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CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM EM ESTUDANTES DE PEDAGOGIA

Por:   •  18/6/2015  •  Artigo  •  7.019 Palavras (29 Páginas)  •  193 Visualizações

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CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM EM ESTUDANTES DE PEDAGOGIA achados e desdobramentos

Géssica Fabiely Fonseca[1]

Rita de Cássia Barbosa Paiva Magalhães

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Resumo

A formação do Pedagogo por seu caráter interdisciplinar exige – de um lado - o estudo de conteúdos curriculares provenientes da psicologia; por outro lado, as relações entre “psicologia” e “educação” as quais nem sempre marcadas por trocas recíprocas e amistosas. Os pedagogos vivenciam cotidianamente processos de ensino e de aprendizagem em sala de aula. O presente artigo objetiva analisar concepções de aprendizagem em um grupo de 40 pedagogos em formação. Foi aplicado um questionário com 40 estudantes do curso de licenciatura em pedagogia de uma universidade nordestina e realizada análise dos programas das disciplinas de psicologia educacional cursados pelos sujeitos. Os dados foram tratados com análise de conteúdo. A pesquisa empírica mostra que o conceito de aprendizagem dos participantes da investigação está fundamentado na perspectiva de Vygotsky e, principalmente, na de Piaget. Os sujeitos utilizaram palavras como interação ativa, sujeito-meio, processo contínuo, meio físico, social e cultural e tentam articular aprendizagem e desenvolvimento. Isto evidencia o acesso à saberes da área de psicologia da educação nos sujeitos da pesquisa, que enfatizam a aprendizagem numa perspectiva interacionista. Contudo os sujeitos não utilizaram situações práticas ou experiências escolares para justificarem a concepção de aprendizagem escolhida. Podemos inferir a necessidade da articulação entre psicologia e práticas pedagógicas. Esses dados explicitam a relevância das disciplinas do núcleo dos fundamentos da educação e apresentam a necessidade de uma maior articulação entre as disciplinas pedagógicas visando ampliar o conhecimento dos pedagogos acerca dos processos de aprendizagem desenvolvidos na escola.

Palavras-chave: Aprendizagem; pedagogos; psicologia da educação

O início de um debate

No Brasil, no âmbito da educação básica os pedagogos (docentes) são os profissionais responsáveis pela organização dos anos iniciais da educação básica e podem ser considerados mediadores das aprendizagens escolares. Trata-se, pois, de um profissional cuja formação é atravessada pelas discussões sobre as relações entre ensinar- aprender e suas repercussões no cotidiano escolar.  Compreendemos que as “concepções de aprendizagem” subjazem o entendimento do conceito de ensinar; ambos conceitos basilares para a organização do currículo da escola.

Com relação ao ensino, este se constitui enquanto ato educativo repleto de intencionalidade, ou seja, diz respeito a seleção de finalidades, conhecimento dos sujeitos que serão ensinados. Contudo ensinar muitas vezes não implica em um ato automático do aprender de forma direta: “a ação de ensinar é, sobretudo uma intenção e indica que na parte das vezes há um longo caminho entre o propósito e sua realização” (CASTRO, 2001, p.15).

No que diz respeito à aprendizagem é fundamental ao pedagogo o acesso a ferramentas para compreensão de processos desenvolvidos pelo aprendiz (estudante). Soma-se a isso o fato de grande parte das atividades humanas está relacionada ao ato de aprender e os conteúdos escolares são apenas uma parte das aprendizagens possíveis no decorrer da vida. Assim, o ato de aprender invade nossas vidas cotidianas e acontecem em situações informais ou formalizadas (institucionalizadas). Contudo, pontuamos a importância da escola como espaço, socialmente construído, para o ensino de conceitos, habilidades e atitudes valorizadas pela sociedade em determinado tempo histórico.

No âmbito do ensino da psicologia para pedagogos parece-nos oportuno considerar a complexidade da relação entre subjetividade, experiência social, contexto político-econômico e os processos de escolarização. Ressaltamos, ainda, que o acesso à teorias e discussões sobre aprendizagem no curso de pedagogia ocorre a partir dos componentes curriculares da área de psicologia que podem auxiliar o pedagogo a desenvolver conhecimentos e habilidades que possibilitem a construção de seus saberes-fazeres focados nas necessidades e desafios que o ensino demandam. Trata-se do que Raposo (2006, p. 6) denomina de “capacidade de investigar a própria atividade, para, a partir dela, constituir e transformar os seus saberes-fazeres docentes, num processo contínuo de construção de sua identidade [...]”. Neste sentido, não se trata de um ensino de psicologia da aprendizagem e desenvolvimento humanos pautado apenas em conteúdos conceituais, mas na articulação entre tais conhecimentos e a prática pedagógica.

Com base nestas ponderações iniciais o objetivo desse artigo é analisar concepções de aprendizagem apresentadas por graduandos em pedagogia de determinada universidade nordestina. Esse trabalho pretende colaborar nas discussões sobre capacidades e habilidades deste profissional para atuar na perspectiva da aprendizagem discente em um mundo em constante transformação. Essa investigação pode contribuir ainda, para a reflexão sobre o papel da formação inicial de pedagogos comprometidos com a construção de uma escola de qualidade para todos.

Após estas palavras introdutórias na “Psicologia e formação do pedagogo” explicitaremos as possíveis relações entre aprendizagem e formação docente pontuando as atuais demandas da Pedagogia. Posteriormente apontamos os caminhos metodológicos utilizados nessa investigação, a análise dos resultados da pesquisa e as considerações finais acerca da temática em estudo.

Psicologia e formação do pedagogo

No século XX o ideário pedagógico brasileiro oscilou, prioritariamente, entre duas tendências, a tradicional e a renovada. A perspectiva tradicional privilegia a dimensão teórica e o papel do professor como o detentor dos conhecimentos valorizados socialmente e, portanto, o responsável pela instrução dos alunos a partir da seleção de métodos de ensino facilitadores dessa instrução. Nessa tendência os conhecimentos pedagógicos direcionam-se no sentido da fundamentação teórica desse professor e suas escolhas metodológicas como o centro do processo educativo. A perspectiva renovada privilegia processos de aprendizagem e o papel primordial de “quem aprende” (no caso, o aluno). Os conhecimentos pedagógicos privilegiam a compreensão de processos subjetivos, assim o foco do processo é o papel do aluno e a capacidade do professor de potencializar as aprendizagens discentes através da dimensão prática dos conteúdos escolares. Portanto, o conhecimento pedagógico nessa perspectiva prioriza os diferentes caminhos das aprendizagens dos estudantes, em detrimento de uma perspectiva conteudista (SAVIANI, 2007).

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