A produção sobre literatura infantil no GPHELLB – Grupo de Pesquisa História do ensino de língua e literatura no Brasil (1994-2014).
Por: Laís Cassimiro • 8/7/2020 • Artigo • 1.812 Palavras (8 Páginas) • 299 Visualizações
LAÍS SILVA CASSIMIRO DOS SANTOS
RESENHAS CRÍTICAS
Resenhas críticas apresentadas no Seminário de Estudos Avançados - SEA: Metodologias de Investigação e Análise documental na pesquisa em História da Educação, ministrado pelo Drº. Fernando Rodrigues de Oliveira, do Programa de Pós Graduação em Educação, da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade Federal de São Paulo, campus de Guarulhos.
Guarulhos – SP
30 de março de 2020
CAMARGO, Marilena A. Jorge Guedes de. Coisas velhas: um percurso de investigação sobre cultura escolar (1928-1958). São Paulo: Editora Unesp, 2000.
Esse livro é resultante de tese de doutorado, trata-se de uma pesquisa histórica e documental, com o objetivo de investigar a cultura escolar do Instituto Joaquim de Ribeiro, mediante a análise de cadernos, diários, álbuns de recordações, livros, jornais e entrevistas com ex-alunos e ex-professores. Das fontes utilizadas a autora destaca a conservação dos álbuns de recordações pelas mulheres tanto quanto pelos homens e também evidência que para a realização das entrevistas não havia um questionário específico.
No capítulo I, intitulado “Suave tempo passado” Camargo, dedica-se a configurar o Instituto “Joaquim Ribeiro” através da análise de normas regimentais, descrevendo a rotina de estudos, higiene e lazer dos internos, as disciplinas que eram ministradas e o perfil dos professores. Neste capitulo a autora faz uma “linha do tempo” do caminho percorrido na história do Instituto “Joaquim Ribeiro” até conseguir tornar-se Ginásio Municipal, Escola Estadual e Escola Normal, período compreendido entre 1931 até 1947. Em 1957, o Colégio Estadual e Escola Normal foram transformados em Instituto da Educação. Ainda nesse capítulo a autora observa através da análise das escrituras dos álbuns de memória que as expressões patriotas como: ”amor a Pátria; “terra amada” e etc eram sempre presentes nas páginas iniciais, já no fim de 1950:
(...) O foro da intimidade e do segredo vai sendo abandonado. Em seu lugar uma nova sociabilidade se instaura, fundada em novos valores: “ser forte”, “lutar”, sacrificar-se”, “vencer na vida” de modo a satisfazer as “grandes aspirações de luta da mulher na sociedade”. (CAMARGO, 2000. p.91)
O capítulo II, intitulado “Fragmentos históricos”, é marcado pela análise dos cadernos, “entendendo que no caderno estão representadas práticas de ensino organizadas segundo modelos pedagógicos” (p.93). Sobre estes, pontua-se que são cadernos que foram mantidos por mais de sessenta anos nas residências de ex-alunos, na sua maioria mulheres, dentre os temas das disciplinas, a autora optou por selecionar os cadernos de Sociologia, pois são nestes que mais se explicita o papel moralizador do ensino do Joaquim Ribeiro:
São principalmente cadernos do curso Normal, mas também aparece no ginásio o caderno de Investigação social. Selecionei também os cadernos de Desenho, Música, Trabalhos Manuais e Economia Doméstica do curso Normal.(...) Os cadernos de Trabalhos Manuais e Economia Doméstica são basicamente femininos, realçando conteúdos específicos de educação doméstica e higiene, destinados à formação da dona-de-casa e da mãe de família.(CAMARGO, 2000. p.98)
A autora questiona ainda sobre os métodos de ensino, criando dentro desse capítulo um subtítulo: “Aprende-se a ensinar? Ensina-se a aprender?” verificando como os conteúdos das disciplinas eram dispostos nos cadernos e quais eram os métodos de avaliação. Contatou que, no fim da década de 1950 o método que imperava eram as chamadas orais e as sabatinas escritas, para obter notas, “realizando muitas vezes sem prévio conhecimento da classe” (p.102). Para preparar-se para as sabatinas do curso Normal “a aluna fazia dissertações procurando seguir preceitos da Escola Nova.” (p.104). Nos registros dos cadernos Escola Nova se configura como “um grande movimento renovador e profundo que se processou no campo da educação” Ainda observando os cadernos a autora conclui: “fica-me clara a maneira pela qual compunham representações da sociedade com inegável função disciplinadora” (p.121)
No capítulo III, intitulado “O equilíbrio e o desequilíbrio das palavras” a autora empenha-se na descrição dos jornais dos estudantes, que são eles: O Ribeirense, A Tesoura, A Mocidade e O Normalista. “O Ribeirense” foi o primeiro e o último jornal a circular no período de 1929 a 1958, também foi o único jornal dos estudantes que circulou em meio às mudanças econômicas, política e cultural que o país vivenciou após a Revolução de 30. O jornal Ribeirense tinha um perfil moralizador e era destinado para os alunos e os professores. O jornal “A Tesoura” indica os mesmos valores cívicos e morais que “O Ribeirense”, no entanto, com o humor que não havia no Ribeirense, ele estruturava a vida do estudante independente. Já os artigos do jornal “A Mocidade” “faz denúncias, é moralizador, pois apresenta preceitos morais nas acusações declaradas“ (p.192). “O Normalista” era escrito pelos alunos que cursavam o ensino Normal e para os professores que ministravam as aulas nele. A autora observou e concluiu que “no tocante aos artigos de conotação pedagógica, pode-se verificar a evidência de uma tendência da educação, a qual constituía o educador como responsável pelo desenvolvimento da criança. (...)” (p.200), pontua ainda que:
Os quatro jornais possuem tom informativo, quando os alunos lhes imprimem papel mais técnico e burocrático. Nessa função, o jornal está ligado diretamente ao programa do Instituto, registrando os conhecimentos relativos à ciência e as atividades para uso dos alunos. (CAMARGO, 2000, p.210)
Assim como a própria autora coloca em suas considerações finais “que o principal mérito desse trabalho é ter se utilizado de fontes pouco exploradas em História da Educação” (p.228) Camargo (2000) comprova sua tese de que as “coisas velhas” investigadas com a devida atenção revelam a história de determinado objeto de estudo. Quando autora dedica-se na análise dos materiais que configuravam o Ribeiro como instituto educacional, compreende especificamente como os conteúdos produzidos pelos alunos e professores nos jornais, as práticas educacionais e a metodologia utilizada estavam intimamente entrelaçadas com a política regente.
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