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ENTENDENDO O TERREIRO DE CANDOBLÉ COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO IDENTITÁRIA

Por:   •  7/12/2015  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.276 Palavras (10 Páginas)  •  232 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACED – FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
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EDUCAÇÃO E IDENTIDADE CULTURAL

CAMILA ANDRADE

FÁBIO FERNANDES

JAQUELINE SOUZA

TAÍS MONTEIRO

TAÍSA NONATO

ENTENDENDO O TERREIRO DE CANDOBLÉ COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO IDENTITÁRIA

Salvador

2015

CAMILA ANDRADE

FÁBIO FERNANDES

JAQUELINE SOUZA

TAÍS MONTEIRO

TAÍSA NONATO

ENTENDENDO O TERREIRO DE CANDOBLÉ COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO IDENTITÁRIA

Trabalho realizado como requisito parcial para a aprovação na disciplina EDC 248 - Educação e Identidade Cultural, ministrada pela professora Ana Kátia dos Santos.

Salvador

2015

Através do processo conhecido como Diáspora Negra, os africanos chegaram ao Brasil para serem escravizados. Seres humanos produtores de cultura, com religiões específicas e possuindo uma compreensão de mundo completamente divergente daqueles que os escravizaram foram forçados a se adaptar a um mundo diferente. Além de serem castigados fisicamente, eram também violentados no sentido espiritual e subjetivo sofrendo um processo contínuo de desumanização. Impedidos de praticar seus cultos religiosos da forma como realizavam em suas nações tiveram que adequar as religiões de sua matriz ao catolicismo. Essa ruptura das práticas culturais e religiosas reflete na perda da identidade cultural.

Cultura significa cultivar, é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é. A cultura é parte do que somos, nela está o que regula nossa convivência e nossa comunicação em sociedade. Como forma de evitar a perda total de seus costumes e cultura, os africanos de vários países que foram escravizados se uniram para continuar praticando sua religiosidade através do sincretismo religioso, que nada mais é, que a fusão de duas ou mais religiões para a formação de uma nova. Com isso não perderam completamente a  sensação de pertencimento com as suas matrizes.  

Anos se passaram e somente no século XX, com a constituição federal de 1988, que assegura em seu artigo 5, inciso VI a liberdade de consciência e de crença, conseguiram praticar seus cultos religiosos e obter a proteção dos lugares de culto e suas liturgias. Assim, o candomblé foi oficializado como religião, retirando dela os elementos característicos da religião católica. Como a comparação de santos a orixás.

Alguns historiadores indicam que o candomblé foi trazido por escravos oriundos de países atualmente conhecidos como Nigéria e República do Benim. Os seguidores do candomblé prestam culto e adoram os orixás, que são deuses ou divindades africanas que representam as forças da Natureza. O termo candomblé, segundo Olga Cacciatore, em seu Dicionário de cultos afro-brasileiros “é o local onde se realizam as cerimônias de certos cultos afro-brasileiros mais ligados às tradições africanas”. Abrange as seguintes nações e rituais africanos: sudaneses – Jeje (Daomé, atual Benim); nagô-Yorubá compreendendo os ritos do Ketu, Ijexá (Ifé, Oyó, Benim, Nigéria); bantos – Angola e Congo. Cultuam seus orixás, inkices ou voduns (variações das nações Ketu, Angola e Jeje), todos personificados com elementos da natureza e cultuados através dela.

Assim, como produto de muita luta, foram criados os terreiros de Candomblé para se realizar os cultos aos orixás. Segundo Sodré (1988) um terreiro é uma associação litúrgica organizada (egbé) e que, por meio dessas organizações, foi transferido para o Brasil grande parte do patrimônio cultural negro-africano.  O terreiro é parte do jogo negro, como resistência político-cultural, "tanto na forma do culto mítico-religioso como no ludismo festivo" (SODRÉ, 1988, P. 122)

Os primeiros terreiros de candomblé no Brasil que se tem conhecimento surgiram na Bahia, como o Ilê Asé Iyá Nassô Oká, Casa Branca do Engenho Velho, que, segundo alguns relatos, conta quase 200 anos de fundação. Foi tombado pelo IPHAN, no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e o Ilê Asé Opó Afonjá, fundado em 1910 por Eugenia Ana dos Santos, conhecida como mãe Aninha de Xangô, Obá Byi, que foi tombado pelo IPHAN, no Livro Histórico; entre outros.

Os terreiros de candomblé desde o início de suas atividades na Bahia, no século XIX, sofreram perseguição por parte dos governos da época. Somente depois da Constituição brasileira de 1988, que garante a liberdade de credo em todo o território nacional isso deixou de acontecer, mas ainda havia segregação religiosa. Com a promulgação da lei de direito a liberdade de consciência e de crença é assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantido a proteção dos locais de culto e das suas liturgias.

