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Memórias sobre uma formação voltada para um cuidado promotor e potencializador de vidas.

Por:   •  11/6/2017  •  Artigo  •  7.588 Palavras (31 Páginas)  •  250 Visualizações

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EDITAL Nº 257/2014 - CAMPUS URUGUAIANA - ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL

Memorial Descritivo

Memórias sobre uma formação voltada para um cuidado promotor e potencializador de vidas.

Luana Ribeiro Borges

Inscrição: 27844

Memorial apresentado como parte integrante do concurso público para Professor do Magistério Superior do Quadro Permanente da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Rio Grande do Sul, Classe A, Professor Assistente A, para área de Enfermagem em Saúde Mental.

Uruguaiana, 2015 

Sumário

Identificação 3

1. Introdução: Memórias sobre o momento em que a minha história se entrecruza com a história da loucura. 4

2. Sobre meu percurso formativo e a construção de um cuidado promotor e potencializador de vidas. 5

3. PLANOS DE TRABALHO NA UNIPAMPA 15

3.1 PESQUISA E EXTENSÃO 15

3.2 GRADUAÇÃO 16

Referências 19

Identificação

Luana Ribeiro Borges, 33 anos, nascida em 12/12/1981 na cidade de Pelotas/RS – Brasil, filha de Mariza Ribeiro Borges.

Nome em citações bibliográficas: BORGES, L. R.; BORGES, Luana Ribeiro.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/5126432512981454

Possuo Bacharelado e Licenciatura Plena em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal de Pelotas (2008), Especialização em Saúde da Família pela Unifesp (2012) e Mestrado em Saúde Coletiva pela Unicamp (2014). Sou Pesquisadora, membro do Grupo de Pesquisa Saúde Mental e Saúde Coletiva: Interfaces, vinculado ao departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e profissional da Rede de Saúde da Prefeitura Municipal de Campinas-SP desde 2010.

Também, sou membro da Aliança Internacional de Pesquisa Universidades-Comunidades Saúde Mental e Cidadania (ARUCI-SMC), a qual reúne uma pluralidade de atores no Canada, Quebec e no Brasil envolvidos no avanço de conhecimentos, na renovação das práticas e na transformação social. Esse grupo busca garantir que as pessoas que vivem com graves problemas de saúde mental possam exercer os seus direitos e ter acesso a uma qualidade de vida na cidade.

Atualmente faço parte da equipe do Centro de Convivência e Cooperação Tear das Artes e Casa de Cultura Andorinhas-Campinas/SP. E, atuo como orientadora pedagógica do Curso de Formação de Tutores do Projeto Caminhos do Cuidado - Formação em Saúde Mental (crack, álcool e outras drogas) pelo Ministério da Saúde desde 20/09/2013.

Trabalhei como Enfermeira de Saúde da Família no Centro de Saúde Santo Antônio (2010 à 2012) e como Enfermeira do CAPS III- Novo Tempo (2012 à 2014) -Campinas/SP. E fui membro do corpo de Residentes em Saúde Mental do Grupo Hospitalar Conceição (RIS/GHC) em Porto Alegre/RS, onde atuei em CAPSad II e Internação Psiquiátrica em Hospital Geral (2009). Fiz, também, parte da Residência em Saúde Mental Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no qual atuei no CAPSII de Viamão e no Residencial Terapêutico São Pedro de Porto Alegre (2010).

1. Introdução: Memórias sobre o momento em que a minha história se entrecruza com a história da loucura.

Filha mais velha de uma prole de três, estudante de escola pública da periferia de Pelotas-RS, aos 16 anos, temas como política e saúde não emergiam nas rodas de conversa de que eu fazia parte. A expressão saúde mental ainda não existia para mim, e os poucos “doidos” que conheci estavam livres de diagnósticos em minha mente e já interagiam no mundo que eu convivia.

A primeira memória que tenho sobre como tratar os “loucos” corresponde a um fragmento na tessitura de minha história, arquivada em uma época em que eu não tinha muita clareza sobre o que isso representava. E essa foi uma realidade de longo tempo, até que me deparei com algo que apesar de nunca ter percebido, sempre estivera lá. Um muro longo e alto, pintado de branco e verde, fatidicamente localizado em frente à escola, exibia ao mundo a seguinte frase: “Aqui o homem é visto como um ser total”. Mas o que, de fato, isso significava?

Era evidente que se tratava de um serviço de saúde, afinal na cidade, o Pronto Socorro também era pintado de verde e branco, e era possível flagrar trabalhadores uniformizados e, algumas vezes, ambulâncias adentrando ao espaço. Mas o que mais me intrigava era não ver as pessoas, os pacientes, indo e vindo como em outros espaços de tratamento. Além disso, havia dias que nada acontecia ao alcance dos meus olhos, ninguém entrava, ninguém saia e eu pensava.

Não demorou muito para eu descobrir que se tratava de um Hospital Psiquiátrico, ou como diziam os moradores do entorno “o lugar dos loucos”, o Sanatório. Histórias eram contadas sobre esse lugar e as narrativas estavam, quase sempre, carregadas de medo ou piedade, ironia ou dor. Descreviam indigentes, hediondos, sem consciência e violentos. Essas memorias produziram em mim a caricatura do homem selvagem, incapaz de cuidar de si. O que me levou a pensar que algumas pessoas nunca saíram ou sairiam de lá, e que, talvez, isso fosse melhor para elas e para nós.

Aos poucos fui percebendo que embora o tempo passasse, ali, entre os muros do manicômio, pouco acontecia, ou, pelo menos assim eu acreditava. Foi então, que surgiu um questionamento que me acompanharia por anos, e seria foco de minhas atenções até hoje. Como um lugar excludente é capaz de enxergar o homem em sua totalidade? Existiria algo a ser feito para que essas pessoas pudessem ter um destino diferente?

Esse muro e as histórias que ocorriam por de trás dele estiveram ativos em mim até 2000, quando conclui o ensino médio, e a vista da muralha verde e branca, que nos separava da loucura, saiu temporariamente de meu campo de visão diário. E, embora eu estivesse alienada das discussões em âmbito nacional e internacional nesta época, me encontrava prestes a despertar para algo que já incendiava os palcos de debate da Saúde

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