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O Ambientalista Científico

Por:   •  25/9/2016  •  Resenha  •  2.290 Palavras (10 Páginas)  •  360 Visualizações

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RESENHA

Autor: Eduardo Luiz Santos Cabette, Professor de Direito Penal e Processo Penal na Unisal e Membro do Grupo de Pesquisa de Bioética e Biodireito da Unisal – Lorena/SP.

O AMBIENTALISTA CÉTICO

LOMBORG, Bjorn. O Ambientalista Cético. 2ª ed. Trad. Ivo Korytowski e Ana Beatriz Rodrigues. Rio de Janeiro, Elsevier, 2002, 541 p.

        Bjorn Lomborg é catedrático adjunto de estatística na cadeira de Ciências Políticas da Universidade de  Aarthus, na Dinamarca. É também articulista internacional, contribuindo para diversas revistas especializadas nas áreas de Teoria dos Jogos e Simulações de Computador.

        A obra sob comento é produto atual de pesquisa do autor na área ambiental. Trata-se de uma crítica a diversas convicções referentes ao estado do meio ambiente mundial e suas tendências a médio e longo prazo. Variados temas são abordados sob uma nova ótica que procurar afastar o alarmismo e o catastrofismo normalmente associado às teses ambientalistas. A base de toda a argumentação de Lomborg para confrontar as indicações e previsões em voga no campo ecológico, apontando para um esgotamento das reservas e um colapso dos ecossistemas que garantem a sustentação da vida no planeta, é a análise estatística com fundamento em dados confiáveis e submetidos a um estudo pormenorizado que não se atenha somente aos números absolutos, mas leve em consideração fatores históricos, técnicos, sociológicos, econômicos etc.

Embora admitindo que as estatísticas podem ser enganosas, afirma que é através delas que se pode fazer uma descrição  “cientificamente válida do mundo”, possibilitando conclusões baseadas em dados concretos e não em meras previsões intuitivas. Os dados estatísticos são analisados por Lomborg de forma crítica, de modo a evitar sua aceitação sem uma profunda reflexão contextual, nos moldes acima descritos.

A obra é dividida em seis partes, nas quais são tratados assuntos referentes às mais atuais e polêmicas questões ecológicas.

A Parte I, intitulada de “A Ladainha”, procura demonstrar que muitas das idéias hoje aceitas praticamente como indiscutíveis acerca das questões ambientais são fruto de ilusões, prognósticos equivocados, previsões frustradas e dados que não apresentam consistência científica e até contrariam as estatísticas oficiais. Tais “mitos”, que não têm sustentação científica, seriam contraproducentes para o bem – estar humano e a própria conservação ambiental. A orientação das decisões a serem tomadas nesse campo estaria viciada, levando a ações e omissões que são improdutivas ou até prejudiciais, inobstante suas “boas intenções”.

A Parte II trata do “Bem – estar do ser humano”, indo em direção contrária às alegações de que a qualidade de vida do homem vem decaindo com o desenvolvimento tecnológico a partir da era industrial. O autor apresenta dados estatísticos que apontam uma melhoria sensível da qualidade de vida humana ao longo dos séculos, propiciada justamente pelos desenvolvimentos tecnológicos que ensejaram mais saúde, segurança, conforto, alimentação farta e variada, dentre outros benefícios. A sociedade contemporânea, segundo o autor, não produziu queda da qualidade de vida humana, mas bem ao contrário, propicia o vivenciar de uma prosperidade sem precedentes.

Na Parte III procede a uma continuação do item anterior, agora  avaliando as reais possibilidades de que essa prosperidade  continue e até mesmo se acentue com o passar do tempo. Sua conclusão, que abarca diversas áreas do interesse humano (produção de alimentos, florestas, fontes de energia, recursos naturais e água), é a de que o progresso econômico e tecnológico pode propiciar um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, bem como o desenvolvimento de novas tecnologias mais limpas e baratas. Além disso, com base em informes estatísticos acerca das reservas do planeta, conclui que não há um efetivo perigo de esgotamento iminente.

Na Parte IV aborda a questão da Poluição. Afirma que nos países desenvolvidos a poluição, em suas diversas vertentes, vem decaindo ao longo dos anos, isso em face do desenvolvimento tecnológico que possibilita a utilização de técnicas menos poluentes. Quanto aos países em desenvolvimento confirma o fato do aumento dos índices de poluição, mas conclui que isso não seria um dado preocupante, pois que a tendência seria um decréscimo à medida em que tais países forem adquirindo uma melhor condição financeira e tecnológica, nos moldes do que se operou com os atuais países ricos. Na visão de Lomborg, muito mais do que as atividades industriais, seria a pobreza a grande causadora do aumento dos índices de poluição, ao passo que o desenvolvimento econômico, aliado ao tecnológico pode ensejar uma melhora efetiva nos processos produtivos sob o aspecto ambiental. Quanto ao problema da chuva ácida, apresenta informes que demonstrariam uma supervalorização do fenômeno, inclusive no que tange aos danos a formações vegetais. Seguindo na tendência de apontar exageros em certos pontos ligados à questão ambiental e subestimação de questões realmente relevantes, apresenta a “poluição atmosférica em recintos fechados” como um efetivo problema a ser combatido. Afirma que “a poluição em recintos fechados na verdade constitui uma ameaça muito maior à saúde”, de forma que inclusive dados da OMS confirmariam que essa espécie de poluição seria responsável por 14 vezes mais mortes do que a poluição ao ar livre, sendo um dos grandes problemas aquele referente aos chamados “fumantes passivos”. No que se refere ao suposto crescimento das alergias e asma, ocasionado pela vida moderna, afirma que os dados estatísticos indicam que as causas estariam muito mais ligadas aos ambientes internos das residências e locais de trabalho, do que à poluição atmosférica. Inclusive nota-se que os países industrializados costumam apresentar índices mais baixos desses problemas. A questão da poluição das águas (doces e salgadas) também seria outro caso de superestimação, que não levaria em conta inclusive a capacidade de recuperação dos oceanos e rios. O efeito dos fertilizantes sobre a saúde humana também é apontado como um mito, de modo que sua atuação prejudicial seria amplamente superada pelos benefícios produtivos que enseja. Ademais, a maior parte dos casos de danos  à saúde atribuídos aos fertilizantes não passaria de conclusões equivocadas e não lastreadas em bases científicas. Hábitos considerados absolutamente inócuos, como tomar um cafezinho ou um copo de vinho seriam estatisticamente mais arriscados quanto à probabilidade do desenvolvimento de um câncer, por exemplo, do que o consumo de alimentos produzidos com o uso de fertilizantes.

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