O termo candomblé refere-se a todas as religiões de matriz africana no Brasil. Nele está reunido as crenças dos povos vindos de diversos lugares da África, que foram combinadas e reinventadas com características brasileiras.

O reconhecimento através do Tombamento ou Registro é uma forma de considerar o terreiro de candomblé como um lugar de memória, que representam as práticas rituais, costume e tradições religiosas. A memória consiste na cristalização da lembrança e sua transmissão. O terreiro como patrimônio material é um lugar onde são manifestados cultos e práticas rituais, que consiste em expressões de bens imateriais. Compreendidos como lócus de preservação e socialização de traços culturais esses terreiros perpetuam os saberes que se dá a partir da repetição de práticas rituais dentro deles, estas são transmitidas através da memória. É importante preservar essas práticas através da repetição para que os saberes não se percam.

Na atualidade o candomblé vem passando por fortes opressões oriundas das igrejas pentecostais e neo-pentecostais. Essas utilizam dos meios de comunicação de massa, especialmente a televisão para cometer atrocidades contra a religião do candomblé.  

No decorrer da História do Brasil, as religiões de base africana foram parte importante da identidade dos africanos e afrodescendentes e, através delas, houve a criação da resistência contra o escravismo cruel e a dominação dos europeus. Os aspectos da formação da identidade histórica e cultural da população brasileira são ligados também às religiões de matriz africana. No passado, as moradias de africanos nas cidades e no campo eram também lugares de práticas religiosas que muito contribuíram para a criação de consciências coletivas manifestadas por meio de revoltas, de ações de resistência e de libertação do povo negro. As religiões afro-brasileiras, como o candomblé, fazem parte do processo da consciência social assimilada de forma significativa por movimentos negros na atualidade, estando inseridas na consciência política existente na História da população afrodescendente.

Atualmente está sob votação na câmera legislativa um projeto de lei proposto pela deputada estadual Regina BeckerFortunati (PDT),contra o sacrifício de animais nas cerimônias umbanda e cultos afros. Para a parlamentar que luta em defesa dos animais, o sacrifício não se justifica de forma alguma, pois, a humanidade está engajada cada vez mais em defesa dos animais e do meio ambiente em sua totalidade.  Por outro lado, os religiosos afros declaram sua indignação diante da proposta de lei. Segundo os religiosos, os rituais são realizados com total respeito e gratidão ao animal sacrificado. Não há desperdício e nem poluição do meio ambiente. Todas as partes do animal sacrificado são aproveitadas. A parte da orisá é oferenda aos mesmos e as demais partes são oferecidas em banquetes aos convivas em festa e no dia-dia do templo. Em suma, os religiosos afros defendem que todas as religiões milenares têm nesse ritual sua prática constante, porém, por preconceitos aos cultos de origem africana, entre esse o candomblé, pessoas que lutam em defesa dos animais se julgam no direito de interferir nas práticas ritualísticas. Os religiosos áfricos caracterizam tal projeto como intolerância religiosa conta as práticas do culto de candomblé. Tal temática tem sido um dos maiores desafios para os religiosos afros, entre esses, os praticantes de candomblé espalhados por todo o território brasileiro.

O candomblé é considerado parte do patrimônio cultural, material e imaterial, do povo brasileiro, de tal maneira que está integrado na formação histórica que deve ser oferecida pela educação brasileira. Ao se pretender fazer uma escola democrática e inclusiva, é necessário trabalhar a parte da cultura africana e afro-brasileira que se refere ao candomblé, para quebrar os estereótipos cristalizados no senso comum que afetam implícita e explicitamente a religião e seus adeptos. Abordar o candomblé em sala de aula pode ser um ponto de partida para desconstruir velhos conceitos, mostrar a importância das religiões afro-brasileiras para a formação dos universos cultural, filosófico e religioso do país e reconhecer a identidade cultural dos afrodescendentes brasileiros.A importância de abordar o Candomblé em sala de aula resultou na lei n. 11.645, de 10 de março de 2008, que obriga, desde então, as escolas da educação básica a incluírem no currículo o estudo da História e cultura afro-brasileira e indígena. Como definido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.


