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A NECESSIDADE DE PRÁTICAS EDUCATIVAS EMANCIPATÓRIAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Por:   •  18/3/2021  •  Artigo  •  7.601 Palavras (31 Páginas)  •  146 Visualizações

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A NECESSIDADE DE PRÁTICAS EDUCATIVAS EMANCIPATÓRIAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Adriana Julieta Vieira

Instituto Souza

Ajvieira74@gmail.com

RESUMO:

Mesmo a educação de jovens e adultos (EJA) sendo reconhecida como direito universal de aprender, de ampliar conhecimentos e saberes vivenciados ao longo da vida, e não somente de se escolarizar, ainda tem sido vista por muitos, apenas como suplência, como reposição de escolaridade não realizada na infância e na adolescência e deixando de lado a busca por práticas educativas que visem à emancipação. Nesse contexto, o presente estudo objetiva discutir a necessidade de práticas educativas emancipatórias na Educação de Jovens e Adultos. Para tanto, emprega a revisão de literatura, realizada em livros e artigos que discutem o tema em análise. Foi visto que o campo da educação de jovens e adultos é repleto de desafios que muitas vezes se configuram como “regulações” ou “situações-limites” que na prática pedagógica cotidiana da EJA traduzem-se em obstáculos. Entretanto, apesar desse quadro desalentador, há nas múltiplas tessituras cotidianas vividas/pensadas nas escolas experiências emancipatórias em que a ampliação do conhecimento ocorre a partir do diálogo entre diferentes culturas e diferentes saberes. Do exposto conclui-se pela necessidade de recriar a prática cotidiana valorizando as pequenas soluções, os fazeres/saberes significados/significativos; transformando-a por meio de pequenas ações e mudanças, tecidas coletivamente pelos sujeitos do cotidiano escolar, sobretudo, considerando as experiências criativas e criadoras de currículos, tendo consciência das dificuldades, mas acreditando que há caminhos para fazer sempre melhor.

Palavras chave: Educação de Jovens e Adultos. Práticas Educativas. Emancipação.

1. INTRODUÇÃO

Apesar de a Educação de Jovens e Adultos (EJA) ser reconhecida como direito universal de aprender, de ampliar conhecimentos e saberes vivenciados ao longo da vida, e não somente de se escolarizar, ainda é entendida por muitos, apenas como suplência, como reposição de escolaridade não realizada na infância e na adolescência e deixando de lado a busca por práticas educativas que visem à emancipação.

Isto contraria a concepção de educação como formação humana, que pressupõe aprendizados de forma continuada, ao longo de toda a vida, entendendo que enquanto há vida, há possibilidade de formação/transformação.

A formação humana é ininterrupta e inacabada e se estende pela vida, e se faz por meio de aprendizados, de compartilhamento de experiências que ocorrem em diferentes espaços-tempo. Nesse processo, valorizam-se e legitimam-se saberes que jovens e adultos construíram nas trajetórias de vida, considerando-se a diversidade dos sujeitos e a inconclusão humana, princípio básico de qualquer ação educativa.

Portanto, a EJA dos tempos atuais, passou a reconhecer que o aprender não pode ser reduzido a uma apropriação de saberes acumulados. Aprende-se não só na escola, mas a vida inteira, sendo a educação condição essencial para a cidadania, o que leva à necessidade de discutir sobre as práticas emancipatórias na EJA.

Feitas estas considerações iniciais, o presente estudo objetiva discutir a necessidade de práticas educativas emancipatórias na Educação de Jovens e Adultos.

Tendo em vista que a EJA é um campo marcado, historicamente, por ações fragmentadas, caracterizadas mais pelas ausências e por aspectos negativos que reforçam ainda mais a marginalidade dessa modalidade de ensino, do que por aspectos positivos, a dimensão emancipatória de muitas práticas educativas desenvolvidas junto a esses sujeitos com histórico de direitos negados mostra-se importante para pensar os currículos da EJA.

Como metodologia, o estudo emprega a revisão de literatura, realizada em livros e artigos que discutem o tema em análise.

2 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A Educação de Jovens e Adultos, no Brasil, e seus marcos teóricos seguiram a trajetória das diversas interpretações nos moldes referidos, mas assume diferentes configurações em cada período histórico. Considerando a abordagem de diversos autores (DI PIERRO, 2005; ARROYO, 2007; PAIVA, 2009), encontra-se indicações de que a EJA é permeada por diversas concepções, entendida de forma generalizada como uma gama de atividades desenvolvidas tanto por organizações não governamentais e movimentos sociais, quanto por organizações ligadas às diversas esferas de governo, junto às camadas populares.

Mesmo sofrendo modificações e variações, as concepções que lhes são subjacentes caracterizam-se principalmente pela amplitude e ambiguidade. Para Brandão (1990), a ambiguidade da Educação de Jovens e Adultos é tão forte que, geralmente, definem-na pelo que não é: como educação assistemática, não formal, extraescolar. Essas definições buscam reforçar a identidade da EJA, afirmando a diferenciação institucional, programática e pedagógica em relação à escola.

Entretanto, ao se tentar diferenciá-la radicalmente termina-se afirmando-a como uma educação que existe para suprir carências, como remediadora ou complementar de outras atividades, como uma educação à margem do sistema educativo. Concordando com Brandão, Paiva (2006) entende que a confusão dos nomes vinculados às práticas de EJA não são inocentes, trazem imbricados sentidos e significados de fortes marcas ideológicas. A autora afirma que, historicamente, a educação destinada a jovens e adultos vem assumindo concepções e práticas bastante diferenciadas, porém, o enfoque da escolarização é uma presença marcante na sua configuração.

Da visão muito corrente de que ela se faz pra recuperar o tempo perdido daqueles que não aprenderam a ler e escrever; passando pelo resgate da dívida social; até chegar à concepção de direito de educação para todos, da presente década, e do aprender por toda vida, as enunciações variam, deixando, no entanto, no imaginário social, a sua marca mais forte ligada à volta à escola, para fazer, no tempo presente, o que não foi feito no tempo da infância (PAIVA, 2006, p. 27).

Todavia essa pluralidade conceitual não ocorre de modo linear e nem as suas práticas se sucedem de forma ordenada e definitiva. Há variações segundo as condições socioeconômicas de cada país. Onde o direito à educação fundamental está garantido, a EJA apresenta uma característica forte de educação que acontece ao longo da vida, sendo voltada para o aperfeiçoamento profissional, para a atualização de conhecimentos, para o enriquecimento cultural. Nessa perspectiva, a EJA é conceituada como parte integrante de um processo educativo contínuo, ou uma atividade que acontece ao longo da vida e em todos os processos de aprendizagem. Para Paiva (2006), a concepção de educação permanente, explorada nos anos de 1970, voltou à cena nos últimos anos, reconceitualizada “ante a necessidade de pensar desenvolvimento e educação, cidadania e produção da existência pelo trabalho, conhecimento e cultura, diversidade e unidade” (PAIVA, 2006, p. 520-521).

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