também sobre o sonho de sua irmã que é ser violinista. Certo dia sua irmã Grete decide tirar algumas mobílias do quarto de Gregor, para que ele tenha mais espaço e aproveitando que seu pai não esta em casa pede ajuda da mãe. A mãe ajuda e em certo momento acaba se deparando com o filho e desmaia, nesse momento Grete procura alguns frascos com algo que poderia acordar a mãe e Gregor também tenta ajudá-la, mas acaba desconcentrando sua irmã e um frasco cai, quebra  e corta seu focinho, logo em seguida seu pai chega e fica sabendo do ocorrido, seu pai lidava com Gregor apenas com medidas violentas, então Gregor põe se a fugir e nesse contexto seu pai arremessa maçãs contra o filho e uma acaba machucando-o ao penetrar em seu dorso, sua mãe depois de recomposta entra no quarto de seu filho e pede que o marido poupe a vida dele. Gregor se sente oprimido por estar naquelas condições ao ver os pais e irmã sentir medo, vergonha e nojo dele.                Na terceira parte é contado mais a fundo sobre a reestruturação familiar, se torna perceptível a forma como Grete vai crescendo na narrativa desde o início, a mãe começa a bordar para uma firma e a irmã se emprega como caixera. A situação da família se transforma ainda mais quando a casa se torna uma pousada, ao decidirem alugar quartos para outras pessoas, e nisso tudo Gregor vai ficando mais isolado retratando também alguns episódios específicos em que se machuca e adquire mais problemas visto que, com os hospédes em casa ele nunca é visto, sendo  deixado de lado  acaba deixando de se alimentar e por fim morre de inanição. Quando é constatada a morte de Gregor é como se fosse um renovo para a família, pois se sentem aliviados por se verem livres daquela situação.                                                        Normalmente em outros livros especialmente contos é normal os personagens se verem metamorfoseados em animais, mas sempre tem uma justificativa para se  entender o porque, em exemplo o sapo que vira príncipe , mas na obra de Kafka não se explica o porquê e como se deu a metamorfose, onde tal situação não é questionada  o autor escolhe narrar apenas o depois do ocorrido, aceitando a condição de metamorfose, o que causa incômodo pois sempre queremos saber os porquês das situações.                A metamorfose ocorre em vários âmbitos, é possível notar na referência da narrativa quando no início o protagonista é Gregor Samsa, depois passa a ser inseto  e acaba como objeto. A obra nos permite pensar sobre diferentes perspectivas de interpretações, fazendo-a ser genial.                                                         Colocando em foco a depressão e a solidão, a  metamorfose como depressão têm o personagem que de repente não consegue sair de casa, que se sente diferente, que não consegue mais se comunicar com as pessoas ao seu redor e a família geralmente vendo aquele  ser que não pode mas contribuir como antes tende a reagir  rejeitando-o. O personagem materializou os seus sentimentos: transformou-se no inseto que os outros realmente pensavam que ele fosse. E a situação só piorou depois de atestado o estado de inseto porque ele passou a agir como um inseto. Sem uma cura para a metamorfose, as pessoas esqueceram que debaixo daquele exoesqueleto vivia um ser humano que tinha sentimentos, sonhos, vontades e desejos inatos. Visto que tinha perdido sua própria identidade Gregor acaba escolhendo a morte como caminho mais fácil para a resolução de seus problemas, vendo-a como sua libertação.                                                Outra leitura interessante é analisar a obra colocando em foco o  período em que foi escrita sendo no contexto da primeira guerra mundial, onde começa a surgir diferenças na política europeia em relação aos judeus e outras minorias, e isso pode ser relacionado ao isolamento sofrido no livro pois essas minorias deixam de ser seus vizinhos, conhecidos e amigos para ser tabus dentro da sociedade considerados problemas que no caso dos judeus eram por fim segregados, abafados e mortos. Aos que foram á guerra é possível interpretar que antes da guerra ele era o homem que trabalhava e que provia o sustento e os caprichos da família, mas que por sequelas da guerra ele se tornou um "inválido", tendo que abandonar o trabalho e a partir disso os membros  da família dele tiveram que começar a trabalhar para suprir essa falta que ele fez no âmbito familiar.                                                                        Outra interessante visão é colocar em foco o sistema capitalista que relacionado a obra nos permite crer que a família nunca o amou como pessoa, apenas sua capacidade de produzir e lhes dar algum retorno.  E quando se tornou aquilo que talvez quisesse ser, e não o que sua família queria, entrou em um conflito interior e de busca de paz, e aos olhos da família  transformou-se em um parasita inútil e digno de morte. Revelando os valores pessoais de cada membro da sua família.                                                        A metamorfose foi escrita em 1912, em vinte dias e publicada somente após alguns anos. Ao ler as obras de Kafka é comum se sentir perdido, aflito e desconfortável e talvez seja este o objetivo do autor, nos fazer sentir a carga negativa que ele carregou em sua vida, visto que ele não teve uma vida fácil, possuía problemas de saúde e um conflituoso relacionamento familiar. Com o estudo dessa obra é possível pelo método indutivo extrair conclusões a partir da leitura vindo a amadurecer, aceitar novos pontos de vista e por fim enriquecer o conhecimento através de dúvidas geradas pela obra.

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