SOCIEDADE CULTURAL E RELIGIOSA ILÊ AXIPÁ

Fundada em 1980 por Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi Asipá, supremo sacerdote do Culto aos Egungun, sacerdote, escritor, escultor e educador, é figura de reconhecida importância na cultura afro-brasileira e na África. Expôs suas obras em Gana, Senegal, Inglaterra, França e Nova York. No Brasil, ganhou reconhecimento após a 23ª Bienal de São Paulo, em 1996, quando recebeu uma sala exclusiva para expor suas obras. Pela Unesco, realizou pesquisas comparativas entre Brasil e África e, em 1980, fundou a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá, do culto aos ancestrais Egun, em Salvador. Era filho único de Maria Bibiana do Espírito Santo, também chamada de Mãe Senhora, uma das principais mães de santo do Ilê Axé Opô Afonjá, era casado com a antropóloga Juana Elbein dos Santos, que o definia como um “sacerdote-artista”, expressando por meio da arte sua cultura, intimamente ligada às tradições africanas.

A área de 5 mil metros quadrados, destinada ao culto religioso do candomblé, é uma mancha verde que contrasta com grandes trechos já ocupados por prédios e com a aridez da terra que provavelmente receberá novas edificações. No terreno situado na frente do terreiro, primeiro, seria construído um condomínio; depois, um complexo policial. Como o terreiro está em processo de tombamento e a lei rege que seu entorno deve ser preservado. A comunidade quer que ali seja criado o Parque das Folhas Sagradas, folhas são essenciais para a realização das obrigações religiosas do candomblé. A proposta é que o parque, além de abrigar várias espécies, torne-se um espaço para educação ambiental e ecológica que busque uma relação mais estreita com o ambiente, importante também para manter vivas as práticas religiosas,

A comunidade-terreiro reúne eguns das linhagens dos Asipa (África), os zelados pelos antigos mestres de Didi da família Theodoro Pimentel, Marcos e Arsenio respectivamente e os zelados pelos descendentes de Miguel Santana, Ojé Orepê. A primeira construção foi uma casa de taipa com a participação dos integrantes da comunidade em mutirão. A segunda foi o Ilê Egun, cujas colunas são decoradas com motivos míticos da tradição. A terceira construção foi Ilê Orixá, contendo os assentamentos dos Orixá do legado de Mestre Didi, Assogba e Bale de Xangô e de membros do Ilê Asipa. Sendo um terreiro dedicado a adoração aos ancestrais Egungun, o ilê não realiza a dinâmica ritual característica dos terreiros de Candomblé de Culto aos Orixá.

Baba Egungun ou Egun ou até mais conhecido como Egum é um ancestre (relatiavamente é um ou vários membros de nossa família que desencarnaram). Egungun é considerado orixá - ele é a única energia que dá ao homem condições de ser venerado depois de sua morte, dependendo do histórico da vida da mesma.

O culto a Egungun é altamente mágico e secreto, por isso os Olojés (pessoas que tem o poder de manipular a energia de Egungun) são respeitadíssimos. Todas as pessoas podem se beneficiar da energia de Egungun para solucionar problemas no amor, trabalho, saúde, espiritualidade, etc. O povo Yoruba acredita em reencarnação, pois Egungun está interligando vida e morte: assim que uma criança nasce, eles fazem todo um procedimento para saber o destino da criança, manipulam oráculos, ou então pedem a ajuda de babalawo que através de ifá, sabem se a criança é uma encarnação de algum antepassado. Constatando-se o fato, é feito o ritual de ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada para a comunidade com uma festa. Este ritual de ikomojade é feito dessa maneira: para o menino só depois de sete dias de vida e a menina após nove dias. O nome é muito importante para os Yoruba. Se os babalawo, ao consultarem o oráculo, constatam que a criança é uma reencarnação de um antepassado, determinam o nome de babatunde (para meninos) e iyabode (para meninas). Esses nomes são utilizados no caso de reencarnação dos avós. Existem outros nomes que são dados dependendo do que for analisado pelo oráculo, trazendo sorte ao destino da pessoa.


ANEXOS

ROTEIRO DE VISITA AO TERREIRO ILÊ ASÍPÁ

INTRODUÇÃO

OBJETIVOS

PERGUNTAS

  1. Como vcs interpretam o mundo, a partir da sua religião?
  2. o que é o terreiro pra vc?        
  3. esse terreiro foi Tombado/ Registrado como patrimônio material e imaterial? Quais os critérios utilizados para isso? Qual a importância disso? O quemudou para vcs?
  4. qual a representatividade dos terreiros de candomblé para a cultura brasileira?
  5. qual a nação predominante nesse terreiro? A sua identidade de procedência?
  6. Como é a relação dos freqüentadores do terreiro com a comunidade?
  7. Qual a sua posição diante da proposta de lei contra o sacrifício de animas nas cerimônias afro?
  8.  Recentemente os terreiros de religiões afro-brasileiras conquistaram o poder de desfrutar dos mesmos direitos concedidos à igrejas evangélicas. O que isso mudou para vocês?

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Aprova nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Brasília, 2008.

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