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O Planejamento e Currículo

Por:   •  16/6/2016  •  Artigo  •  2.815 Palavras (12 Páginas)  •  264 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Etimologicamente, Curriculum é uma palavra de origem latina que significa “corrida, lugar onde se corre” (HOUAISS, 2009), nesta corrida pelo conhecido adquirimos a nossa personalidade. Devido a esse fato, a educação a partir de seu currículo poderá “informar” ou “moldar” os alunos para certos comportamentos sociais. Assim, a partir do currículo, a escola elabora seu planejamento para intervir na realidade do aluno e na eficiência escolar. No filme que analisaremos neste artigo, percebemos o conflito da educadora com relação ao currículo exigido pela escola na qual trabalha, currículo este que tenta moldar as mulheres aos padrões machistas existentes na época retratada.

Nos estudos sobre educação, muitas são as discussões que giram em torno do conceito de currículo e das implicações deste para a prática didática. De acordo com Coll (1987), o currículo explicita o projeto “que preside as atividades educativas escolares” (COLL, 1987, p. 44). Sendo assim, o currículo constitui-se como um verdadeiro guia orientador da prática pedagógica, auxiliando o professor com informações sobre o que ensinar, quando ensinar, como ensinar e sobre que, como, quando avaliar (COLL, 1987, p. 45). Para isso, é necessário que o projeto curricular considere as reais condições do ambiente de ensino, sendo condizente com este.

Como se trata de um projeto, o currículo “não deve suplantar a iniciativa e a responsabilidade dos professores, convertendo-os em meros instrumentos de execução de um plano prévia e minuciosamente estabelecido” (COLL, 1987, p. 44). Desse modo, entendemos que o currículo não pode se configurar como uma forma fechada, que dita arbitrariamente a ação do professor na sala de aula. Esse caráter impositivo que pode ser conferido ao currículo é observado no filme O Sorriso de Monalisa , o qual retrata o trabalho da professora Katharine Watson, empenhada em modificar o currículo da disciplina História da Arte, ministrada por ela em uma escola tradicional para mulheres, na década de 50, nos Estados Unidos. Percebemos nesse filme que, a despeito das inúmeras tentativas de Katharine, tanto o corpo discente quanto o corpo docente resistiram às mudanças propostas pela professora, mudanças essas que, na opinião dela, poderiam levar as alunas a terem um modo mais amplo de enxergar a arte e a adotarem um posicionamento mais crítico com relação à sociedade. Diante do conservadorismo de seus colegas de trabalho e de suas alunas, que achavam que a mulher deveria ser educada unicamente para ser “dona de casa”, Katharine não desistiu de sua perspectiva de ensino, o que levou a escola a tentar transformar a professora naquele mero instrumento de execução citado por Coll (1987), na medida em que Katharine, para continuar a lecionar naquela escola, não poderia se desviar do currículo anteriormente proposto, devendo submeter seus planos de aula à avaliação prévia do corpo pedagógico. Katharine, então, decide rejeitar a proposta da escola, mudando-se para a Europa, não sem antes ensinar uma lição de vida a suas alunas.

1. O CURRÍCULO COMO UM ATO FORMADOR DE IDENTIDADES

O filme ilustra muito bem uma perspectiva limitada sobre o currículo escolar. Evidentemente, como O Sorriso de Monalisa retrata uma história (fictícia) ocorrida na década de 50, não poderíamos esperar uma visão acerca de currículo muito diferente da apresentada por aquela sociedade conservadora. Como mostrado pelo filme, impor a professores e alunos um currículo fechado e inflexível prejudica as situações de ensino-aprendizagem na sala de aula, uma vez que, sendo um plano, um projeto, um auxílio ao professor, “o currículo não pode contemplar os múltiplos fatores presentes em cada uma das situações particulares no qual será executado” (COLL, 1987, p. 44).

Portanto, a sociedade na qual a escola está inserida é norteador para a existência dos conteúdos na escola. Como se pode notar, no filme analisado, as alunas só aprendem o que ajudaria elas a serem ótimas donas de casa ao modo do estilo american life, não sendo exigido delas um maior aprofundamento de pensamento e de teorias para resolver os problemas sociais e científicos a sua volta. Por isso, o currículo dessas alunas serve como uma forma de preparar elas para os afazeres que uma sociedade americana conservadora exigia para as mulheres. Como podemos ver até agora, o currículo está intrinsecamente ligado ao planejamento, pois possibilita colocar os modos educativos na realidade social dos alunos, avaliando caminhos. O planejamento seria uma forma de ver se o currículo é o trâmite adequado e se está seguindo o que se deseja. Avaliando as ações e os resultados que se almeja alcançar.

No filme, podemos observar que a utilização do currículo tem como meta moldar essas moças aos costumes e para a realidade vigente da década de 50. Exigia-se, na sociedade norte-americana, que a mulher fosse bonita e soubesse realizar com desenvoltura os afazeres domésticos. Realidade que era propagandeado pelas revistas da época, grandes difusoras do american life. Segundo Tomaz Tadeu, há três visões de currículo. A primeira delas é o currículo tradicional, que segundo o estudioso, deveria conceber uma escola que funcionasse de forma semelhante a qualquer empresa comercial ou industrial. Sua ênfase estava voltada para a eficiência, produtividade, organização e desenvolvimento. O currículo, nessa visão, deve ser essencialmente técnico e a educação vista como um processo de moldagem. Tomaz Tadeu da Silva destaca a diferença da visão tradicional da visão libertária da educação de Paulo Freire:

Pode-se comparar, nesse aspecto, o método sugerido por Paulo Freire, com os métodos mais tradicionais, como o de Tyler, por exemplo. Tyler sugeria estudos sobre os aprendizes e sobre a vida ocupacional adulta bem como a opinião dos especialistas das diferentes disciplinas como fontes para o desenvolvimento de objetivos educacionais. Na perspectiva de Freire, é a própria experiência dos educandos que se torna a fonte primária de busca dos “temas significativos” ou “temas geradores” que vão constituir o “conteúdo programático” do currículo dos programas de educação de adultos. Freire não negra o papel dos especialistas que, interdisciplinarmente, devem organizar esses temas em unidades programáticas, mas o “conteúdo” é sempre resultado de uma pesquisa no universo experimental dos próprios educandos, os quais são também ativamente envolvidos nessa pesquisa (SILVA, 1999, p. 60-61).

Como salienta Tomaz Tadeu da Silva, Paulo Freire traz uma nova abordagem e frescor para as teorias pedagógicas ao compreender

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